Qual caminho o campo progressista brasileiro deve seguir?

Há tempos venho presenciando um debate sobre pragmatismo versus purismo ideológico dentro do campo progressista brasileiro, e hoje quero explicar aqui o meu ponto de vista sobre o assunto usando de uma metáfora.
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Por Patrick Ryan – Há tempos venho presenciando um debate sobre pragmatismo versus purismo ideológico dentro do campo progressista brasileiro, e hoje quero explicar aqui o meu ponto de vista sobre o assunto usando de uma metáfora. Imagine que um amigo seu lhe telefona dizendo que está com o carro dele atolado em um local de difícil acesso e que precisa de sua ajuda para sair do atoleiro. Imagine também que você pode ir até o local do carro atolado através de duas estradas – mas claro, você deve optar por uma.

A primeira estrada é segura, bem asfaltada, porém na entrada dela, por qualquer motivo, caiu uma rocha muito pesada que impede o acesso livre ao percurso. A rocha pode ser removida mas isso demanda um grande esforço e mais de uma tentativa de removê-la do caminho.

A segunda estrada é cheia de buracos, com um percurso muito perigoso – mas não há nada que te impeça de seguir nela. Considere também que, para tirar seu amigo do atoleiro, seu carro precisa chegar lá em perfeito estado.

E então, o que você faria numa situação como essa? A resposta é simples: remova a rocha. Se você for pela estrada mais segura e em melhor estado, primeiro terá que tirar a rocha e isso demandará tempo. Você tentará uma vez, duas, três vezes, até que em um dado momento você vai conseguir um método de retirar o obstáculo que te impede de ir pelo melhor caminho. Se você optar pela segunda estrada, seu carro não terá nenhum obstáculo inicial – mas os constantes buracos danificarão ele aos poucos, e com a sua demora, serão os ladrões que chegarão lá antes e tratarão de levar as ferramentas necessárias para “ajudar” o carro de seu amigo a sair do atoleiro.

Trocando em miúdos: o carro atolado de seu amigo representa o Brasil; o buraco de lama em que ele está representa o subdesenvolvimento e o seu carro representa o projeto capaz de tirar seu amigo da lama. A rocha que está na primeira estrada é o pensamento reacionário. Sem essa rocha, o projeto pode seguir intacto pela estrada bem-asfaltada do desenvolvimento.

E as tentativas de empurrar a rocha? São as eleições.

Já a segunda estrada representa o caminho que o campo progressista vêm seguindo. Os ladrões por sua vez representam parte da elite burguesa, aliada aos políticos corruptos que avacalham e subtraem os recursos necessários ( o motor, as rodas, o acelerador, a bateria do carro…) para que o Brasil se projete para fora do subdesenvolvimento.

A buraqueira da estrada são as atitudes duvidosas que todas as Esquerdas brasileiras têm tomado e que enfraquecem o projeto ao longo dessa trajetória: as alianças controversas com quem tem convicções totalmente opostas ao Progressismo; as concessões surreais ao mercado financeiro para se ter apoio da elite rentista; o loteamento corrupto de cargos para os políticos do Centrão com o objetivo de manter a governabilidade; a colaboração nada confiável com os mandatários religiosos conservadores em troca de apoio político de seus rebanhos; e claro, a abdicação dos ideais progressistas, em cada ação dessas, com o único intuito de chegar ao poder.

A Esquerda como um todo se acomodou. Preferiu a hipocrisia de ir pelo caminho mais rápido, mesmo abdicando de tudo que acredita com o único objetivo de chegar ao poder. É necessário mudar isso. Precisamos confrontar o conservadorismo reacionário para trilharmos o caminho do desenvolvimento com plenitude. Temos que empurrar a rocha.

Não conseguimos nas eleições passadas, é verdade; mas uma hora a pedra do caminho cai, e lograremos êxito. Pelo Princípio da Inércia, onde as coisas tendem a permanecer no estado em que se encontram até que uma força oposta a ela mude isso. Enquanto não fizermos esse confrontamento, a maioria da sociedade continuará sendo enganada pelo pensamento conservador-reacionário e nós teremos de continuar abandonando as pautas progressistas para não mexer nessa ilusão que nos atravanca o progresso.

Não dá para tirar o Brasil do subdesenvolvimento se o projeto chegar ao poder comprometido e desgastado. Pelo contrário, em nosso carrinho destruído pela buraqueira, podemos até conseguir tirar a parte da frente e a do meio do carro Brasil (composta pela elite brasileira) da lama…mas a parte dos fundos (composta pela classe média, pelas minorias” sociais e pelos mais pobres) continuará no buraco, por não termos mais a força de arranque de retirá-lo de lá.

Mais importante do que chegar ao poder é conseguir por o progressismo em prática e para isso: é fundamental o enfrentamento da hipocrisia reacionária brasileira que se traveste de “moral conservadora”.

Não podemos aceitar essa hipocrisia reacionária e ser ovelha na oposição e lobo na situação. Não adianta ser progressista na oposição e ser neoliberal na situação. Não é Identidade que querem? Pois bem: Manter a Identidade da Esquerda, seguir pelo caminho progressista e enfrentar as dificuldades para não afundarmos ainda mais na lama é a essência do desenvolvimento nacional.

Há tempos venho presenciando um debate sobre pragmatismo versus purismo ideológico dentro do campo progressista brasileiro, e hoje quero explicar aqui o meu ponto de vista sobre o assunto usando de uma metáfora.

Por Patrick Ryan, com revisão textual de Suria Seixas.