Eleições 2020 – Derrota da polarização e da antipolítica

Quem levar o discurso econômico de Bolsonaro, que os liberais desesperados agora querem jogar na conta do intervencionismo, não deve ir muito longe em 2022. Daqui até lá, essa história ainda vai ficar muito pior pra eles. Muito, muito pior.
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Ainda é cedo para traçar uma fotografia adequada das eleições de 2020. Os embates de segundo turno definirão em grande medida algumas avaliações mais finas das eleições.

Se o PDT perdesse por exemplo Fortaleza ou o PSB Recife, isso impactaria fundamentalmente a avaliação do desempenho dos dois partidos. Se o PSOL vencesse São Paulo, impactaria brutalmente a avaliação de seu desempenho.

Mas até aqui parece irreversível constatar a diminuição do PT e do bolsonarismo. Eles são os grandes derrotados dessa eleição, e sem dúvida muito mais o bolsonarismo, pois o PT já vinha em situação difícil.

Não se pode deixar de reconhecer que o PT demonstrou força de chegada (bem menor que a antiga) e capilaridade na cidade de São Paulo, mas ao mesmo tempo, perdeu lá para o MBL e caiu ainda mais em número de prefeituras, até o momento que escrevo, 178. No seu berço político, o ABC, o PT sofreu só derrotas acachapantes. Luís Marinho, ex-CUT, ex-ministro e candidato a governador em 2018, perdeu de 67% a 23% na cidade de Lula. Em capitais, só tem perspectiva em Recife e Vitória, duas paradas duríssimas. Seus candidatos potenciais, Ruy Costa e Flávio Dino (do PCdoB), sofreram derrotas muito expressivas nas capitais de seus estados. Manuela, única aposta do PCdoB, perdeu o favoritismo no segundo turno em Porto Alegre.

Da mesma forma o Bolsonarismo foi ao segundo turno em capitais importantes, como Fortaleza e Rio de Janeiro, mas a tendência é ser derrotado. É uma derrota acachapante para a onda que varreu o país em 2020. O ultraliberal, praticamente anacap, partido NOVO, e talvez essa seja a melhor notícia do Brasil, teve o pior desempenho entre todos os partidos brasileiros. Não elegeu prefeito algum no país inteiro. O NOVO é o pior partido do país também em número de vereadores, 29. O dinheiro de seus milionários candidatos não bastou. Parece ter se afogado na identificação com o bolsonarismo.

PDT é o maior partido progressista do Brasil em número de prefeituras, 310 até agora. O maior partido progressista em número de vereadores, 3417 até agora. Ganhando Fortaleza e Aracajú consegue claramente manter seu tamanho. O segundo partido progressista em prefeituras e vereadores é o PSB. Juntos, seríamos o segundo partido do país em vereadores e quarto em prefeituras.

Apesar disso, o PDT mostrou fragilidade e falta de capilaridade para eleger bancada de vereadores em São Paulo, Rio e Recife. No entanto, vencendo Fortaleza e Aracaju, onde vai ao segundo turno como favorito, e com a eventual vitória da aliança PDT-PSB em Recife, Maceió e Rio Branco, a liderança do progressismo brasileiro estaria claramente com estes partidos aliados.

O PSOL, que o Moro e a Globo agora dizem que é a nova liderança da esquerda, fez quatro prefeituras no Brasil inteiro. Até agora, 83 vereadores. Só vence do Partido da Mulher Brasileira e do NOVO, o que aliás, é ótima notícia. No entanto, mostrou enraizamento nos grandes centros urbanos fazendo 6% dos votos para vereador neles. Nisto superaram o PT, como em São Paulo, e assumem a cara da esquerda “pura”, que o PT já havia perdido há muito, muito tempo.

Por fim, temos que reconhecer alguns aspectos gerais. O fim da coligação proporcional ajudou partidos maiores e com perfil ideológico mais definido. Os candidatos novatos ou “antipolítica” fracassaram de forma quase universal no Brasil, que escolheu nomes experientes. E é claro, a direita venceu as eleições municipais, como sempre. Essa sempre foi a tendência no Brasil. As tendências mais nacionais só podemos observar nas capitais. No Brasil profundo eleições municipais são eleições propícias para o empresário local, o fazendeiro, o oligarca. O PSD está se juntando ao time dos grandes partidos brasileiros. O DEM cresceu. O MDB é ainda o partido mais enraizado do país.

Mas eleição para presidente é uma estória totalmente diferente. Bolsonaro e Alckmin que o digam.

Quem levar o discurso econômico de Bolsonaro, que os liberais desesperados agora querem jogar na conta do intervencionismo, não deve ir muito longe em 2022. Daqui até lá, essa história ainda vai ficar muito pior pra eles. Muito, muito pior.