Ciro Gomes e Rodrigo Maia: Sob o cemitério de líderes caídos

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No dia 05 deste mês foi ao ar entrevista do Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), concedida ao programa Central Globonews. Muitas sinalizações puderam ser captadas aos olhos atentos de quem acompanha de perto a trajetória ascendente deste político carioca e o desenrolar da conjuntura política nacional. Entretanto, uma delas em especial é digna de nota: a ambiciosa intenção de formação de um novo centro político no país.

Longe da estrutura propagandista odienta da extrema esquerda e da extrema direita, Maia, aparentemente, busca qualificar aquilo que já foi denominado de baixo-clero e centrão e estabelecer um novo signo na política nacional, cujo caminho foi aberto pela desmoralização dos caciques do MDB, derrocada do PT e ausência de lideranças em geral.

Esse projeto grandiloquente é a saída óbvia para um país politicamente em frangalhos, principalmente após o desastre da administração Dilma e a onda bolsonarista que varreu as urnas de 2018.

A atual administração se mostra vacilante e incapaz de assumir o vácuo de poder surgido, em razão da fragilidade de suas ideias, muito embora tenha o apoio orgânico de importantes setores sociais, que sustentam seu governo.

Maia, ao contrário da ingenuidade do senso comum, não busca moralizar esse novo campo político ou mesmo mitigar os grandes dissensos existente, mas qualifica-los de modo a repelir os extremos. Diz que João Doria, Huck e Ciro Gomes devem conversar e articular a liderança desse centro, assinalando que é isso ou o candidato do Lula ou o próprio Bolsonaro vencem em 2022.

Seu cálculo político é preciso. Hoje a polarização é alimentada pelos bolsonaristas, pelo lulopetismo, pelos capitalistas rentistas e pela mídia corporativa, financiada por estes, com mecanismos historicamente consagrados de sequestro do debate público e infantilização do senso comum.

O esboço de proposta de Maia não é neutralizar as diferenças e escamotear do público as ideologias partidárias, como aconteceu no passado recente do país quando o PT se utilizava de um discurso popular socializante ao mesmo tempo que na prática favorecia a banda podre da burguesia nacional, deixando meros efeitos inerciais de melhoria para as classes mais pobres. Ao contrário, ele quer iniciar ciclo de discussão entre os agentes que, de fato, possuem argumentos de um lado e de outro e possibilitar que esses se elevem pela clareza de suas ideias e força dos argumentos.

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Ora, Maia, aposta na política para enfrentar o obscurantismo de certos grupos que se dizem liberais ou socialistas, mas não passam de meros arremedos fanatizados de qualquer coisa. Refiro-me àqueles que defendem com unhas e dentes a Jair Bolsonaro, como se personificasse as virtudes liberais e fosse ele mesmo a própria imagem e semelhança da autonomia da vontade, da autodeterminação e capacidade abstrata de enriquecer pelo esforço individual, ao mesmo tempo que atacam o grande-satã, Lula, considerado, por sua vez, pelo outro grupo, o vestido de vermelho, o grande líder socialista, responsável pelo maior partido de esquerda do globo e personificação do ideal igualitário, encarregado de carregar o fardo da utopia a ele dado pelo próprio espírito de Jesus Cristo. Obviamente tudo isso, sem esquecer de atacar o líder dos zumbis fascistas, Jair Bolsonaro.

Acertadamente Maia vislumbra que, ainda que não tenha muito em comum com outros agentes políticos convidados à discussão, seja melhor debater o Brasil com quem, de qualquer lado, pode contribuir para o ambiente político do que com forças messiânicas que não possuem qualquer projeto sustentável para o país.

Talvez ele perceba que o momento que vivemos pede mais da classe política e que a concepção liberal do mundo que advoga, para além de preconceitos, não está assim tão dissociável da natureza das ideias mais a esquerda do espectro político. Relembremos que o binômio da revolução francesa, liberdade e igualdade, tornou possível a concepção moderna de mundo e separou os vencedores revolucionários em diferentes graus de acentuação, mas que essencialmente concordavam com a derrubada do rei e o fim da era do direito divino, ou seja do mito personalista de alguém escolhido por Deus para governar.

A atitude do Presidente da Câmara é louvável e o coloca em patamar superior à média dos políticos nacionais, a qual torço para que vença a resistência natural dos agentes da mediocridade, que certamente será forte haja vista a manifestação in loco da jornalista Cristiana Lôbo na ocasião da entrevista e do blog D.C.M., vinculado ao PT, que apressou-se no sentido de tentar colar a pecha de direitista em Ciro Gomes.

Muitos dizem que a política é a guerra com outras armas, sendo assim, Maia, por estar no poder, tem prioridade e já escolheu o seu terreno, aberto, amplo, sob o sol e julgamento público. Agora, falta saber se João Doria, Huck, Ciro Gomes e demais o aceitarão ou se utilizarão de outros expedientes menos lídimos para emplacar candidatura. Embora seja cedo para fixar posição, Maia move-se, para o bem do Brasil, no sentido da civilidade e da racionalidade. Brindemos!

Por Deivison de Paula