Ecotrabalhismo não é sustentabilidade, é regeneração

É comum hoje em dia encontrarmos prêmios ou selos de sustentabilidade como validação para empresas, maquiando sua exploração predatória dos recursos naturais. É por essa questão que o Ecotrabalhismo vai além de ser um movimento ambiental e se apresenta enquanto uma mudança de mentalidade, de filosofia.
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“Ecologia sem luta de classes é jardinagem”, Chico Mendes.

Por Iberê Moreno – É comum hoje em dia encontrarmos prêmios ou selos de sustentabilidade como validação para empresas, maquiando sua exploração predatória dos recursos naturais. É por essa questão que o Ecotrabalhismo vai além de ser um movimento ambiental e se apresenta enquanto uma mudança de mentalidade, de filosofia.

Nossa preocupação se amplia para mais do que o momento imediato. Não é só sobre plantar mais, mas sobre como isso se integra à realidade, tanto no presente como no futuro. Parafraseando Ciro Gomes, entendemos que o Ecotrabalhismo é o caminho de sonhar com o futuro que queremos enquanto caminhamos firmes com os pés no chão.

Meio ambiente envolve todas as pessoas. Não existe algo no nosso globo que seja fora da Natureza, mas nossa política raramente encara a natureza como ator político, como uma dimensão que deve ser considerada em qualquer política pública, assim como são os seres humanos.
Por isso, precisamos pensar a natureza como parte da política. Não como um adendo, mas um fator primordial na hora de se pensar qualquer ação. Países como Equador e Bolívia já deram alguns passos nesse sentido, transformando constitucionalmente a natureza em parte ativa da política de seus países.

Pensar soluções mais ecológicas não é apenas olhar quantos parques ou áreas de conservação foram formadas: é entender como os seres humanos também interagem com a natureza, da qual fazem parte. Pensar o Ecotrabalhismo é pensar de fato uma ecologia, colocar a centralidade da lógica nos seres vivos e no ambiente que eles habitam.

É ir além de uma busca por algo que se sustente e promover políticas que ajudem a regenerar o ambiente e a reorganizar a divisão social do trabalho. O que rege as nossas relações humanas não pode continuar sendo apenas o dinheiro. Precisamos, portanto, de uma mudança radical no nosso paradigma de “progresso” e “desenvolvimento”.

Os pensamentos políticos dos séculos XIX e XX, tanto na esquerda quando na direita, não integravam o meio ambiente como parte da construção da nossa realidade, como dimensão da vida em sociedade. Isso fez com que desprezássemos e destruíssemos a casa onde vivemos, relegando a pauta ambiental para um segundo ou terceiro escalão.

Curiosamente, durante os anos 1990 e 2000, o Brasil vinha sendo pioneiro nesse debate de uma renovação política que adotasse uma visão mais ecológica, fomos sede do maior evento político de debate ambiental em 1992. Mas com o passar dos governos, e as tensões políticas, fomos perdendo espaço nesse debate, culminando no Governo Bolsonaro, que está queimado todo prestígio internacional que tínhamos nesse tópico, juntamente com os nossos biomas. Em um completo descompasso com a realidade do nosso globo, acabamos por nos tornar tacanhos destruidores.

É importante acrescentar nesta análise que a questão ambiental é a nova fronteira do debate político internacional. O Governo Biden usará essa bandeira como principal tópico para seus enfrentamentos internacionais. Afinal, a questão ambiental (materializada no Green New Deal) foi a moeda de troca para que a ala mais à esquerda do Partido Democrata, liderada por Alexandria Ocasio-Cortez e Bernie Sanders, apoiasse esta candidatura mais conservadora.

Da mesma forma, no âmbito religioso, temos um crescimento dessa preocupação. O Papa Francisco, como seu primeiro ato papal, e um dos mais emblemáticos, lançou uma encíclica que reafirma que “tudo está conectado”, de forma a apontar como um um dever cristão a preservação ou a recuperação ambiental.

E agora, no Brasil, começamos a ver esse debate ganhando novos contornos com novos atores de divulgação. Emicida, no sensacional documentário AmarElo, além de citar lideranças pedetistas, foca bastante sua narrativa no quanto a relação com a natureza reacendeu seu amor pelas pessoas e pelo nosso país.

De nada adianta pensarmos possibilidades de desenvolvimento econômico se não levarmos em consideração a necessidade que temos de garantir um Brasil mais ecológico. O PND, nesta terceira década do século XXI – considerada decisiva para o futuro do planeta, do ponto de vista climático -, precisa estar lastreado numa visão inovadora acerca do potencial econômico da biodiversidade e dos biomas brasileiros.

Todo brasileiro tem o direito de uma vida mais integrada ao verde. Não é preciso tecer aqui o quanto isso é bom para a saúde física, mental, emocional e, por que não dizer, para a saúde social. Os governos, nos níveis municipal, estadual e federal, deveriam sempre criar amplas frentes de emprego voltadas para o reflorestamento, para a recuperação de nascentes e a despoluição de rios, lagos, lagoas, enseadas e baías.

É emergencial um reordenamento das relações de trabalho de forma que os processos produtivos sejam não apenas benéficos para a sociedade, mas também gentis com nosso planeta, de maneira que sempre almeje a regeneração do impacto causado. Isso vale tanto para os postos atuais de trabalho quanto para os novos postos que surgirão.

Mesmo dentro dos limites urbanos, é possível gerar muitos milhares de postos de trabalho, com programas voltados para o reflorestamento urbano, a construção de jardins de chuva, o reaproveitamento de resíduos sólidos através da compostagem, o aproveitamento do biogás, a captação de água da chuva, a construção de ciclovias arborizadas etc.

Precisamos, desta forma, repensar não apenas os modos de proteção das matas ou como elas podem ser reflorestadas, mas pensarmos em quem se beneficia, em como isso vai ecoar ao longo do tempo. Precisamos pensar nas novas gerações. Justamente por isso adotamos uma lógica ecológica, temos a consciência do entrelaçamento do meio ambiente natural com o meio ambiente social.

A urgência ecológica é presente, é algo inadiável. Assim, enquanto movimento, queremos abrir um espaço de encontro. Queremos, com essa provocação, abrir um debate e tentar construir com todos os demais movimentos a compreensão do país que queremos e podemos construir.
Ecotrabalhismo não é só Meio Ambiente, é regeneração das relações, no trabalho, na sociedade e com a natureza!

Pela nossa Soberania! Pelo Socialismo Moreno!

Por: Iberê Moreno.
Professor de relações internacionais, historiador e militante do Ecotrabalhismo SP.

É comum hoje em dia encontrarmos prêmios ou selos de sustentabilidade como validação para empresas, maquiando sua exploração predatória dos recursos naturais. É por essa questão que o Ecotrabalhismo vai além de ser um movimento ambiental e se apresenta enquanto uma mudança de mentalidade, de filosofia.