Como enfrentar o fascismo no Brasil dos milicianos?

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O episódio trágico de ontem envolvendo o senador Cid Gomes, do PDT, e a atuação de encapuzados agindo como milicianos em cidades cearenses evidenciou contradições e expôs a urgência de debates no conjunto da sociedade sobre muitas questões.

A primeira delas é que a extrema direita segue ditando o tom da narrativa explorando polarizações latentes e provando a quem quiser ver como estão formando ideologicamente milhares de pessoas em uma cruzada cega em defesa daqueles que defendem os valores hoje entrincheirados no apoio a Jair Bolsonaro. Em condições normais, os bolsonaristas exaltariam aqueles que partissem pra cima de grevistas encapuzados e amotinados cujas práticas de terror e caos apavoram o cearense. Como o operador da retroescavadeira era o pedetista Cid Gomes, num estado governado pelo PT, o discurso é outro e manejado sob medida pela máquina de propaganda nazifascista à disposição da extrema direita. Imaginem se a mesma situação envolvesse professores paulistas em greve postados em frente a uma retroescavadeira pilotada por um deputado do PSL, por exemplo.

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A confusão de posições no conjunto da esquerda é outro elemento a ser estudado. Uma situação de tamanha complexidade não permite julgamentos apressados nos tribunais das redes sociais, a não ser a solidariedade imediata ao senador Cid, mas houve quem comparasse as duas ações, a dos milicianos com instintos homicidas e a do senador, mesmo tratando-se de uma sublevação com potencial de minar a autoridade do Estado. A nota do PT, que presta solidariedade ao governador Camilo e não cita as balas cravadas em Cid, poderia não ter sido escrita, de tão evasiva e nitidamente rançosa, insuflada pelas rusgas que PDT e PT vêm travando no debate político nacional. Além disso, é curioso ver tanta gente que prega que o fascismo se combate com valentia, no soco ou na bala e não nos gabinetes, agora entendendo a “legítima defesa” alegada pelos milicianos para atirar em Cid. Não estamos falando de manifestantes grevistas, de policiais no exercício da função, mas de encapuzados ameaçando comerciantes, trabalhadores e controlando batalhões de polícia, destruindo viaturas, patrimônio público e deixando a mercê um dos estados mais populosos do Nordeste.

O batalhão foi retomado, e o gesto ajudou o governador Camilo Santana a restabelecer a situação.

Por fim, e mais importante, é a importância de encarar de frente o debate sobre o modelo de segurança pública vigente no país. Apresentar novas perspectivas e possibilidades de gestão das polícias nos estados e como os municípios podem contribuir com o tema é de suma importância. A forma vaga como se fala em desmilitarização das polícias e a ausência de proposições efetivas nos programas políticos de esquerda num país onde morrem 60 mil pessoas assassinadas por ano acaba sendo um desserviço e joga nos braços do discurso enfadonho neofascista milhões de brasileiros que não conseguem enxergar outras hipóteses diante de tanta violência e criminalidade.

Saídas autoritárias estão longe de ser a solução. Pegar uma retroescavadeira para atropelar grevistas em atos pacíficos seria condenável. Porém é inadmissível que em tempos de escalada fascista coloquemos disputas eleitorais e partidárias acima da realidade e tenhamos a capacidade de discutir, pra além de teorias, qual a melhor maneira de enfrentar arroubos fascistas.

Toda solidariedade ao senador Cid Gomes e espero que restabeleça sua plena saúde logo!

Por Leonardo Aragão