Os cortes e a disputa por corações e mentes

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Manifestações contra os cortes de orçamento das universidades federais
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O corte das bolsas para mestrado e doutorado realizado pelo governo federal resultará, num primeiro momento, em forte elitização dos programas de pós-graduação. Apenas estudantes que disponham de reserva financeira ou que contem com auxílios das famílias para bancar anos de dedicação intensa conseguirão obter suas titulações.

Não se trata de um drama pessoal. A drástica redução no número de pesquisadores provocará um recuo brutal em variadas áreas do conhecimento, o que impactará negativamente o desenvolvimento do país. Teremos um apagão cultural caso essa estupidez perdure.

Muita gente flertou com o perigo nos últimos anos. Foram irresponsáveis. Chegamos onde chegamos.

A Universidade pública está cheia de professores que apoiaram e votaram em Bolsonaro. Está coalhada dos que veem as ciências como terreno neutro do conhecimento. Está infestada daqueles que clamaram contra a “ideologização” e “politização” de atividades. Está lotada de gente isenta e imparcial e que torceu o nariz para a expansão do acesso, para políticas de inclusão – como cotas – e para salas com número crescente de alunos.

Muitos desses agora se apavoram com a tesoura orçamentária, com a precarização da pesquisa e com o arrocho salarial que se desenha no horizonte.

Intimamente tenho raiva deles. Gostaria que se fodessem.

Mas politicamente não posso pensar assim. Isso nada tem a ver com passar a mão na cabeça de ninguém ou externar algum sentimento cristão. Quero mais é que eles tenham muita vergonha das merdas que fizeram, mas que se somem à luta.

Só viraremos o jogo se e quando um forte contingente de apoiadores de Bolsonaro mudar de lado.

O líder das milícias incentiva e conta com a ignorância da população sobre o papel da Universidade pública. Como o acesso é ainda muito restrito num país de abissais desigualdades, a cantilena repetida é que somos todos inúteis, vagabundos e devassos.

Em seu fraseado mentiroso, os professores ganham fortunas e os alunos nada pagam para ter a boa vida que levam. Esse é o senso comum que se dissemina. A tática é isolar a comunidade universitária da sociedade para que a destruição conte com resistência mínima.

Só teremos verbas, bolsas, concursos e investimentos nas áreas sociais com um expressivo movimento de mudança da opinião pública. Isso começa por abrirmos as universidades de verdade para a população. É preciso que todos saibam o que fazemos intramuros e mostrar o que temos a devolver à sociedade. Não somos torres de marfim, mas nem todos sabem disso.