CESAR BENJAMIN: A prisão e a filha de João 48 anos depois

Na noite de hoje, 31 de agosto, há 48 anos, fui atacado por trás por um contingente da polícia política do regime militar e preso na praça do Rio Vermelho, em Salvador. Era a terceira vez que me localizavam no mesmo mês, mas nas duas primeiras eu havia conseguido escapar. Minha chegada iminente na Bahia, vindo do Rio de Janeiro, havia sido delatada sem eu saber. Nesta hora, 21:30, eu já estava nu, encapuzado, algemado para trás e com os fios elétricos envolvendo o meu corpo.
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Na noite de hoje, 31 de agosto, há 48 anos, fui atacado por trás por um contingente da polícia política do regime militar e preso na praça do Rio Vermelho, em Salvador. Era a terceira vez que me localizavam no mesmo mês, mas nas duas primeiras eu havia conseguido escapar. Minha chegada iminente na Bahia, vindo do Rio de Janeiro, havia sido delatada sem eu saber. Nesta hora, 21:30, eu já estava nu, encapuzado, algemado para trás e com os fios elétricos envolvendo o meu corpo.

Meu último contato com a organização estava marcado para 19 de setembro, por coincidência com um militar da Aeronáutica, João, que havia se integrado à resistência. Eles sabiam que o contato dele era comigo, mas não sabiam quando e onde. Se o pegassem, sem dúvida o matariam.

Vinte dias era o tempo que eu precisava aguentar. Depois disso, nada mais havia a falar.

Há algumas semanas eu estava andando no Centro do Rio e fui abordado por uma mulher bonita, que eu não conhecia, com cerca de 40 anos de idade.

“Você é o Cesar Benjamin?”

“Sou.”

“Deixe eu te dar um abraço forte. Sou filha do João.”

Ela não existiria se eu tivesse entregue o seu futuro pai.

Por: Cesar Benjamin.