A campanha “Lula Livre” e o impasse das forças progressistas contra esse governo

A campanha “Lula Livre” e o impasse das forças progressistas contra esse governo
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Evidente que a condenação precisa ser anulada e Lula ser solto imediatamente, depois de tudo que veio à tona pelo The Intercept nesse episódio da Vaza-Jato que considero como o principal acontecimento político do ano até agora. Evidente também que isso não significa anular todos os processos envolvendo outras pessoas, presas ou não, uma vez que cada caso é um caso. Existem processos, flagrantes, provas e contraprovas, além de investigações em curso. Existem confissões, evidências, certezas, lacunas, excessos, erros e vícios. Tudo isso em relação a uns e outros. O mantra da generalização é golpismo.

Evidente também que defender esse ponto de vista não é querer acabar com o combate à corrupção, muito menos defender a corrução em geral ou os corruptos. Só boçais ou manipuladores poderiam falar isso para continuar a defender o indefensável. Só ingênuos se orientam por imagens de tubulações de óleo jorrando cédulas de dinheiro em imagem de fundo do Jornal Nacional para aceitar a privatização da Petrobras e o desmonte do Estado brasileiro. Só ignorantes acreditam que a Petrobras está quebrada – e os manipuladores golpistas sabem que se trata de uma das maiores e mais sólidas empresas do mundo.

Entretanto, ainda não está evidente como a campanha “Lula Livre” pode galvanizar as diversas forças do campo progressista para formar uma ampla frente contra o atual governo e os movimentos que o apoiam. A conjuntura é de impasse! O lado talvez bom desse impasse é que estamos no início, mesmo considerando que campanha política para manutenção ou mudança das coisas, culminando no momento eleitoral, começa desde o início do governo – para não dizer desde a proclamação da vitória nas urnas, como foi a urdidura do golpe que derrubou Dilma Rousseff em 2016.

Que os estrategistas nos falem aí se estamos patinando e demorando para articular um novo caminho ou se ainda não é o momento. Fato é que as pesquisas e o (des)andar da carruagem do atual governo mostram que Jair Bolsonaro não tem maioria absoluta e folgada, mas também não tem rejeição total da sociedade. E esta, por sua vez, continua dividida no campo que podemos chamar de forças “democráticas”, incluindo partidos considerados de esquerda, outros liberais e outros mais ao centro, ainda que muitos, principalmente neoliberais, se apresentem escamoteando suas tendências aveludadas de neofascismo.

Faço especulações tateando dúvidas, receios e minha própria ignorância ou miopia diante do até agora incompreensível aos meus olhos. Mas também penso serem necessárias indagações, como, por exemplo: Lula livre, para entrar na disputa futura como o líder possível para aglutinar todas as forças do campo progressista (ou democrático), que incluiria Ciro Gomes? Ou isso não é possível? Lula Livre, para ajudar a articular uma reação efetiva e firme com a liderança de Ciro Gomes, ou isso não é possível?

Lula Livre como ícone de candidatura já certa para 2022 ou Lula Livre, mesmo não sendo candidato, como reação de movimentos, partidos, empresas num verdadeiro levante nacional para o restabelecimento do estado democrático de direito? E o “nebuloso” mercado, como tenderia a se comportar com a liderança de um ou de outro? Tirando Ciro e um eventual candidato do PT, algum outro teria essa potencialidade de reunir forças democráticas e progressistas, incluindo, obviamente, a esquerda? E que, evidentemente, não viesse com marolas hipócritas de “nova política” oportunista e golpista, daqueles que têm a força da fama e da celebridade?

Já se disse que não se pode deixar avançar o absurdo, o arbítrio, a boçalidade, o obscurantismo, o desmonte do Estado, que, aliás, está de vento em popa, espalhando perplexidade. Costumo dizer que morto é aquele que fica paralisado no meio do caminho. Afinal, seremos doravante os sonâmbulos do clássico romance de Hermann Broch? Ontem, enquanto corria na esteira, ouvi um jovem rapaz fazer o seguinte comentário no intervalo do seu exercício de pular cordas. Mais ou menos assim: “disciplina só com paíxão”. Ou só a partir de uma paixão. Só com paixão podemos mudar a realidade e perseverar num projeto. Só com paixão podemos treinar nossa musculatura e nosso fôlego.

Talvez esteja passando da hora de as verdadeiras forças democráticas deste país se empenharem com disciplina para a formação de uma ampla frente nacional. Uma ampla frente que expresse a paixão pelo Brasil, um Brasil acima das diferenças e divergências (que existem, sim, e são legítimas), acima das vaidades e acima de messianismos (que existem também no campo da esquerda).

Não estaria na hora de misturarmos as cores vermelhas, azul e amarela, não com sentido de contemporização (isso é impossível), mas no da sedução e esclarecimento dos incautos e desinformados? Estou rindo aqui enquanto escrevo, imaginando se essa mistura de cores não iria acabar confundindo bolsonaristas fanáticos. Nada contra a bela cor que simboliza o PT, mas confesso sentir certa indignação com o fato de a direita ter roubado as cores da bandeira brasileira. Esta e o hino nacional que sempre me emocionaram na escola e ainda emocionam antes das partidas de futebol na Copa do Mundo.

Não é a campanha “Lula livre” que está colocando forças democráticas e progressistas num impasse, mas a própria dinâmica das contradições do processo político e econômico – sobretudo, agora, com o desmascaramento da Lava Jato no processo que o impediu de concorrer nas últimas eleições e permitir a eleição de Jair Bolsonaro.

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