A esquerda e junho de 2013

A esquerda faz uma leitura equivocada dos mega-protestos de junho de 2013, vinculando-os a uma escalada da direita liberal brasileira, associada com espionagem da NSA, com a derribada da popularidade de Dilma
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A esquerda faz uma leitura equivocada dos mega-protestos de junho de 2013, vinculando-os a uma escalada da direita liberal brasileira, associada com espionagem da NSA, com a derribada da popularidade de Dilma e com a costura da aliança entre Grande Mídia, Rede Globo à frente, e Ministério Público para barrar a PEC 37, que retiraria o poder de investigação do Ministério Público.

É verdade que, uma vez derrubada a PEC, ainda em julho e em plena crise dos grampos maciços que as agências de inteligência ianques praticaram em cima de autoridades do país e em executivos de estatais, se iniciou o monitoramento de conversas do doleiro Carlos Habib Chater, pontapé inicial da Lava-Jato.

Mas todos esses movimentos se aproveitaram das jornadas populares e do estupor de um governo que não sabia o que estava acontecendo nem como lidar com a situação. O PT havia desmobilizado sindicatos e o MST, e agora estava às voltas com uma verdadeira irrupção popular nas principais cidades do Brasil.

Tudo começou com protestos da própria esquerda, inclusive. O MPL [Movimento Passe Livre] saiu às ruas para resistir aos constantes aumentos do valor da passagens dos ônibus em São Paulo. A bola de neve cresceu rápido e engoliu a vida nacional.

As jornadas de junho desacreditaram o establishment, a grande mídia, o sistema partidário, gerando uma atividade disruptiva, uma onda de insatisfação e poder popular que não foi ainda corretamente compreendida e absorvida.
Anarquistas aproveitaram para desancar o Estado, surfando a decepção com um governo esquerdista que nada fazia para mudar as estruturas carcomidas da hierarquia social. Pobres partiram para a violência contra símbolos públicos, saqueavam mercados e participavam do quebra-quebra de ônibus e enfrentamentos contra policiais.

Mas o grosso dos manifestantes pertencia às classes populares mais remediadas e à baixa classe média, e gritavam contra o preço crescente dos serviços urbanos, a péssima situação dos serviços públicos e o escândalo que lhes pareciam as obras para a Copa do Mundo e Olimpíadas em um contexto social tão periclitante.

Um fator econômico que pode entrar na explicação da revolta desses estratos médios é a inflação de serviços sustentada pelo aumento sistemático do salário mínimo em uma economia que se desindustrializava rapidamente. Os custos dos salários no pequeno comércio, nos shoppings e demais serviços de baixa produtividade, setores que não possuem concorrência, foram repassados para os consumidores.

O arrocho bateu mais forte naqueles que se encontram entre os 50% da base da pirâmide de renda e os 10% do patamar superior. São esses que mais perderam participação na renda do trabalho durante a Era PT. O slogan dos ”vinte centavos” — símbolo de serviços de qualidade duvidosa, concessões públicas suspeitas, terceirizações malogradas — repercutia mais nessa parcela da população, os indignados de junho.

Por André Luiz dos Reis.