França, Boulos e as eleições na Hong Kong brasileira

França não é “menos pior”; é de longe o candidato mais a esquerda, bastião da luta popular e patriótica na Hong Kong brasileira.

Que o cosplay de Crivella é o símbolo concreto da submissão colonial brasileira, não precisamos dizer. Sua vitória consolida a posição da aliança máfia-neopentecostalismo-CIA que tem uma função especial para São Paulo em seu projeto: feitoria para submeter o resto do Brasil. Mesmo papel que a Hong Kong brasileira vem desempenhando desde os tempos de Arthur Bernardes e Washington Luís.

Igualmente, é desnecessário chamar a atenção para o fato de Covas ser a encarnação do bolsonarismo ilustrado de Doria. Seu grupo pretende exercer hegemonia diretamente sobre as frações burguesas mais ligadas ao Imperialismo, sobretudo do capital financeiro, passando por cima do “cesarismo regressista” da família Bolsonaro. Manter o controle sobre a Hong Kong brasileira é essencial num momento em que essas frações burguesas organizadas no Lide parecem cada vez mais perder as rédeas do país depois de abrirem a caixa de Pandora no golpe de 2016…

Também não precisamos dizer nada sobre os flopados youtubers de direita que se acavalam por migalhas de voto. Mamãe Falei e a Ex Veja mostraram que são o que sempre foram: fenômenos vazios incapazes de encampar o programa de qualquer fração de classe e, portanto, propensos a naufragar. Pura aparência.

Mas é de pura aparência que temos que falar, porque uma parte significativa da militância parece mais uma vez afogar no canto da sereia. Boulos é o encantador da vez, cuja bela voz seduz uma playboyzada da Vila Madalena inclinada a se entregar a qualquer coisa que expie sua culpa burguesa despertada por psicotrópicos e terapia holística.

Boulos pode ser comparado a Mamãe Falei. Pura aparência, está destinado a desinchar uma vez que for instado a mostrar o que é. Agora, no momento de campanha, pode atrair uma classe média esclarecida, órfã de fetiches onde depositar suas frustrações. Dado o tamanho do PIB paulistano, essa fração da pequena burguesia pode se traduzir em um desempenho eleitoral razoável para o playboyzinho de esquerda.

Não é difícil conquistar o apoio dessa fração pseudo esclarecida. Basta rezar na cartilha da digestão moral da pobreza que os penitentes pequeno burgueses fazem procissão atrás. Agora, desafio a esquerdalha paulistana a responder o seguinte: qual é o projeto nacional do apoio ao Boulos?

Porque chegar chorando as pitangas de um (falso) projeto popular no tosco paradigma de “public policies” no quinto maior orçamento da Federação é, convenhamos, relativamente fácil. Comparem com o catastrófico cenário carioca e tudo fica ainda mais evidente, isso sem precisar invocar os pequenos municípios do interior do Brasil Profundo. Difícil é apontar como a vitória de Boulos constrói um projeto de emancipação nacional e popular dentro das limitações do conflito eleitoral, onde todos nós nos movemos, de Russomano até o PCO, querendo ou não.

É aqui que a defesa de Márcio França ganha mais peso. Já apontamos em outro texto por que seu programa é o mais a esquerda e com isso me desobrigo a repetir aqueles argumentos. Mas insisto que é na base de sustentação do PND e na viabilidade da eleição de Ciro Gomes onde reside o coração do projeto popular de Márcio França. Pela primeira vez é São Paulo que gira em torno do Brasil e não o contrário. Sabem o que França significa? São Paulo trabalhando pelo Brasil, e não o contrário. Alguém no Twitter formulou isso genialmente: “em qualquer estado nordestino, Márcio França já seria governador”. Não na Hong Kong brasileira, se depender dos herdeiros de Weffort.

A defesa de Boulos lembra aquele setores da esquerda deslumbrados com a social democracia escandinava que não percebem que as maravilhas da Suécia se assentam na nossa pobreza tropical. É insistir no mesmo erro que foi o petucanismo: acreditar que há emancipação possível em São Paulo que não passe por um programa nacional.

Só que é impossível ganhar em São Paulo somente como votos da USP, pelo menos nas eleições majoritárias. Como Boulos vencerá a (justa) resistência a seu nome na periferia, a evidente associação de seu nome com uma playboyzada cosmopolitana que nada sabe sobre a própria metrópole? Fração relevante dos petistas se debatem na fossa que se meteram, tentando manter sua independência. Poderão ser suficientes para inviabilizar a penetração da esquerda boêmia nos bairros populares. Mas é por essa estreiteza de possibilidades que podemos perguntar:

Quanto tempo até Boulos chamar o Meirelles?

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