O domingo truculento como único ansiolítico de Jair Bolsonaro

O domingo truculento como único ansiolítico de Jair Bolsonaro
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Cansado, estressado, orelhas permanentes, sangue nos olhos, ira, palavrões, impaciência, desequilíbrio e mentiras seguidas de mentiras – algo tira o sono do presidente da República não é de hoje – e todos já sabemos o que é.

Além de tudo que já foi revelado, a gravação da famosa reunião ministerial de 22 de abril também fez transparecer a alternativa, mas não o motivo, dos que consideram a possibilidade de ser levados aos tribunais após o término do mandato: sair do país, como Bolsonaro mesmo manifestou em dado momento caso não concretize seu projeto sabe-se lá do quê.

Se é um projeto de ditadura, seria para fazer o quê, exatamente? Prender governadores, ministros do STF, prefeitos, deputados estaduais e federais, juízes, promotores, além de jornalistas e blogueiros, para implantar uma colônia setecentista de escravos para grandes forças do capital rentista?

Acabar com a federação implantando um estado unitário comandado por milícias? Unitário que não seria nem monarquia, nem república, nem democracia nem protetorado. Romper relações internacionais?

Seu estresse e sua ira, evidentemente, não são por preocupações relacionadas à frustração de eventuais programas de políticas públicas – isso vai ficando cada dia mais evidente.

Pandemia? Algo abstrato demais para Bolsonaro e seus seguidores. Dane-se quem tiver o azar de morrer, famílias das vítimas e as próprias vítimas, essa é a disposição do governo.

Bolsonaro só tem conseguido sorrir com ares de vitória e caminhar placidamente para a galera nesses protestos bizarros que vem se repetindo aos domingos, em Brasília. Só nesses momentos. Marketing de acumulação de pontos, digamos assim, para manter a fidelidade e lealdade dos seus apoiadores e evitar as perdas que vêm acontecendo já há algum tempo. Gabinete do ódio. Ganha e perde apoios e depois volta a ganhar, perde de novo… e assim vai.
O domingo truculento como único ansiolítico de Jair Bolsonaro
A tal reunião ministerial revelou também que seu estresse se agrava porque cada ministro (aliás, gente da pior qualidade em termos políticos e gerenciais) está preocupado com seu quinhão de benesses e não com um “projeto” de governo.

Tanto que ele teve que reforçar, não sendo a primeira vez, que quem manda é ele – e cobrou mais atenção à “política” por parte de seus ministros. Quem precisa reforçar hierarquia o tempo todo é porque antevê fissuras e rachaduras. A reunião mostrou também isso, que Bolsonaro não confia em seus ministros.

E o desqualificadíssimo da educação aproveitou para dar aquela puxada de saco como se dissesse “estamos juntos, presidente”. Enfatizou, todo metido a valente, que não veio para entrar no jogo, mas sim para lutar. Golpista assumido. Talvez o de mais quinta categoria junto com a ordinária e esquizoide Damares.

A reunião revelou que o sujeito mais estressado do país se chama Jair Bolsonaro, e não é para menos. Em vez de governar, continuou fazendo campanha. Descontrolou-se totalmente e nunca mais conseguiu se recompor depois que cresceram as repercussões da questão do porteiro do seu condomínio no Rio de Janeiro, no caso Marielle, e das tais rachadinhas do seu filho senador quando este era deputado estadual.

Além disso, não tem como governar quem não tem planos e projetos. Há duas perspectivas em vista: ou o afastamento por impeachment, que muitos do campo democrático temem, se o processo fosse iniciado agora, em face da duvidosa correlação de forças dentro do Congresso e como seria esse grito nas ruas.

Ou ele “cair de maduro”, processo que só pode ser decidido pelo andar da carruagem da economia nos próximos dois anos. E pelos pedregulhos e percalços é carruagem mesmo, impossível de se transformar em trem de alta velocidade ou foguete.

Conforme amplamente repercutido, Bolsonaro “confessou” mais uma vez que está armando a população, corroborando um dos seus primeiros atos (o decreto das armas) quando assumiu o governo. Algo evidentemente clandestino, fora da lei, contra a ordem pública. Tem que ser chamado ao Congresso para se explicar, além de outras medidas do Ministério Público.

Entretanto, seu estresse revelou também não controlar tudo e todos. Disse que seu sistema particular de informações (clandestino, ilegal?) é muito superior ao das Forças Armadas. Que, se dependesse dessas, estava mal parado. Tanto que, de dentro do governo, começaram a cobrar dele maior rigor também em relação ao Comando do Exército.

Fica manifesta, assim, sua preocupação também com o humor de certos setores estratégicos e não só com o sistema político e a divisão e independência de poderes. A nomeação de tantos militares em seu governo revela uma contradição.

Os nomeados têm benesses de cargo e função, mas precisam apresentar resultados de políticas públicas. Devem odiar ter que aparecer perante jornalistas. Pergunta: militares fora desse jogo, da ativa e da reserva, não nomeados, estariam “juntos” com essa turma para que e por quê?

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