Dilma, a previdência e a agenda

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Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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A Folha de S. Paulo de hoje (12) noticiou o seguinte:

“Em Curitiba nesta quinta (11) para visitar o ex-presidente Lula na prisão, Dilma Rousseff (PT) afirmou que gostaria de ter feito uma reforma da Previdência em seu governo e que iniciou um planejamento nesse sentido, mas que o processo de impeachment a impediu de conclui-lo.

‘Gostaríamos de ter feito uma reforma bem diferente dessa até porque achávamos que tínhamos que manter vários direitos adquiridos, mas também que era necessário, na medida em que nós mesmos fomos responsáveis pelo aumento da expectativa de vida no país’, disse”.

Dilma fez um mandato desastroso entre 2015-16. Quebrou a palavra empenhada em campanha – de fazer um mandato desenvolvimentista com justiça social – e promoveu o que ela já chamou de “o maior ajuste fiscal da história deste país”. A síntese foi uma redução de quase 8% do PIB em dois anos e o legado de 11 milhões de desempregados. Foi um tombo maior do que o promovido pela crise de 1929 e a maior queda do PIB registrada pelo IBGE entre 1900 e 2018..

Agora ela volta a público para reafirmar a justeza de ter ajudado a colocar na agenda nacional a ideia de que a Previdência é um problema. Como se sabe, desde 1997, todos os presidentes da República – FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro – difundiram e sedimentaram entre a população a ideia de que a Previdência é um problema.

Ao reafirmar essa concepção em Curitiba a ex-chefa do Executivo joga água no moinho da necessidade de se mexer no setor.

Em 1968, os pesquisadores estadunidenses da área de comunicação Maxwell McCombs e Donald Shaw elaboraram a teoria da agenda. Examinando dados e discursos da campanha presidencial de 1968, que opôs Richard Nixon e Hubert Humphrey, a dupla percebeu que mais importante que difundir determinada proposta, o decisivo é colocar o tema – ou a agenda – em pauta.

Mais eficaz do que defender abertamente a pena de morte na sociedade – causa que pode não contar com a maioria do apoio popular – é colocar o tema de crimes hediondos e aumento exponencial da violência como assunto permanente da imprensa. Logo, torna-se algo natural nas conversas entre as pessoas. O efeito da repetição fará com que, a médio prazo, a defesa da pena de morte venha quase como natural.

Dilma ressalta querer uma “reforma bem diferente dessa”. Pouco importa. Ela colocou a questão como central em seu mandato. Ajudou a sedimentar a ideia do problema, do rombo, da inviabilidade do sistema atual etc. E reafirma isso agora.

A intenção pode até ser outra. Mas, em uma visão panorâmica, sua ação lá atrás ajudou a ganhar a opinião pública – expressa no Datafolha da terça (9) – para a necessidade da atual reforma da Previdência.

Os problemas da Previdência – vários pesquisadores atestam – têm origem nos altos índices de desemprego, na recessão e no funcionamento de uma economia que destina grande parte de seu excedente para o rentismo financeiro.