Sobre a crítica de Samuel Pessoa ao livro de Ciro Gomes

Em sua coluna na Folha, Samuel Pessoa critica o livro de Ciro Gomes. Nada além do esperado, até demorou muito. De toda forma, alguns comentários são necessários. Primeiro, sobre chamar de maniqueísta a visão de um político que conhece muito bem os interesses dos grupos econômicos.
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Em sua coluna na Folha, Samuel Pessoa critica o livro de Ciro Gomes. Nada além do esperado, até demorou muito. De toda forma, alguns comentários são necessários. Primeiro, sobre chamar de maniqueísta a visão de um político que conhece muito bem os interesses dos grupos econômicos.

Samuel quer dar à discussão econômica, ou ao ponto de vista dele, uma visão isenta de influências políticas que não existe. E o que Ciro faz ao longo do livro é colocar a posição pessoal dele, declaradamente não isenta, como não é a do Samuel, sobre o processo de desenvolvimento econômico do Brasil.

É louvável um político da qualidade de Ciro, e candidato a presidente, se dispor a escrever um livro, após estudar muito, sobre o país que deseja governar, deixando claro onde quer chegar, com posições e análises corretas, levando em consideração os aspectos políticos.

Não é todo dia que surge um político com essas características, que escreve um livro para contar o que pretende fazer se for presidente. Não há outro no país. A não ser que o Armínio, citado no texto do Samuel, for candidato e não sabemos… será que ele é um candidato velado?

Bem, mas e quanto ao conteúdo do livro do Ciro? E o texto do Samuel? Ciro segue a teoria que melhor explica o processo histórico de desenvolvimento dos diversos países, e que a observação empírica comprova, desde a Inglaterra nos primórdios até o Vietnam hoje, só para não citar a Coreia.

Até o FMI defende hoje a política industrial, ou de reestruturação do sistema produtivo, se assim quiserem chamar. Perguntem à Alemanha e à China, ou mesmo aos Estados Unidos, o que eles pensam e praticam a respeito. Exatamente o que está, em linhas gerais, no livro do Ciro.

Samuel, por sua vez, quer descontruir a explicação consensual sobre o processo de desenvolvimento econômico do Brasil no século XX e dizer que o problema se restringe à falta de investimento na educação. A necessidade de investir em educação é obvia; aliás, lembremos sempre do Ceará e de seus resultados mundialmente reconhecidos. O que não é óbvio é que o processo de desenvolvimento é uma luta feroz entre as nações, que brigam para se posicionar melhor e assim, defender seu interesses e os de seus cidadãos. E para isso, Estado e mercado têm que atuar juntos.

Não há ingênuos e isentos nessa discussão. O que está em jogo é a própria economia política do processo de desenvolvimento; o modelo adotado implica na prevalência de setores e grupos de agentes econômicos nesse processo.

Nossa preocupação é a geração de empregos de qualidade para a população. Quando falamos que a estrutura produtiva do país é relevante, não é por outro motivo. E a política pública, se bem desenhada e gerida, em conjunto com o setor privado, possibilita o alcance do resultado desejado.

Assim mostrou a história. E, para encerrar, se alguém quiser conhecer minhas críticas à política econômica de FHC, Lula e Dilma, já publiquei vários textos sobre o tema.