A democracia como valor tático

Democracia apenas como valor tatico
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Os anos 80, depois do ensaio de Carlos Nelson Coutinho “A democracia como um valor universal”, foi estabelecido um debate na esquerda brasileira que partia de premissas erradas e chegou a conclusões desastrosas.

A premissa errada fundamental é que o grande problema do socialismo no século XX foi o “autoritarismo” e a “falta de democracia” e que, portanto, era o momento de construir um “socialismo democrático”, confundindo governo com poder e tomando como dado inquestionável que a classe dominante respeitaria as regras do jogo eleitoral-burguês.

A vida mostrou o erro dessa visão. Darcy Ribeiro escreveu em 1995 (os ciristas não querem lembrar disso):

“Não é impensável que a reordenação social se faça sem convulsão social, por via de um reformismo democrático. Mas é MUITÍSSIMO IMPROVÁVEL neste país em que um pouco de milhares de grandes proprietários podem açambarcar a maior parte de seu território, compelindo milhões de trabalhadores a se urbanizarem para viver a vida famélica das favelas, por força da manutenção de umas velhas leis. Cada vez que um político nacionalista ou populista se encaminha para revisão da institucionalidade, as classes dominantes APELAM PARA REPRESSÃO E A FORÇA” (RIBEIRO, Global Editora, 2017, p. 15).

Equador, El Salvador, Honduras, Haiti e agora o Chile, mostram como o Estado burguês, não importa o quão democrático seja e sua aparência de estabilidade, consegue se transformar rapidamente numa máquina de guerra e extermínio em preservação da velha ordem.

A máxima leninista, repudiada pelos socialdemocratas de todo mundo, é sempre comprovada pela vida: em última instância, o Estado é sempre uma máquina de domínio de uma classe sobre outra.

No momento da exceção, fora da normalidade do cotidiano, a verdade grita manchada de sangue.

Por isso, sempre, a democracia burguesa será um valor tático para os revolucionários. Defenderemos ela às vezes contra a reação, mas devemos almejar destruí-la assim que possível.

PS: Ano que vem, depois do carnaval, sai meu livro autoral debatendo em profundidade a questão democrática na estratégia da Revolução Brasileira.