Um dia, dois caminhos

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Na manhã desta quinta-feira, 2 de abril, foram esboçadas duas saídas para a profunda crise em que estamos metidos. Ambas são difíceis. A primeira é o rumo ao caos e a segunda, a rota da reversão do mergulho.

A ROTA DO CAOS
A divulgação e incentivo por parte de Jair Bolsonaro do vídeo de uma mulher desesperada por falta de trabalho é terrorismo dos mais abjetos. Na porta do palácio, sob a aprovação do chefe do Executivo, ela clama pelo exército nas ruas para depor governos estaduais e calar a imprensa.

O boçal insufla o desespero popular e vê nele a maneira de seguir dirigindo a agenda nacional.

Há razões de sobra para o desespero da mulher. Ela expressa a insegurança real de milhões de brasileiros. A solução óbvia seria fazer dinheiro emergencial chegar às mãos do povo por parte do Estado, assim como às empresas, para que não demitam. A medida, embora insuficiente, já foi aprovada e está perdida em alguma tubulação burocrática providencial. Não chega porque quem decide não quer que chegue.

Bolsonaro é óbvio em sua tática genocida. Duas semanas após o início da crise, o governo segue em sua rotina burocrática e nos jogos de cena do ministro Mandetta e da trupe de desqualificados que quase diariamente aparece em público para mostrar um serviço que não é feito.

Diante da previsível explosão popular, o capitão erguerá o dedo e a voz e acusará os culpados: aqueles que fecharam o comércio, as fábricas, os pequenos negócios e impediram as pessoas de trabalhar.

O binômio crise e oportunidade será então materializado às avessas para o criminoso que comanda o país. O aprofundamento da tragédia anunciada é a chance de ele se colocar a cavaleiro da situação, investindo contra as medidas preventivas tomadas ainda de forma incompleta por governadores e prefeitos. A confusão é o terreno para o fascismo brasileiro vicejar.

É a rota para se alcançar o que Bolsonaro deseja – pesada repressão pelas forças de segurança e sua consagração como líder que botará ordem no galinheiro.

Bolsonaro quer cadáveres. Formam os troféus almejados para comandar o ressentimento e a raiva popular que irromperão nas próximas semanas. Ele não tem a menor condição de reunir forças para um retrocesso autoritário. Mas faz o cálculo de que a deterioração da vida nacional o ajuda.

A ROTA DA ESPERANÇA
Mas o grande sinal do dia, contudo, não foi esse. Foi a troca de tuíteres entre Lula e Dória, com desejos convergentes de ação.

Apesar do homem forte da Economia do governo Dória ser o comandante da moeda sob Lula, os dois têm rotas políticas distintas.

Dória apostou em Bolsonaro nas eleições, deu seguidas rasteiras em Geraldo Alckmin, seu padrinho, e é o tipo acabado de um riquinho oligárquico da direita. Não titubeia em flertar com o perigo, quando isso lhe convém. Lula é um dos mais populares e hábeis políticos brasileiros e caminha coerentemente pelo centro democrático. Nas eleições de 2018, os dois traçaram rumos opostos. Agora, diante da catástrofe, percebem que caminhar separados é um mau negócio.

Se a convergência continuar, com os seguidos acenos do ex-presidente a Ciro Gomes e outros líderes progressistas ou de esquerda, vislumbra-se esperança no horizonte imediato.

Há um fator essencial a ser levado em conta. Ao contrário de “Time is on my side” – clássico dos Rolling Stones -, o tempo não está ao lado dos democratas. Tudo agora é urgência, tudo tem de ser para ontem. Empurrar a crise com a barriga é a arma de Bolsonaro.

Sim, tudo é difícil. Mas é preciso ressaltar os dois caminhos apontados na quinta-feira, o do caos e o da convergência democrática.

E há o tempo político. Este é implacável.