Não só o Brasil, mas a esquerda brasileira também chegou ao fundo do poço

Esquerda brasileira
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Sem lamentações ou ressentimentos, os fatos são eloquentes e duros para mostrar que a esquerda brasileira, se é que temos uma, chegou ao fundo do poço, destroçada em termos de propostas – atônita e desorientada, limitando-se a passar recibo para os xingamentos e ofensas dos neofacistas.

Evidente que descalabros administrativos e discursivos têm que ser arrostados e enfrentados institucionalmente e– com todo o respeito a parlamentares do PT e demais partidos do campo democrático – não podemos deixar de reconhecer que muitos políticos com mandato enfrentam e fazem o que podem nas suas investiduras.

O fundo do poço se materializa na assunção de apoios de certos setores da esquerda a neoliberais que vêm se apresentando como alternativa plausível e aceitável para 2020 ao governo de Jair Bolsonaro, este que tem sido a expressão maior da retroescavadeira ultraliberal que aprofundou o fundo do poço brasileiro após a abertura da Caixa de Pandora do golpe que derrubou Dilma Rousseff em 2016.

O exemplo recente e recorrente é a badalação midiática do nome do ex-presidente do Banco Central da Era FHC, Armínio Fraga, como alternativa de proposta neoliberal palatável e plausível, isto é, uma meia bomba de perspectiva econômica com preocupações sociais.

Nome que seria a consolidação da ocupação dos espaços de uma espécie de centro-esquerda. Nome que contribuiu para a destruição da própria esquerda no auge do receituário neoliberal da década de 1990, destruição que já acontecia, claro, desde os tempos da ditadura.

Em termos concretos e reais do caso específico, imagino que o termo “centro-esquerda” não deixa de ser uma forma de forçar a barra para encaixar significantes e significados. Mas revela a mistura de lama de dois fundos de poço: a situação a que chegou o Brasil em seus (des)limites de obscurantismo, sem perspectivas de um futuro decente, faz com que qualquer neoliberalismo adocicado com ingredientes sociais seja um respiro alvissareiro.

Vejam: não se trata de uma crítica a Armínio Fraga, tampouco a certos setores da esquerda que sinalizam apoio ao ex-presidente do Banco Central. É, na verdade, o atestado de uma situação-limite e, quem sabe, lamentavelmente, a rendição de forças, fatores e ideias dentro de conjunturas possíveis. Seria a continuidade do neoliberalismo com bolsa-família ou bolsa-qualquer-outra coisa sem transformações estruturais para perpetuar as desigualdades históricas entre ricos, classes médias e pobres.

Resumidamente, é a assunção do liberalismo político imbricado no liberalismo econômico do estadunidense Johw Rawls, segundo qual os ricos podem e devem enriquecer mais desde que os pobres ganhem também alguma coisa.

Lula talvez tenha muita responsabilidade recente nisso tudo ao não abrir mão de sua candidatura em 2018, num momento de adversidades políticas, econômicas, jurídica se eleitorais. Não fez, por exemplo, como Cristina Kirchner, que, ao aceitar ser candidata a vice numa chapa eleitoral, conseguiu derrubar o governo defensor dos fundos abutres, na Argentina.

Se era para chegarmos a esse ponto, entre a cruz e a espada de um neoliberalismo como fato inexorável, Ciro Gomes talvez tivesse revolvido a lama de dúvidas do fundo do poço, dúvidas de diferentes setores à direita e à esquerda – e, quem sabe, estivéssemos hoje em outra direção.

Mas, como a política não se faz com futuro do pretérito, mas sim pensando no futuro simples, ainda que complexo (e inexistente) por suas incógnitas, temos sempre que lembrar que o voto é uma aposta institucionalizada e não um cheque em branco. Não um aval às cegas a qualquer política pública, muito menos a vestimenta de camisa ideológica pura sem contradições.

Para não ficarmos engrossando o caldo do antipetismo de forma involuntária e temerária, lembro que a destruição da esquerda faz parte de um longo processo para o qual o próprio PT contribuiu ou foi levado a contribuir pelas condições históricas do seu percurso.

E o fez, não por conspiração novelística de traições assombradas, mas sim dentro da trajetória contraditória em que setores remanescentes da esquerda destroçada pela ditadura se aglutinaram no partido por falta de outras opções e/ou por interpretações distintas da realidade, além de resistência a opções mais firmes e radicais.

Se ressentimento e futuro do pretérito não têm valor prático para a política, saudosismo também não. Porém, tirando Leonel Brizola, sempre coerente, mesmo em períodos históricos distintos, aquilo que chamamos de forças progressistas, após a redemocratização do país, embarcou no neoliberalismo em 1990 e continuou esse neoliberalismo na década seguinte com muitos avanços, é verdade, para depois, parte dessas forças sofrer golpe perpetrado por outras partes aliadas de Armínio Fraga e da direita que elegeu Bolsonaro.

  1. A confusão de idéias presentes no texto revela que o autor é vítima da própria crise da esquerda que ele denuncia. É compreensível e espero não parecer arrogante e indelicado, pois não me julgo superior intelectualmente ao autor, nem menos confuso. Mas tenho um diagnóstico contrastante. A crise da esquerda brasileira faz parte da crise da esquerda internacional, e se operou, primeiro, no plano da ideologia e, a seguir, no plano político, tendo começado muito antes da queda do muro de Berlim e do fim da URSS. Foi um produto da vitória dos EUA sobre a URSS colhida durante a Guerra Fria. Sua primeira e decisiva manifestação, que foi como a peça de dominó que desencadeiaria a queda das demais, foi o XX Congresso do PCUS e as denúncias de Kruchov sobre os supostos crimes de Stalin. Entenda-se: nao foi o dirigente comunista e seus pretensos crimes que se atacou naquele Congresso, não era essa a intenção, mas a concepção de partido idealizada pelo marxismo-leninismo para fazer frente às forças políticas e ideológicas do “Imperialismo, fase superior do capitalismo”. Naquela oportunidade, os agentes dos intereses da burguesia russa infiltrados no partido comunista da URSS, travestidos de comunistas ” democráticos”, atacavam muito mais Lênin do que Stálin. Naquele momento, foi quebrada a unidade do movimento comunista internacional que, combinada com o sucesso do Estado de Bem Estar na Europa pós Segunda Guerra, sendo esse o modelo de “capitalismo humanista” defendido pela Socialdemocracia (pelo PT, de Lula), e sendo também o referido Estado de Bem Estar parte integrante e profundamente sutil e maquiavélica do instrumental da citada Gurra Fria, cujo propósito era destruir o campo socialista (o que, de fato, viria a acontecer), enfraqueceria acentuadamente a única força política e ideológica consequente, capaz de objetivamente opor ao capitalismo uma alternativa concreta, que sempre foi e será o socialismo científico criado por Marx e Engels. Os partidos comunistas europeus se degeneraram em eurocomunistas, se transformando na socialdemocracia II. A bandeira da comunista foi foi desbotada. As academias passaram a produzir toneladas de textos (postos que o suporte era o papel e a circulação das falácias revisionistas ainda não havia sido digitalizada) que misturavam Marx com os liberais iluministas, e federalistas ianques, propagandeando as benesses do “socialismo democrático” em oposição à “desumana” ditadura do proletariado, a Revolução Socialista foi declarada fora de moda, pois, caluniando Gramsci, evocaram seus escritos, como se fosse esse a finalidade última de seu esforço em escrever os seus “cadernos”, buscando provar que o caminho do assalto por dentro do Estado burguês estava aberto, que uma transformação evolutiva do capitalismo em uma sociedade melhor, pós-capitalista (não necessariamente socialista, perceba!) era possível, pois existia, não era difícil encontrar, na,…,na,…Europa, entre os nuruegueses, suecos, holandeses, dinamarqueses, filandeses, pigmeus (perdao!, entre os pigmeus,não)…Para concluir de forma um pouco atabalhoada, motivado apenas pela dificuldade de dedilhar esse texto no celular, penso que, a única esquerda que pode ser resgatada é a revolucionária,a que foi vitoriosa em 1917, na Rússia, em 1949, na China, em 1959, em Cuba, no Vietnã, na Coréia. Para tanto, urge reconstruir o movimento comunista internacional, os partidos do proletariado; proletariado que, por incrível que possa parecer, a “esquerda” pós-moderna também afirma que não existe mais, tal é o grau de desorientação cognitiva operada pela vitória da ideologia imperialista na subjetividade dessa “esquerda” Brancaleone, eliminando da reflexão de indivíduos que acreditam honestamente que lutam por um mundo melhor, não apenas o papel de protagonista da História atribuído pelo marxismo ao proletariado, mas o próprio proletariado.

  2. Desculpe-me, a esquerda não chegou ao fundo do poço. Talvez o PT tenha chegado, mas o PT, não é de esquerda, no máximo uma social-democracia travestida de esquerda, aliás, bem conveniente a extrema direita assim taxar o PT! Os comunistas, hj, estão na vanguarda e empenhados, junto com democratas de varias matizes ideológicas, socialistas, sociais-democratas, trabalhistas, ambientalistas, entidades da sociedade civíl, movimentos populares, associações, na formação de uma Frente Ampla, em defesa da Democracia, contra um governo de natureza nazifascista de bolsonaro e seus adeptos. O PT, como sempre, que não rompeu com as políticas neoliberais, quando tinha o poder e apoio da sociedade, continua se achando o centro do mundo. Essa empáfia do PT e de Lula, deu no que deu, bolsonaro. A lição, foi aprendida, menos para o PT. Frente Ampla, pela democracia já! O fundo do poço, é para quem não aprendeu a lição e se acha o centro do mundo, da política!

  3. Incrível como todo Cirista joga na conta do PT a eleição de Bolsonaro. Esquecem que durante anos a mídia, jornalistas (Reinaldo Azevedo, Raquel Sherazade, Sarnenberg, Merval e etc), lançaram notícias falsas, capas de jornais e matérias gigantescas em seus noticiários convencendo o povo de suas fake news. Chega a ser triste e sem credibilidade esse tipo de análise.

  4. Incrível como todo Cirista joga na conta do PT a eleição de Bolsonaro. Esquecem que durante anos a mídia, jornalistas (Reinaldo Azevedo, Raquel Sherazade, Sarnenberg, Merval e etc), lançaram notícias falsas, capas de jornais e matérias gigantescas em seus noticiários convencendo o povo de suas fake news. Chega a ser triste esse tipo de análise e da arrogância e a tentativa infantil do cirismo de se colocarem como os arautos da verdade.

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