Floriano Peixoto: o Marechal de Ferro

Retrato de Marechal Floriano Peixoto. Pintura de Oscar Pereira da Silva. Obra que integra o acervo do Museu Paulista da USP.
Retrato de Marechal Floriano Peixoto. Pintura de Oscar Pereira da Silva. Obra que integra o acervo do Museu Paulista da USP.
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Floriano Peixoto foi um dos maiores líderes e governantes desse país. Tomou à frente do processo político em meio a um caos generalizado nos Estados, não só provocado por saudosistas da Monarquia mas também pela polarização em torno de Deodoro.

A disciplina do Exército estava na fossa, destruída por carreiristas cujas promoções eram feitas ao sabor do clima das ruas e pela pilha das elites civis. Havia também uma disputa pelas rédeas e pela idéia de República, com as oligarquias, e principalmente com a elite paulista, que buscava impor sua visão federalista e democrático liberal como meio de monopolizar o poder.

A economia estava em frangalhos por causa do Encilhamento e de uma explosão especulativa que ameaçava o sistema bancário. A elite financeira do litoral iniciava articulações com casas financeiras europeias interessadas em uma mudança de governo que oferecesse estabilidade.

Deodoro não tinha forças pra fazer valer sua vitória eleitoral sobre Prudente de Morais ou seu projeto de relativizar a Constituição. O Brasil logo estaria mergulhado em uma guerra civil nas antigas províncias do sul e que afetaria a política nacional. A Marinha se rebelaria, levando o regime republicano a um impasse.

Floriano foi o sujeito capaz de enfrentar esses desafios. Presidente sem respaldo constitucional, evitando as eleições exigidas após a renúncia de Deodoro antes de dois anos de mandato, fortaleceu o poder central, colocou ordem no Exército, e enfrentou a Revolta da Armada mobilizando um discurso nacionalista e anti-imperialista que denunciava a influência financeira europeia e invocava o pan-americanismo: os EUA ainda não eram sinônimo de imperialismo para a América do Sul e sim a Inglaterra.

No âmbito econômico, o governo de Floriano iniciou a reestruturação do sistema financeiro com o BRB, que implicava em forte nacionalização do setor e a consequente intervenção estatal, inclusive regulando o câmbio. Essas medidas e o protecionismo visavam proteger aquelas empresas que efetivamente haviam surgido durante o Encilhamento, com uma adoção de uma agência claramente pró-indústria.

O Marechal de Ferro apoiou nitidamente um lado na guerra civil, estabelecendo condições para a criação de uma tradição política, o florianismo, que permeou a escola de oficiais do Exército, a elite gaúcha e parte das camadas médias cariocas favorecidas com a expansão do funcionalismo público naqueles anos. Essa tradição sobreviveu à morte precoce de Floriano e é uma das mais poderosas raízes do getulismo.

Floriano Peixoto foi um dos mais importantes governantes do país. Muito mais precioso do que campeões da mídia e dos intelectuais liberal democráticos da Nova República, como o deletério Juscelino Kubitschek. É também uma fonte de inspiração hoje, tanto quanto era para o clã Vargas.

Por André Luiz Dos Reis