Diga não ao curandeirismo bolsonarista

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Durante muitos anos da minha vida eu sofri com um problema alérgico de relativa gravidade. Já lá com meus seis, sete anos, eu passei a ter algumas crises horríveis. Dali até o início da minha vida adulta, eu me consultei com inúmeros médicos com diversos diagnósticos e a maioria deles errados. No ano de 2008 todinho, por exemplo, eu fiquei tomando um medicamento indevido, um potente antialérgico que me causou inúmeros efeitos colaterais – e que me prejudicou muito, já que foi o ano em que eu saí do Ensino Médio e fiz exames para ingressar no Ensino Superior.

Mas mesmo assim nunca desisti de procurar ajuda médica e de tentar encontrar a resposta em quem eu sabia que eram os únicos capacitados para tal – também por conta da minha família, católica, que sempre rejeitou qualquer espécie de superstição e curandeirismo (a Igreja considera isso anátema). E olha que não foram poucas às vezes que apareceram pessoas a oferecer soluções estranhas falando em cura milagrosa. Foi fugir delas que me possibilitou que em 2011 finalmente eu obtivesse o diagnóstico correto, quando descobriram que meu problema era de cunho emocional, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), e a partir daí poder seguir um tratamento adequado que me permitiu uma qualidade de vida muito melhor.

Creio que essa minha história de vida tem um pouco de paralelo com o dilema que muitos brasileiros bem intencionados vivem hoje na eleição: diante do desespero de olhar para uma situação ruim, aparentemente crônica, e que para as quais diversas soluções nunca resultaram em algo mais satisfatório, surge a opção desesperada por uma retórica fácil que promete aplacar todos os males, trazer a panaceia, o discurso de um curandeiro político que afirma-se capaz de resolver questões complexas de maneira simplista a golpe de frase pronta.

Desemprego? Tira leis trabalhistas. Saúde? Facilita ampliação de planos privados. Educação? Constrói colégios militares. Segurança? Bandido bom é bandido morto. Déficit fiscal? Privatiza tudo. Previdência? Faz uma reforma aí. Tudo na boca do curandeirismo bolsonarista se resolve com soluções fáceis “contra tudo que está aí”. Propostas frágeis e demagógicas – e que invariavelmente encontram em algo ou alguém um demônio pra culpar e responsabilizar por todos os problemas que existem, mas que são complexos e que jamais poderiam ser obra de uma pessoa só ou organização.

É uma tolice, um despreparo, uma vulgaridade sem tamanho. Por mais que você esteja insatisfeito com o que está aí, e todos nós devemos estar, pois o cenário é desalentador, não podemos buscar fora do bom senso e do conhecimento constituído e lastreado nas Ciências uma alternativa para nossos problemas e para os problemas do Brasil. Por mais que os diagnósticos e as medicações receitadas tenham sido ruins, e muitas vezes elas foram, há a possibilidade de continuarmos acompanhando a enfermidade com profissionais adequados até encontrar pra ela uma solução. O curandeirismo não oferece a mesma segurança. E mais do que isso: suas soluções despautérias podem definitivamente matar o paciente.

É pois o que a inaptidão bolsonarista pode promover: o agravamento dos nossos problemas e a sentença de morte de um país melhor pra toda uma geração. E depois da morte, amigo, não há volta ao médico que resolva. Aí será simplesmente o fim.