Diário da Oposição

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Nesta nova série de textos, este espaço cobrirá os rumos da oposição brasileira em sua tentativa de apontar alternativas ao governo Bolsonaro.

Os primeiros dias do governo Bolsonaro foram turbulentos. Todos que acompanharam o noticiário viram o que se desenhou. O governo do capitão é desorganizado, demasiadamente ideológico e absolutamente incapaz de lidar com um país da dimensão do continente Brasil.

Recuos, declarações desmentidas, pane na burocracia por culpa da ideologização excessiva. Os primeiros dias do governo fariam inveja a qualquer episódio de uma série ruim do Netflix.

A oposição também bate cabeça. O PT, derrotado das eleições, parece ainda não ter achado seu rumo. A principal liderança em liberdade, Fernando Haddad, não tem qualquer apoio do partido e não faz questão de obtê-lo. É um professor solitário. O Brasil não precisa de carreira solo.

A burocracia do partido é igualmente confusa. Preocupou-se em não ir à posse de Bolsonaro e fez questão de prestigiar o outro militar trapalhão da América Latina, o último, um pouco mais maduro. Gleisi e sua corrente, que será chamada neste espaço de “Gleisismo”, insistem em pautar a vida do país na liberdade do ex-presidente Lula.

Do outro lado, viu-se a criação do bloco de esquerda, com PDT, PCdoB e PSB na Câmara e o reforço de PPS e Rede no Senado. Destaque para a grande articulação de Orlando Silva, que atuou firmemente na construção da alternativa ao petismo.

O bloco é heterogêneo. O PSB, por exemplo, é sempre uma incógnita. Na última legislatura apoiou Temer e algumas de suas medidas mais polêmicas. Nesta, recusa-se a apoiar Rodrigo Maia. Difícil de entender.

O Partido Comunista do Brasil já parece mais coeso. Distanciando-se do PT desde o ano passado, uniu-se ao PPL para driblar a cláusula de barreira. Agora, é um dos mais ativos entusiastas do bloco que deixa de fora o Partido dos Trabalhadores, numa oposição diferente da que foi feita no governo Temer. Apoiará Rodrigo Maia.

O PDT enfrenta suas contradições internas. Faz uma defesa da política contra o Judiciário, mas peca em ataques quase exclusivamente moralistas aos adversários. Em seu núcleo, ainda faltam deputados mais combativos. Cid Gomes parece ter alguma articulação no Senado e na mídia. Deverá ser um dos líderes do Bloco. O partido de Brizola deverá apoiar Rodrigo Maia na Câmara e ajudar na construção da candidatura de Tasso Jereissati (ex-futuro aliado dos irmãos Gomes) para o Senado.

O PSOL permanece fazendo sua oposição online quase nada efetiva na vida real. Sua maior cartada é Marcelo Freixo, de quem falaremos abaixo.

A questão Maia

Rodrigo Maia será eleito presidente da Câmara, goste-se ou não disso. Maia é conhecido por cumprir acordos. Na última legislatura, salvou a UNE ao engavetar a CPI promovida pelos aliados de Temer, num acordo costurado pelo sempre presente Orlando Silva.

A eleição da Câmara não é ideológica. Bolsonaro votou em Aldo Rebelo, à época do partido comunista. O PT juntou-se ao PSDB pra eleger Temer e Eduardo Alves, entre outros milhares de exemplos. É uma eleição marcada por acordos e quase sempre decidida meio em clima de aclamação.

Não votar em Maia é perder espaço nas comissões, perder o acesso à pauta e ajudar Bolsonaro a fazer o que bem entender daqui pra frente. É dar ao capitão poderes de imperador.

 

Candidatura Freixo

Marcelo Freixo é um político de articulações locais. Passou um mandato a mais na ALERJ e agora tenta correr atrás do prejuízo lançando uma candidatura atabalhoada que serve apenas pra marcar posição. Posição de derrotado.

O Brasil não aguenta mais ser derrotado. Tampouco aguenta o “purismo” ideológico que ignora o desenho institucional do nosso país.

Freixo é competentíssimo. Mas continua estreito.

 

“Bolsolão”

O escândalo do motorista Queiroz surpreendeu a todos. Flávio Bolsonaro, que foi um congressista do baixo-clero, parece ter praticado atos dignos de sua posição, cobrando mesada de seus assessores em troca das nomeações.

O pai (e a madrasta), provavelmente estavam cientes dessa maracutaia. Cada dia que passa a história fica pior. Primeiro, o depósito na conta da primeira dama; depois, os depósitos mensais na conta de Flávio, efetuados de forma suspeita. O silêncio do governo e o distanciamento do núcleo militar dizem mais do que qualquer declaração: há um elefante(branco) na sala.

A história todos conhecem. Os desdobramentos não. É prudente esperar os próximos passos. Flávio está na cova dos leões e não sairá de lá vivo. Resta saber o quanto de sangue respingará em seu pai.

 

Renan Calheiros

Renan dança conforme a música. Se os mares virarem para Bolsonaro, será um árduo opositor. Por enquanto, Renan defende o filho Flávio em troca de uns votos para a presidência do Senado. Sua batalha é contra o judiciário e nesta luta já mostrou ser de grande valia. As sinalizações do capitão-presidente em nomear o procurador-star Deltan Dallagnol para a PGR não devem ter agradado o político alagoano, desafeto mais do que assumido dos “Curitiboys”. Na disputa do Senado, deverá angariar bons votos do PT e do PDT, tendo inclusive na ex-candidata a vice presidente, senadora Kátia Abreu, uma grande aliada.

 

Destino: Brasil

Enquanto não começa a nova legislatura, as pautas realmente relevantes estão congeladas. Em fevereiro, a oposição deverá programar-se para atuar contra o pacote de Guedes e Moro. O último, fortalecido por uma cooperação republicana com o governo do Ceará que lhe deu boa impressão para com os outros governadores.

Bolsonaro sairá enfraquecido de sua crise e com o partido ainda mais rachado do que já está. Resta a oposição aproveitar o momento para aproximar-se de PSDB, PP e PMDB e impor mais derrotas ao governo do capitão. Fazê-lo recuar no início tornará inviável a agenda ideológica e diminuirá consideravelmente o poder do Executivo. Esse é o desafio dos próximos 4 anos: blindar o país das decisões de um trapalhão que foi colocado lá sabe-se lá Deus (ou Steve Bannon) por quê.