RICARDO CAPPELLI: Uma longa travessia

Os presidentes dos três Poderes se reuniram neste sábado (16), na casa do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, para tratar da estratégia de votação da reforma da Previdência e reforçar a ideia de integração e respeito entre Executivo, Legislativo e Judiciário para avançar nos temas que tramitam no Congresso Nacional.
Os presidentes da República, Jair Bolsonaro; do Senado, Davi Alcolumbre; da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia; e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli
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As últimas pesquisas fornecem algumas pistas de para onde podemos estar indo. Os militares possuem o maior nível de confiança da população (66%).  O Senado (17%), a Câmara (11%) e os partidos (7%) são as instituições de menor prestígio.

Sérgio Moro (59%) segue sendo o político mais popular do Brasil. Bolsonaro encolheu. Apesar disto, o presidente representa a nova política para 61%. A maioria considera que ele deve endurecer ou manter como está sua relação com o Congresso.

Metade da população considera que os governos Lula e Dilma são os responsáveis pela crise.

A democracia é uma invenção humana, uma ficção, uma construção social dos sapiens, espécie dotada da capacidade de acreditar e cooperar em torno daquilo que não existe materialmente.

Para a grande maioria do povo, ela é apenas meio para a melhoria de sua condição de vida. Seu João e Dona Maria participam da democracia apenas de dois em dois anos quando, obrigados, votam.

A democracia, na sua plenitude, é exercida por uma elite. Como dizia Churchill, “é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”. Mas, e se a democracia não funcionar?

O Brasil passou por três presidentes nos últimos quatro anos. Aguentaria o quarto, numa eventual queda de Bolsonaro? Ou seria mais um fracasso da alternativa democrática?

Roma foi uma República exitosa durante séculos, até que uma guerra pelo poder dividiu os romanos. A disputa entre Júlio César e Pompeu Magno gerou um vácuo de poder. O caos administrativo teve como conseqüência fome e desesperança.

Quando César voltou a Roma vitorioso e colocou ordem na casa, saciando a fome do povo, sentiu que poderia governar sozinho. O Senado, manchado por denúncias de corrupção e inoperância, foi obrigado a se dobrar diante do autoproclamado ditador.

O povo apoiou César. Ele manteve o Senado, esvaziando seus poderes. Os senadores, inconformados, assassinaram o mito com 23 facadas. Foi inútil. O destino da República já estava selado. Os Imperadores estavam a caminho.

Os movimentos de junho de 2013 formaram uma poderosa onda anti-sistema. Bolsonaro é apenas o surfista que pegou a onda certa. Não domina e está longe de ser a própria onda.

A esquerda, no governo, era a representação do sistema a ser derrubado. Com a economia crescendo foi possível enfrentar a onda. Quando o emprego faltou, a narrativa da corrupção como “causa sistêmica” finalmente triunfou.

Mas, e se mesmo com o triunfo do “combate à corrupção” o país não voltar a crescer? Os ataques sistemáticos ao Congresso Nacional e ao STF dão pistas de quem serão os próximos culpados engolidos pela onda.

O horizonte não é nada promissor. O Itaú revisou sua expectativa para o PIB deste ano para +1,3%. A capacidade ociosa da indústria beira os 40%.  O consumo das famílias já recuou 5.2% em 2019. A retomada do crescimento é uma miragem.

Na contramão da política de austeridade e desmonte, Bolsonaro anunciou a contratação de mil novos policiais federais e nomeou um delegado da PF para a chefia do Inep.

É pouco provável que os militares embarquem numa aventura aberta contra as instituições democráticas, mas com um Estado Policial sendo montado – que coloca faca até mesmo no pescoço de ministros do STF -, será preciso se expor? O destino da República está selado?

Levará tempo para que o povo consiga diagnosticar corretamente o fenômeno e suas causas. Por enquanto, vai sendo manipulado numa brutal guerra semiótica.

Tudo indica que o desfecho da crise, infelizmente, pode ser ainda pior. A travessia será longa. A onda parece estar longe do fim.

Por Ricardo Cappelli