RICARDO CAPPELLI: De Mao para Bolsonaro

RICARDO CAPPELLI: De Mao para Bolsonaro
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Só se espanta com o movimento de Trump quem desconhece a história e os aspectos básicos que movem as relações internacionais. Ignorar o pedido brasileiro de entrada na OCDE foi absolutamente natural na atual conjuntura.

“Quem bate continência já está dominado, recolha-se à sua insignificância sem nos incomodar”, pensou o topetudo com seus botões.

Em plena Guerra Fria, enquanto a maior parte da esquerda mundial gritava “Yankees Go Home!”, o líder comunista Mao Tsé-Tung abria suas portas para receber o declarado anticomunista Nixon, presidente dos EUA.

A China andava preocupada com a fome de poder da União Soviética na Ásia. O exército vermelho rondava suas fronteiras ao norte. Militarmente inferior, o líder chinês condutor da temida e radical Revolução Cultural, decidiu reatar relações com Washington, para surpresa mundial.

Depois do desastre no Vietnã, interessava a Nixon sinalizar para a opinião pública norte americana uma mudança de postura do país na Ásia. Além disso, uma aliança com o Império do Meio poderia ser estratégica para segurar o ímpeto soviético na região.

Mao e os Russos se tratavam como “camaradas”, exaltavam a revolução e o marxismo, mas na hora de defender o interesse nacional, os chineses foram buscar uma aliança no lado oposto do espectro ideológico.

Em resumo: “comunistas, comunistas, negócios à parte”.

A diplomacia triangular inaugurada por Mao e Nixon perdurou com sucesso até o fim da Guerra Fria. Não levou ao corte das relações diplomáticas da China com a União Soviética, nem fez do Império do Meio um enclave do Tio Sam na Ásia.

“Não importa a cor dos gatos, desde que peguem os ratos” diria Deng Xiaoping. Em política externa, a ideologia é a fumaça, a dança teatral. O que conta mesmo são os interesses nacionais pragmáticos.

Ninguém faz gesto por amor, afinidade ideológica ou respeito ao admirador subserviente. Posição se conquista com força, altivez, independência e estratégia.

Na arena internacional, a fanfarra não tem vez.

Por Ricardo Cappelli