RICARDO CAPPELLI: Bolsonaro no Jornal Nacional: Um show

Jair Bolsonaro no Jornal Nacional, em entrevista em 28/08/2018
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Bolsonaro deu um show no JN. Deu razão ao que ouvi outro dia de um político experiente que ocupou variados postos na República: “a nossa sorte é que ele possui poucos instrumentos para que o povo o ouça.”

Ele saiu da bancada maior e ainda mais mito para seu público. A esquerda multiculturalista que se alia à Globo nesta pauta vive numa bolha completamente isolada do povo.

Surfa na violência com uma linguagem direta e reta. Enfrenta destemido bandidos de fuzis e os poderosos da família Marinho com a mesma disposição.

Se comunica com o povão como um “Lula da direita.” Dispensa sofisticações, palavras difíceis e raciocínios complexos. Seu discurso, classificado pelos “intelectuais” como superficial e raso vai direto no coração dos problemas, mesmo que com soluções erradas.

Ignora perguntas e responde sempre o que quer. Demonstra sinceridade, força e se agarra a dois cabos eleitorais poderosíssimos: Deus e a Família.

Quem acha que o cachorro está morto pelo Tucano pode levar um susto ao ver o cão bravo cheio de penas na boca subindo a rampa do Planalto no dia primeiro de janeiro.

  1. Vou compartilhar com vocês minha intuição sobre a estratégia eleitoral do Ciro de agora em diante. Gostaria de saber o que vocês pensam.

    Até aqui a postura mais pacífica do Ciro nos debates e entrevistas recentes me pareceu ser a mais correta para se apresentar como candidato moderado e sério, modulando sua imagem precedente de destemperado, se apresentando ao público indeciso.

    Nos debates a sua estratégia foi evitar o confronto direto com os adversários, principalmente com Bolsonaro, o que frustrou a expectativa de muita gente que contava com este embate desde o início.
    A ideia foi se preservar e não se desgastar em contra-ataques prematuramente. Também pareceu haver o cálculo de seduzir uma parte menos fiel do eleitorado do Bolsonaro.

    No último debate na Rede TV, quem conseguiu ocupar o lugar natural de anti Bolsonaro foi a Marina, devido a ameaça óbvia que ele representa para as mulheres. Ela pretende crescer em cima dele justamente falando ao público feminino.

    Não sei qual pretende ser a estratégia do Ciro daqui pra frente. Se na visão dele é preferível deixar para o Alckmin a tarefa de se sujar para brigar com o Bolsonaro.
    Ciro tem buscado fazer contraposição ao Alckmin, acreditando ainda que ele seja o grande oponente a ir para o 2o turno.

    Se for esta a estratégia do Ciro, me preocupo, pode ser um jogo equivocado.

    Principalmente depois de ontem, no Jornal Nacional, Bolsonaro saiu fortalecido.
    Ele é uma personagem que tem apelo para 20% dos brasileiros. Outro personagem é o Lula, com 40%. Ambos são figuras marcantes, carismáticas ao seu modo, falam para os anseios populares, no nível mais emotivo.
    A Marina também começa a se destacar encampando o eleitorado feminino e cresce em projeção justamente por se antagonizar ao Bolsonaro.

    Ciro tem personalidade, tem carisma, tem preparo e tem projeto. Nós sabemos disso. Mas a maioria do público ainda não conhece este Ciro, não o viu.
    Sua postura morna até aqui e seu antagonismo com o Alckmin, faz com que eles sejam percebidos como iguais: candidatos polidos, técnicos e que não empolgam, só falam de números.
    Acho um absurdo que Ciro seja colocado na mesma categoria que Alckmin e Meirelles, como um tecnocrata, um político do velho sistema.
    Mas vi comentaristas de política lhe colocando justamente neste lugar. E de certa forma é o que também refletem as pesquisas pelo seu desempenho.

    Considero que Bolsonaro se tornou uma ameaça real, que inevitavelmente polarizará as eleições.
    A Marina tentará ser sua adversária, o poste de Lula também.
    Alckmin não tem apelo para brigar contra ele, e deverá ser considerado carta fora do baralho logo, a ver com a campanha na TV se isso se confirma.

    Minha intuição sugere que o Ciro desde já encampe o protagonismo de ser o candidato anti Bolsonaro, em todos os níveis. Desde seu preparo técnico quanto nos valores que defende.
    Ele não pode deixar com que os outros candidatos lhe roubem este espaço, e, para isso, ele precisa se poscionar abertamente contra e não se confraternizar com ele.
    Os adversários diretos do Ciro são a Marina e o poste do PT, que são seus adversários de fato no primeiro turno. Ciro não entrentrará em embate frontal com eles.
    Eles dividem o mesmo eleitorado, e também boa parte dos princípios e propostas políticas. É necessário convencer o eleitor que ele é o melhor entre os 3 para executar essas ideias. Mas não são adversários polarizáveis abertamente (sob o risco de perder votos de parcela do mesmo eleitorado).

    E Ciro não pode se contentar em se emparelhar com Alckmin.
    Esta postura era para uma leitura política que não considerou a força que as ideias de Bolsonaro teriam na população.
    Há 5 semanas das eleições, Bolsonaro não desidratou, não passou rídiculo como se previa. Pelo contrário, está sendo exaltado e conquistando apoio.
    Está na hora de todos levarmos a figura de Bolsonaro a sério para destruí-la.
    Ele se tornou uma ameaça que não pode ser mais ignorada pelo establishment político.

    O Ciro arrojado, de personalidade vibrante, de ideias tocantes e emotivas, tem todas as condições em fazer frente a Bolsonaro e superá-lo. Nós o conhecemos, ele existe.
    Agora ele precisa desesperadamente fazer com que o Brasil também o conheça.

    Contra seus adversários do mesmo campo político, terá que ser brando.
    Contra o Alckmin, não empolga.
    Contra o Bolsonaro é o melhor oponente para mostrar um Ciro combativo, apaixonado, que se destaque dos outros candidatos.

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