Congresso e STF começam a desgastar Moro, enquanto ele visita a CIA nos EUA

Setores da esquerda estão ansiosos por uma bomba atômica que derrube o ministro da Justiça e chefe do Partido da Lava-Jato, Sérgio Moro. No entanto, a política não funciona com base nos desejos, principalmente de quem não tem a correlação de forças a seu favor. O escândalo da Vaza-Jato que vem desgastando devagar o ex-juiz que condenou Lula em conluio ilegal com o Ministério Público, teve em seu primeiro episódio a revelação das conversas mais graves, e nesse momento está dividindo seu material com outros jornalistas como Mônica Bergamo da Folha e Reinaldo Azevedo da Bandnews e UOL.

Até agora, o Congresso não se movimentou, e nem o STF, apesar de algumas declarações fortes dos já bem posicionados contra a violência ilegal da Lava-Jato, Gilmar Mendes e Marco Aurélio de Mello. Na Câmara, o clima contra Moro é mais forte, pois é o local onde estão muitos de seus alvos e que mais resiste aos ataques da anti-política da aliança entre Globo e corporações judiciais. O Senado, por sua vez, protagonizou uma grande vitória da anti-política ao impedir a vitória de Renan Calheiros na disputa pela presidência, e Davi Alcolumbre venceu a eleição com apoio de Bolsonaro, Globo e Lava-Jato. A hegemonia da anti-política não é passageira e vai levar tempo e muita luta para ser superada.

Porém, o clima em Brasília está mudando devagar. Depois das primeiras revelações, Moro parecia firme em sua posição ambígua de não negar o conteúdo das mensagens e considerá-las normais, ao mesmo tempo em que insinuava adulterações. Com outros meios de comunicação atestando a autenticidade da fonte do vazamento, a tendência é Moro ser cada vez mais desmoralizado. Nesta terça-feira, 25 de junho, três fatos mostram um avanço em bloco de diferentes setores contra o discurso messiânico de Sérgio Moro contra os políticos.

Na Câmara Federal, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, Glenn Greenwald, editor do The Intercept que protagoniza a Vaza-Jato, está dando depoimento para os deputados sobre sua investigação jornalística e as ameaças que ele e seu marido, David Miranda (deputado federal pelo PSOL), veem sofrendo.

No Senado, que derrubou o decreto sobre armas de Bolsonaro (o qual, aliás revogou o decreto hoje), o presidente Alcolumbre, cuja posição ambígua entre anti-política na disputa com Renan e defesa do Congresso e da política contra os ataques da Lava-Jato e de Bolsonaro, deu declaração forte hoje contra Sérgio Moro: ” Se fosse deputado ou senador, Moro estaria cassado ou preso”.

Por fim, no STF, Gilmar Mendes tensionou a 2ª Turma. Estava marcado para hoje o julgamento do Habeas Corpus de Lula que trata da suspeição de Sérgio Moro. Com o escândalo da Vaza-Jato, que demonstra inequivocamente a quebra da imparcialidade do ex-juiz, ficou insustentável a manutenção da prisão do ex-presidente. O julgamento chegou a ser adiado, mas Carmén Lúcia, que assume hoje a presidência da turma, recuou e disse que não tinha competência para mudar a pauta. Além disso, Gilmar que ainda preside a turma, propôs a soltura provisória de Lula até que o julgamento seja concluído.

Nada está decidido sobre Lula. Gilmar Mendes e Marco Aurélio devem votar a favor do ex-presidente, enquanto Carmen Lucia e Edson Fachin já votaram contra. Celso de Mello, o decano que sempre vota por último, é uma incógnita. É pouco provável que o STF solte Lula, mas o fato é que a discussão passa a ser sobre a atuação política e ilegal de Sérgio Moro.

Tanto o Congresso, como o STF, começam a desgastar institucionalmente e abertamente o ex-juiz e ministro. Na imprensa, o jogo é dividido pela força da Globo, mas a cada dia fica mais evidente a partidarização da Lava-Jato como organização política ilegal e paralela ao sistema constitucional do Brasil, e as reações começam a sair dos bastidores do poder político e da cúpula do judiciário, que é responsável pela proteção da Constituição, e avançam para o questionamento concreto da atuação política autoritária de Sérgio Moro.

Enquanto  isso, Sérgio Moro viaja aos EUA. Ele disse no twitter que visitará órgãos de segurança e inteligência, mas, ao contrário da primeira viagem oficial do governo à potência imperialista, dessa vez, o ministro esconde sua agenda. Visitar a CIA em meio a crise política, da qual ele é pivô, é bastante coerente. Afinal de contas, como disse Deltan Dallagnol em suas mensagens com Moro, “é preciso articular com os americanos”.

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