Datafolha: O Brasil desconfiado

Datafolha "Calunia"- obra do mineiro Irma Renaul
"Calunia"- obra do mineiro Irma Renaul
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A pesquisa Datafolha divulgada neste domingo pouco oscilou em relação ao último levantamento em abril, feito antes da greve dos caminhoneiros.

Lula permanece intacto, isolado na liderança. Bolsonaro parece ter atingido seu teto, oscilando positivamente dentro da margem de erro. Sem Lula, Haddad candidato à seu, oscila negativamente dentro da margem. Ciro, em todos os cenários apresentados, oscilou positivamente, ainda na margem de erro. Alckmin não empolga. Oscilou negativamente. O eterno governanto dos paulistas parece perdido. Seu partido está desesperado tentando se salvar de sua candidatura.

Os números mais relevantes, no entanto, dizem respeito ao capital político dos históricos grandes atores políticos do país. 30% dos entrevistados votariam num candidato indicado por Lula. Outros 17% dizem que talvez votariam num candidato indicado por Lula. 51%, não votariam de modo algum num candidato com a benção do ex-presidente. Lula é o maior ator político do país, em Curitiba, em São Bernardo ou em Brasilia. Negar isso é negar a realidade.

Outro dado interessante, porém não surpreendente, é a rejeição de FHC. O ex-presidente tucano teria seu candidato rejeitado por 65% do eleitorado. O PSDB, ao que parece, não ganhará uma eleição nacional por um bom tempo. Os tempos de Fernando Henrique ainda são caros à população brasileira, e nem a tentativa incessante da mídia tentando transformá-lo em estadista diminuem a rejeição do povo. Fernando Henrique é desprezado pelo Brasil.

Pior que o tucano somente o atual mandatário do Palácio do Planalto. Michel Temer teria seu candidato rejeitado por 92% do eleitorado. Henrique Meirelles só continuará na sua cruzada pois tem muito pouco a perder. Sua candidatura é completamente inviável. Os signatários do golpe parlamentar em Dilma Rousseff perderam a narrativa. São desprezados até por quem os botou lá, apesar da incongruência natural. O ex-presidente oscilou negativamente 12 pontos de abril pra cá. Um desgoverno trágico.

O brasileiro em geral tem certa confiança nas instituições. Em relação ao STF, 14% confiam muito, 43% confiam um pouco e 39% não confiam. Para desespero de ministros como Luis Roberto Barroso e da presidente da corte, Cármen Lúcia. Ambos prezam tanto a popularidade de talk-shows globais que parecem sempre estar atrás de mídia pra se coçar.

Nas Forças Armadas, a confiança é maior. Dos intervencionistas aos felizes com a postura contida – nada interventiva – dos milicos, as Forças Armadas são campeãs de popularidade entre os torcedores da seleção canarinho.

A imprensa é absolutamente desacreditada por 37% dos brasileiros. Em tempos de internet e de bolhas sociais, está dentro do esperado. A imprensa ainda não conseguiu absorver os novos tempos e ainda patina numa dicotomia alcance x paypall. Com o alcance reduzido, diluído num mar de blogs e portais (como este), a grande mídia segue desacreditada, seja pelos setores progressistas ou conservadores.

Partidos políticos são os campeões de desconfiança (68%), seguidos pelo congresso(67%) e a presidência.
Perturbador é o índice dos entrevistados que respondem prontamente que votarão em branco ou nulo. Hoje, esta resposta imediata representa um em cada quatro brasileiros (23%). 4 anos atrás, em 2014, esse número era de 8%

A pesquisa Datafolha evidenciou que a lava-jato destruiu a política nacional. O que sobrou segue sem rumo, esperando um comando, um acordo, uma trégua. Não haverá. Somente a união da política em torno de um candidato político poderá nos salvar do desastre da antipolítica. Ou então, a nossa versão tropical da operação “mãos-limpas” terminará seu serviço, elegendo por fim o nosso Berlusconi salvador. Seja ele vestido de terno importado ou de farda.