Organizações do Brasil e do mundo inteiro participaram na noite desta quinta-feira (15) da Assembleia Mundial em Defesa das Democracias, que faz parte da programação do Fórum Social Mundial que está acontecendo nesta semana em Salvador – BA.
Apesar da prevalência do tema “pelo direito de Lula disputar as eleições”, que se deu também em razão do destaque à presença do ex presidente no evento, a proposta da Assembleia era dar enfoque à luta pela reconstrução da democracia no mundo, mas acabou elevando os holofotes ao Brasil.
Tratou-se de uma tentativa de direcionar a crítica ao desmonte democrático implementado no país através da judicialização da política, da cultura da antipolítica partidária, da criminalização do campo progressista e dos retrocessos característicos de um Estado de exceção, como a intervenção federal no Rio de Janeiro, que atua como uma verdadeira política de luta de classes.
No entanto, para além do discurso da necessidade de luta e resistência em prol da recuperação das tradições democráticas, pouco se falou da urgência por um projeto nacional e da defesa da soberania nacional. As falas ali ouvidas resumiram-se a questões identitárias e desprovidas de autocrítica.
Beirou-se o populismo isento de propostas à implantação de uma efetiva reconstrução democrática por meio da (re)formação de um projeto de nação. Limitou-se aos avanços do Brasil nos último anos, já freados pela hegemonia econômica e cultural imperialista dos países centrais.
Rui Costa (PT), governador do estado da Bahia, a título exemplificativo, falou sobre a luta pela democracia como uma luta contra “a herança escravocrata no brasil e no mundo. Chegamos ao ápice da intervenção federal no Rio de Janeiro até a intervenção judicial dentro da política e da universidade. Tal não atinge só os políticos, como reitores e professores, e amanhã pode acontecer com os jornalistas. Nós temos que resistir e construir um país”. Mas qual país é esse? Qual é o projeto?
Em verdade, o destaque em minha percepção foi a apresentação do Ilê Aiyê, que representou a cultural nacional e, do que conhecemos, nadou à contramaré da massificação cultural, interligando a cultura popular brasileira ao pensamento progressista nacional.
Movimentou-se a massa, mas pouco se contribuiu à criação de uma verdadeira saída à crise econômica e sistêmica do Brasil e das demais periferias do mundo. E mais uma vez, o projeto nacional foi soterrado pela massificação cultural que atinge até mesmo o pensamento progressista, este sim o real alvejado dos tiros de Marielle e de sua história em defesa dos direitos do povo brasileiro oprimido.
E assim, permanece à mira o campo progressista, que somente poderá combater o neoliberalismo que o extermina por meio da construção de uma nova nação, forte e soberana, sob uma liderança que ouse enfrentar nossa condição de subdesenvolvimento, e que efetive a formação de um Brasil livre da massificação cultural e imperialista que permanece nos acorrentando.
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