Por que a Direita cheia de ódio tenta imbecilizar o Brasil

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O discurso boçal de autoridades brasileiras aqui e no Exterior tem um sentido muito concreto e nada ingênuo para além do rompante folclórico. Esconde e revela ao mesmo tempo intenções geopolíticas de submissão econômica para manter as estruturas de dominação e exploração dos brasileiros mais desfavorecidos.

Trata-se da imbecilização pelas mentiras e da infantilização para reforçar a submissão a interesses capitalistas externos. Em suas diferentes formas e condições históricas, os golpes de 1945 (deposição de Getúlio Vargas), 1954 (suicídio), 1961 (renúncia de Jânio Quadros e parlamentarismo relâmpago), 1964 (a conhecida e longeva ditadura civil-militar) e 2016 (a trama parlamentar-empresarial-jurídico-midiática) procuraram impedir o avanço da democracia no Brasil. Em todos eles, o discurso é sempre quase o mesmo: combate à corrupção ou anticomunismo.

Já a eleição de Jair Bolsonaro (2018) consolida o golpe proporcionado pela abertura da Caixa de Pandora que foi a deposição de Dilma Rousseff. Esta cambulhada se aproveitara dos acontecimentos de 2013 para culminar em 2016 com aquele espetáculo horroroso conduzido no seu rito inicial por Eduardo Cunha. Agora assistimos aos seus efeitos ainda em curso pela tentativa de imbecilização das pessoas para esconder o real objetivo no plano econômico da divisão e apropriação dos recursos e quem vai pagar o pato dessa crise toda.

Entretanto, tudo isso não são favas contadas. As reações também estão vindo e tendem a crescer. Em termos programáticos de longo prazo, urge agora iniciarmos uma grande campanha junto a nossos filhos e netos, além dos jovens em geral, para incentivar a paixão (gostos se aprendem) pelo estudo da história e pela participação política. Isso passa pela paixão pelos livros e pelas livrarias, pelo debate em diferentes arenas e pela ocupação das praças públicas. Famílias, uni-vos! Vamos politizar a vida! Fundemos a República dos Apaixonados pelo Conhecimento, pelas Artes e pela Política e derrubemos a República dos Moralistas Ungidos a Passar o Brasil a Limpo.

A política é para garantirmos nossas diferenças vivendo em conjunto. Ser igual perante a lei não significa obrigatoriedade de sermos iguais, mas sim que nossas diferenças sejam respeitadas e garantidas de forma igual pela lei. Mas não a “igualdade” hipócrita entre ricos e pobres para a manutenção e naturalização da pobreza, nem a “liberdade” falaciosa para “candidatar-se” a escravo legalizado desse ou daquele patrão livre para demitir quando quiser e determinar como deve ser a forma social.

Nesse sentido, com respeito também a todas as crenças e maneiras diversas de ser, há que se lembrar: Jesus Cristo e todas as religiões nunca (nunca mesmo!) resolveram ou vão resolver problemas de políticas públicas. Combinemos isso, de saída, para neutralizarmos as mentiras espalhadas pelas redes sociais sobre defesa da família, comunismo, socialismo, petismo e a fantasiosa fome marxista pela digestão de criancinhas. O PT nunca foi comunista e já está fora do governo com seu líder preso. O inimigo será quem agora com o agravamento dos problemas?

Em recente texto que publiquei aqui sobre o fundo do poço a que o Brasil chegou referi-me ao contexto de barbárie provocada pelas contradições do sistema capitalista, reforçado pelos absurdos e boçalidades disseminados pelos robozinhos midiáticos. No caso brasileiro, essa barbárie está com duas pontas soltas graves e emblemáticas: a tentativa de destruição da previdência pública e o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. São fatos que condensam diferentes contradições no plano econômico, político e social e emparedam a República na maior cara de pau.

Entretanto, na unidade dos contrários de um sistema inevitavelmente conflituoso, o jogo não é simples e nem as vitórias, como disse no início, são favas contadas, mesmo a disputa eleitoral da democracia representativa. A tradição golpista não é congênita do Brasil, como defeito de fábrica, e nem a corrupção é tributária só dos políticos da “velha política” marcada por um suposto patrimonialismo de origem ibérica, como muitos acreditam.

Golpismo e corrupção refletem a potencialidade do estado de exceção permanente como normalidade do próprio sistema capitalista. Potencialidade essa mais forte em sociedades fracas em que a política é sequestrada das mãos dos seus maiores interessados, os cidadãos. Com esse legado escravocrata que temos, não à toa a sucessão de golpes que vem marcando a história republicana.

Em meio ao nevoeiro denso da crise, levanto aqui a bandeira do otimismo e da alegria, me inspirando num verso de Mário Benedetti: “Levantar uma bandeira pela alegria.” Um país triste é presa fácil dos golpistas, manipuladores e despachantes de luxo do grande Capital corrupto – aquele das alcateias famintas pela privatização de tudo, que sonega, deve ao erário, manda dinheiro para fora, escraviza trabalhadores e ainda não quer pagar impostos, comprando políticos bandidos (ou bandidos políticos) eleitos e incensando fantoches idiotas consagrados pelas urnas.

E lembremos que a grande corrupção “legalizada” não foi e nem precisa mais ser desmantelada pela Lava-Jato (nem era sua intenção) porque a República de Curitiba cumpriu seu papel que era, conjunturalmente, dentre outros em curso, impedir a candidatura do Lula. Votei em Ciro Gomes, mas observo que números, pesquisas, estudos e evidências fáticas mostram que só Lula derrotaria Bolsonaro se a Lava-Jato não o tivesse posto atrás das grades de maneira vergonhosa e nazista. Com todos os equívocos do PT, é evidente o golpismo do antipetismo carregado de ódio fabricado para eleger Bolsonaro, pois são notórios os avanços propiciados pelos governos do PT, mesmo continuando o projeto neoliberal nas contradições inerentes do sistema capitalista.

Bolsonaro foi eleito, sim, nas regras do jogo e de forma “legítima” até prova em contrário sobre uso de recursos proibidos – apesar e graças às mentiras espalhadas.  Mas, as regras do Capital são mais poderosas. As contradições materiais do sistema não garantem sua condição formal de investidura, assim como aconteceu com Dilma Rousseff, personagem epicentro da abertura da Caixa de Pandora que despejou esse nevoeiro fétido de problemas do atual golpismo sempre à espreita.

Só que no caso dela o cinismo do golpe vexou depois os próprios golpistas a ponto de eles mesmos reconhecerem a cambulhada em que se meteram e verem agora seu partido ir para o brejo. No caso de Bolsonaro, o vexame já está instalado mal acabando o terceiro mês do governo, e podendo cair agora ou mais para frente antes de terminar o mandato. Um verdadeiro vexame do Brasil que nos convida a parar para pensar sobre como o voto é coisa muito séria. Coisa de sociedade madura e não infantilizada ou imbecilizada.

Um clima de tédio, medo e sentimento de devastação é o que a extrema-direita quer nos incutir para promover a imobilização das pessoas de bem. A direita quer a nossa prostração e exaustão. Entretanto, o crescimento das forças de direita no Brasil e no mundo também tende a provocar o crescimento das forças de esquerda, sejam estas encarnadas formalmente em partidos comunistas ou socialistas, mas também em movimentos, organizações e outras formas de ação de gente também progressista e democrata (já que comunistas também são democratas) não necessariamente militante ou identificada com programas partidários específicos.

Mas, claro, todo cuidado é pouco na identificação de “gente progressista e democrata”. Embora essa expressão possa denotar algo supostamente unânime e consagrado, acaba sendo utilizada por golpistas e manipuladores, a exemplo dos movimentos de direita nascidos em São Paulo apoiados pela Fiesp para ajudar a derrubar Dilma Rousseff. A democracia ainda é um grande mal entendido para muita gente, e a história de vários países mostra que a direita sempre quer menos democracia, ao contrário da esquerda.

Aqui não é o lugar para esmiuçar as razões deste crescimento de forças opostas, pois implicaria análise mais extensa sobre temas diversos de um conjunto complexo de fenômenos. Arrisco apenas a dizer que não se trata de uma “escolha” pessoal ser de direita ou de esquerda, mas sim da assunção de posições resultantes das interações conflituosas das contradições decorrentes, dentre outras coisas, das relações de produção com a distribuição de recursos da sociedade. Daí casos frequentes de gente que se bandeia de um lado para o outro, conforme conjunturas, correlação de forças, apostas arriscadas, decepções e frustrações.

De que lado queremos ficar, essa é a questão. Dos mais pobres das periferias das grandes cidades, da classe média trabalhadora e explorada, dos pequenos e médios empresários, dos grandes empresários preocupados (se houver) com um projeto nacional, dos funcionários públicos batalhadores, dos pesquisadores acadêmicos dedicados à ciência em geral e voltados para os interesses do Brasil, dos militares defensores dos nossos recursos estratégicos, dos professores, médicos, policiais, bombeiros, pequenos comerciantes, empregadas domésticas e outras categorias pessimamente remuneradas ou dessa gente que está espoliando o país e mandando o nosso dinheiro para fora com a ajuda dos despachantes de luxo desempenhados por políticos e autoridades judiciárias vestais?

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