RICARDO CAPPELLI: O “antitudo” da esquerda: vai funcionar?

ciro gomes
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Ciro Gomes é um dos quadros mais preparados do país. Defende com maestria um novo projeto nacional de desenvolvimento. Conhece a economia do Brasil como poucos.

Na política, faz a aposta de se posicionar como uma espécie de “antitudo” da esquerda. No programa Roda Viva alvejou sem dó nem piedade toda a Nova República e as construções politico-partidárias que nasceram a partir da redemocratização.

Esculhambou todos os partidos pelos quais passou.

Assim como Bolsonaro, trata retoricamente em pé de igualdade todos os governos anteriores. Paulo Guedes diz que a culpa do fracasso do país é da social democracia que reinou desde a saída dos militares do poder.

Ciro coloca a culpa no neoliberalismo entreguista de FHC e nos erros e ilusões do Lulopetismo corrupto. Ao atacar os dois presidentes mais populares da história recente, reeleitos sem dificuldades, dá o tom do que pensa dos demais.

Seu discurso, contundente e agressivo, é eficaz para o PDT. Ciro ressuscitou a juventude trabalhista. Uma turma inteligente, qualificada e boa de briga.

Sua ousadia demarca campo, fazendo subir poderosos muros de proteção em torno da militância. Mas a muralha que protege também pode isolar.

A história parece ter escolhido Bolsonaro, o deputado “patinho feio”, da extrema-direita, rejeitado por seus pares no Congresso, para vestir a disputada roupa de antissistema.

A economia quebrou no governo Dilma. A esquerda era o sistema. Como ser o “antitudo”, o que rejeita e abomina o sistema tendo sido governador pelo PSDB e ministro de Itamar e Lula? Como ser antissistema construindo alianças municipais com o DEM de ACM Neto?

Não se pode dizer que cavaleiros solitários estão fadados ao fracasso no Brasil. Nem parece que Ciro deseje cavalgar sozinho. Mas é difícil aglutinar em torno de si sentado numa metralhadora giratória – o risco de quem está perto ser atingido por balas perdidas é considerável.

Rompido com o PT e atirando nos liberais democráticos que sinalizam para a centro-esquerda, quem pretende atrair para seu projeto? Rodrigo Maia, do DEM, vice de Doria em São Paulo, lhe dará sustentação? O PSB garantiu apoio à sua candidatura em 2022?

Com os campos bem definidos e Bolsonaro brigando com Doria e Witzel pela direita, é possível ultrapassar o candidato petista dinamitando todas as pontes com o eleitorado lulista?

A indignação de Ciro com os absurdos que tomaram conta da cena política nacional é a de todos nós. Seu vigor e determinação inspiram os que sonham com dias melhores.

Candidato a presidente desde já atirando no sistema e colecionando brigas com adversários e aliados, terá que cavar com sua retroescavadeira um espaço político que lhe tire dos históricos 12% dos votos.

Vai funcionar?

Por Ricardo Cappelli

  1. Ciro não é o antissistema. Existe um problema psicológico do nosso tempo de tratar tudo pela ótica negativa. A negação da negação é uma afirmação. É esse caráter errático de uma ideia velha-nova que não se consegue ler com exatidão pelos críticos. Sua crítica inclusa.

    Ciro advoga o PND. Diretrizes claras de desenvolvimento do país que levam em consideração suas condições atuais, tanto econômicas quanto políticas. A única negação peremptória possível é no campo ideológico da sua economia política, por um simples fato lógica – onde é possível planejamento estatal não é possível neoliberalismo. Fora este locus tudo é contingente para o “fim mais final”. Aí está explicado suas alianças ao centro. Aí está explicado seu ataque ao PT.

    No mais gostaria de chamar atenção para a contradição sutil que é falar de isolamento no sétimo parágrafo e de alianças “erradas”no nono. Fica no ar que o problema não é o isolamento, mas o distanciamento ideológico/político de um polo estabelecido da política histórica nacional.

    Para arrematar; o fato do Ciro acabar no lugar do “antitudo” é um mero acidente, no sentido lógico do termo. A necessidade é um projeto nacional de desenvolvimento.

  2. Parabéns ao Disparada: gostaria de ver o artigo do Arthur Silva- aqui do lado – em algum portal pró PT, o Lulista. Sei que não viverei para tanto. Esquerda é uma coisa, seita é outra coisa. Vamos ver o ” líder “- o infalível- chamar para a praça, no processo eleitoral, e ver o que acontece… Nem o centrão, aliado do passado, quis conversar com ele.

  3. “Antitudo” é uma boa retórica, não um fato. Na verdade Ciro busca o caminho correto entre o Lulismo perdido e o Bolsonarismo boçal e vem trabalhando com competência para ampliar seu leque de atuação para além do conceito binário Direita/Esquerda.
    Ciro sabe que política não é religião, como preferem luliatas e bolsonaristas. Tende a construir uma alternativa possível agregando desde a centro esquerda até a centro direita. É possível. Isso foi feito no Ceará. E essa construção nos livraria em definitivo dessse conceito Fla X Flu que vem nos aniquilando desde a redemocratização.
    Já está na hora de colocar a racionalidade e o entendimento político acima daquela velha historinha do “nós” contra “eles”. Isso, nós já vimos, tende ao fracasso.

  4. Ciro terá meu voto, novamente, em 2022. Não tenho dúvida disso. Porém, a estratégia dele soa quixotesca, muitas vezes. Vociferando demais contra tudo e todos com uma legião de Sanchos Panças lhe dando cobertura.

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