A comemoração do golpe e a mentira da ameaça comunista

congresso cercado pelo golpe militar de 1964. Bolsonaro quer comemoração
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Além de tergiversar em relação à grande podridão em que Brasil se encontra, com fedores exalando da destruição da previdência pública ao assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, a convocação de Jair Bolsonaro para comemorar o golpe de 1964 constrange setores das próprias Forças Armadas, reforça o previsível de um candidato que foi eleito na base da ameaça e intensifica contradições dessa gosma protagonizada por falsos moralistas ungidos a passar o Brasil a limpo.

Se ações do Ministério Público e da Defensoria contra a convocação podem ser consideradas inicialmente louváveis, contraditoriamente não deixam de aumentar nossa perplexidade, já que a inciativa deveria partir dos políticos eleitos. Perplexidade porque os fatos têm demonstrado que a judicialização da política carrega a potencialidade da hegemonia do nazismo jurídico.

A política é quem deve dar as cartas, não juízes e promotores não eleitos. Jair Bolsonaro infelizmente foi eleito. Já que tem pretensões políticas – ilegítimas, diga-se de passagem –, o pessoal da Lava-Jato daria provas de preocupação com o “estado democrático de direito” e com o povo brasileiro se fizesse gestões para Sérgio Moro desembarcar do governo. Qual é a desse ministro, afinal? Respostas óbvias já foram dadas pelos conhecidos e lamentáveis episódios da história recente.

Nesse sentido, a convocação para a homenagem ao golpe de 1964 nos convida também a resgatar a verdade histórica. Se a comemoração de Bolsonaro será apenas em um dia, a reação altamente bem vinda da sociedade será o “Circuito pela Democracia: 55 anos do golpe de 1964”, promovido pelo Instituto de História do IFICS, no Rio de Janeiro, com debates ao longo de cinco semanas. Evento mais do que oportuno para debatermos os problemas atuais e suas raízes lá em 1964 – e não no “petismo” odiado tanto por ingênuos bem intencionados como pelos fundamentalistas boçais e os golpistas contemporâneos.

Em termos mais amplos e pensando no futuro, está na hora de as famílias começarem a incentivar seus filhos e netos a gostarem “de” e “da” política. Mas não no estilo da carochinha de jovens reacionários metidos a lutar contra o que chamam de “velha política” com subterfúgios retóricos que escondem as disposições mais retrógradas. Para isso, o incentivo seria voltado simultaneamente para o gosto do estudo da história, a fim de que idiotas não cometam o mico, por exemplo, de empunhar faixas em manifestações de rua com os dizeres “Chega de Paulo Freire”.

Está mais do que na hora de considerarmos necessária e indispensável, desde o ensino fundamental, a politização da vida como ato de amor e comunhão, a fim de que a profusão de igrejas e religiões não funcione como movimento para a despolitização dos nossos jovens e arma ideológica e monetária de exploração dos ingênuos. Obviamente, nada contra religiões e igrejas, pois há que se respeitar a diversidade de crenças e maneiras de ser – e a verdade histórica dá conta de como muitas delas se engajaram nas lutas democráticas.

Está na hora de neutralizarmos a boçalidade e o espírito totalitarista que falam sempre em ameaça comunista. Ardil antigo esse, e pior: identificar petismo com comunismo ou socialismo, o que revela total ignorância dos fatos. Para os bem intencionados e interessados sugiro aqui a leitura de três livros publicados com reflexões feitas em diferentes momentos depois de 1964.

Para fins de uma compreensão imediata e simples sobre por que não havia e nunca houve ameaça comunista, sugiro ir direto ao texto de Luiz Alberto Moniz Bandeira, sob o título “O golpe militar de 1964 como fenômeno de política internacional”, que compõe a coletânea de artigos do livro “1964: visões críticas do golpe”, organizado por Caio Navarro de Toledo (Editora Unicamp, 2014).

Nesse artigo, o autor mostra como os Estados Unidos estavam preocupados não com o comunismo, mas sim com “a forma de autoritarismo ultra-nacionalista, algo no modelo Vargas ou Perón, conforme a CIA avaliava”. Ou seja, quando Goulart foi derrubado, apesar de contar com 76% da opinião pública a seu favor, a questão era a nossa soberania, como ainda é hoje nos conflitos que estamos vivendo em que o protagonismo hegemônico infelizmente tem sido o da tergiversação promovida por lacaios internos encarnados por políticos, acadêmicos, burocratas, empresários, promotores, juízes e donos de meios de comunicação, ajudando a desmantelar o Estado brasileiro. E convencendo amplos setores da classe média e a maioria dos que não têm acesso e recursos de poder e conhecimento.

A primeira edição do livro organizado por Navarro é de 1997, com artigos, além do Moniz Bandeira, de Argelina Cheibub Figueiredo, Ênio Silveira, Florestan Fernandes, Francisco de Oliveira, Jacob Gorender, João Quartim de Moraes, João Roberto Martins Filho, Lucília de Almeida Neves, Nelson Werneck Sodré, Octávio Ianni, Patrícia Vieira Trópia e Paul Singer.

Outro livro importante, que já se tornou um clássico, é “1964: A conquista do Estado”, do historiador e cientista político René Armand Dreifuss (Vozes, 1981). O autor nos convida a refletir e compreender 1964 não como um conflito episódio entre forças internas, mas sim, dentre outras coisas, como contradições do processo de industrialização e internacionalização da economia. Grosso modo falando, como sugere o título da obra, a tomada não foi do governo, mas sim do Estado brasileiro.

Por último, o livro “A democracia impedida: o Brasil no século XXI” (FGV Editora, 2017), de Wanderley Guilherme dos Santos, o decano e principal cientista político do país, o que dispensa comentários. Basta lembrar a argúcia com que, no calor dos acontecimentos, ou seja, durante o “crepitar” dos conflitos, Wanderley consegue iluminar e esclarecer o que vem acontecendo hoje com o Brasil. Confiram.

Para não tomar o tempo do leitor, relaciono apenas os títulos dos capítulos do seu livro: 1. Democracia representativa e golpe constitucional. 2. 1964 e 2016: dois golpes, dois roteiros. 3. De eleições, temores e processos distributivos. 4. A sucessão da oligarquia pela competição eleitoral. 5. Da democracia e seu bastardo: o golpe parlamentar e 6. A expropriação constitucional do voto.

  1. Pode-se enumerar dezenas de outras obras que contradizem as obras citadas. Façamos diferente: uma pesquisa das publicações dos jornais da época em qualquer boa biblioteca pública. Lá estarão registrados os fatos históricos, não a opinião de acadêmicos severamente afetados pela ideologia que seguem e pelo gramscismo. Pesquisem…saberão a verdade. Ou ainda vejam na net depoimentos dos guerrilheiros comunistas da época. Os que têm alguma decência assumem que desejavam implantar a sotadura do proletariado. Simples assim. É patética a negação dos fatos e da verdade!!

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