Depois da pandemia e da crise, o que vem aí?

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É impreciso analisar as consequências políticas da mediocridade produtiva brasileira (PIB), porque o Brasil foi moldado historicamente por uma ínfima elite num cambalacho que acabou por conceder dignidade humana apenas a 20% de tupis (or not tupis). Mesmo que entre 1930 e 1980 o Brasil tenha sido o país que mais cresceu no mundo, a bufunfa nunca deixou de se concentrar nos bolsos de meia dúzia. Dados de hoje: só as petromonarquias concentram mais renda que o Brasil. É uma tendência secular que os anos lulistas não conseguiram adulterar nem com João Santana. Aliás, umas das consequências políticas da mediocridade produtiva brasileira desse período deu no golpe (ou operação política constitucional para varrer os destroços políticos que sobraram da incompetência econômica petista). E a miséria está aí. De volta. O legado do grande líder… perecível como uma folha de alface. Mas vamos começar do começo.

Tendo em mente aquele gráfico dos cem anos de crescimento do PIB no Brasil, vamos mencionar grosseiramente acontecimentos políticos que se seguiram a grandes crises econômicas. Em 1929, o tombo da economia culminou numa Revolução que deu ao Brasil seu maior estadista, Getúlio, cujo núcleo do legado, perenemente atacado, conseguiu atravessar ditadura e petucanismo. Já em 1963, a queda do PIB deu no golpe no ano seguinte, esse sim de verdade, a maior derrota da história do Brasil, em que se abriu mão de desenvolvimento e de democracia em troca de dependência, mistificação, ditadura e desigualdade. Avançando no tempo, temos o tombo do início dos anos 80, tipo por muitos analistas como um dos fatores principais a propiciar abertura democrática, deslegitimando os gorilas.

No começo dos anos 90, a Constituição Cidadã foi resistente em perpassar a persistente inflação que o autoritarismo legou à economia brasileira e a farsa Collor sem maiores escoriações, mesmo com queda bruta do PIB. Já na era petucana, a mediocridade produtiva foi a regra, o país se desindustrializou e cresceu a pibinhos. O período que destoou dessa regra culminou em quedas de PIB e queda de Dilma. E o resto a gente já conhece: o coquetel de crise econômica com escândalos novelizados de corrupção foi fundamental para a formação de uma nova hegemonia na sociedade brasileira, fundada no moralismo da antipolítica liderada por um jeca e no neoliberalismo aplicado como panaceia por anos a fio em doses diárias pelos donos do dinheiro nos meios de comunicação. Como consequência, hoje um analfabeto fascistóide como Caio Coppola é estrela intelectual da CNN. É inacreditável. Agora a âncora do Roda Vida, que palpita naquele jornal que há um século coloniza os paulistas, virou fada-sensata-quase-centrista. Claro, se o governo é fascista, todos os resíduos são tidos como moderados.

E essa é a consequência política mais evidente que se seguiu ao descalabro petista: a ascensão de fascistas que empurraram toda a sociedade brasileira para a direita. E contra esse domínio ideológico, o que vemos? Eu vejo um museu com youtubers vocalizando ideias do tempo do ronca, num radicalismo pueril, pichando a velhíssima palavra “Revolução”, numa desconexão completa com os anseios do povo. Vejo também meia dúzia de identitários aceitos pelas redações promovendo ideias brochas sem qualquer relação com a realidade das massas. Ah, eu vejo Haddad lacrando no twitter e bocejo com um Lula velho, derrotado pela própria ambição, disputando um legado folha de alface. Além disso eu ouço um projeto nacional de desenvolvimento, que considero ser a única saída para a viabilidade do Brasil, da boca de Ciro.

Ou seja, é mais ou menos isso o que resta da esquerda hoje. Assim, mantido tudo o mais constante, levando em conta o grau de delírio da própria esquerda e o poder de colonização mental dos meios de comunicação, a direita, gorila ou gatinha, tende a se consolidar por anos. Mas na política nada se mantém constante. E as consequências políticas do tombo do PIB de 2020 tendem a ser mórbidas, porque uma sociedade cada vez mais miserável e precarizada, bombardeada por mistificações, não vai se refugiar no debate racional acerca do futuro (quando é que foi assim mesmo?). A proliferação de mentecaptos na política revela uma nova janela de oportunidade de renda para bufões. Bom, preciso dar banho no meu filho e vou entregar o texto assim mesmo, sem final.

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