Guilherme Boulos, o candidato a estagiário

Por Caio Pimenta – No ano de 2018 Guilherme Boulos participou pela primeira vez de um processo eleitoral como candidato, querendo ter como primeira experiência administrativa ser Presidente da República, o mais alto cargo chefe do país, que representa o papel de chefe de estado e chefe de governo. Ou melhor dizendo, assim como Bolsonaro, foram candidatos a fazerem estágio como Presidente da República, pois ambos carecem de experiência administrativa. Hoje podemos perceber o desastre do atual Governo, tanto por questão ideológica, quando pela falta de experiência.

O Partido Comunista Chinês, partido que governa a maior potência econômica mundial hoje, é especialista em selecionar políticos por experiência, tanto que existe um departamento de organização do partido com essa atribuição. O atual Presidente da China, antes de se candidatar a tal cargo, governou não somente uma, mas 3 províncias diferentes: “Começou como secretário do partido em nível de condado em 1969, chegou ao cargo de governador da província costeira de Fujian em 1999, então chefe do partido na província de Zhejiang em 2002 e, finalmente, Xangai em 2007” . Foram anos de trajetória política para chegar ao ponto de chegar a se candidatar ao cargo mais alto do país, diferentemente de Guilherme Boulos em 2018.

Agora em 2020, Guilherme Boulos participa do segundo processo processo eleitoral da sua vida, e agora quer ter então como primeira experiência administrativa, ser prefeito da maior cidade do Brasil, da América Latina, a ainda de todo hemisfério sul, na mais grave crise brasileira e mundial, de saúde e econômica devido principalmente, mas não somente a pandemia. Ou melhor dizendo, ele quer ser novamente candidato a estagiário, só que agora de prefeito.

Parece adequado que, considerando apenas o tamanho e importância de São Paulo, seja exigido por parte dos eleitores candidatos com experiência e bons resultados demonstrados. Desta forma seria possível comparar os resultados práticos das decisões tomadas pelos candidatos quando estavam dirigindo algum cargo de tomada de decisão, e assim avaliar se foi boa ou não a decisão tomada, e portanto a capacidade de cada candidato de tomar boas decisões. Além disso, observado o resultado prático desta lógica, que foi a China se tornar primeira potência mundial, e que eles continuam a aplicar essa lógica, parece a decisão mais correta. É difícil imaginar a China chegando a esse ponto sem bons e experientes administradores.

Entretanto, para desviar do debate objetivo e tão necessário sobre a experiência dos candidatos, já que ele e sua equipe sabem que perdem este debate, eles impuseram um debate mais subjetivo a respeito de quem é o mais de esquerda. Ora, então quanto mais de esquerda melhor o candidato agora? Se os anarquistas forem considerados mais a esquerda que os socialistas, então deveremos votar neles? Se Trotsky for considerado mais de esquerda que Lenin, então teria sido melhor ter ele dirigido o PCUS e a URSS, e não Lenin? E temos que nos questionar ainda que esquerda é essa que apoia um protesto pró-Imperialista contra um país socialista que foi o “Liberdade para Hong Kong“.

Como Boulos poderia conseguir experiência antes de querer se candidatar ao seu próximo cargo? Ele poderia tentar ser presidente de bairro, algum cargo comissionado, secretário, subprefeito, entre outras possibilidades.

Já que infelizmente não dá para aplicar a régua “Experiência e Resultados” no Boulos, devido ao fato que ele não tem nem experiência nem resultado como administrador, que tal aplicar no candidato que Boulos quer disputar ser o mais de esquerda, o Márcio França? Isso torna possível inclusive discutir se o resultado alcançado é um resultado “de esquerda” ou não, tornando essa discussão mais objetiva.

Experiência Legislativa:

-Vereador de São Vicente (1989-1993)

-Reeleito Vereador (1993-1997)

-Deputado Federal por São Paulo (2007-2011)

 

Experiência no Executivo:

-Prefeito de São Vicente (1997-2001)

-Reeleito prefeito com 93,1% dos votos (2001-2005)

-Secretário Estadual de Esporte, Lazer e Turismo de São Paulo (2011-2015)

-Secretário Estadual de Desenvolvimento de São Paulo (2015-2018)

-Vice-governador de São Paulo (2015-2018)

-Governador de São Paulo (2018-2019)

 

O seu mais relevante resultado foi quando era Prefeito de São Vicente, uma das cidades mais violentas do estado de São Paulo na época. Ele diagnosticou que a maior parte da violência vinham de jovens em condições de vulnerabilidade, que não tinham perspectivas de futuro, como estudar ou trabalhar. Mais especificamente, estes jovens eram presos com 18 anos de idade. Para solucionar esse problema ele criou o programa Jovens no Exercício do Programa de Orientação Municipal, aproveitando da prerrogativa constitucional do alistamento civil. Os jovens, ao fazer 18 anos, passaram a trabalhar para a prefeitura, a fazer um curso e a receber um salário mínimo.

Os trabalho era de 4 horas diárias e tinha a ver com o curso que o jovem estava fazendo, como por exemplo, o jovem que fazia o curso de pintor, trabalhava de pintor para prefeitura e pintava por exemplo as creches das mesma. Ao final do processo de um ano, além do certificado, a prefeitura ajudava os recém formados a abrir uma pessoa jurídica (CNPJ) para poderem prestar serviço às empresas também.

No ano seguinte ao início do programa a cidade saiu de estar entre as primeiras mais violentas do estado de São Paulo para alguma posição abaixo de 100°, de acordo com ele próprio em sua entrevista no Flow Podcast em outubro deste ano. Além disso, antes morriam de 15 a 20 jovens em confronto com a polícia por ano, e durante os 10 anos inicias de existência do programa, passaram a morrer nenhum. Isso foi uma solução radical para o problema, ou seja, atacou a raiz do problema, que na época era o desemprego e falta de educação. Além de promover melhorias para a cidade através do serviço que os jovens prestavam a prefeitura.

Outro resultado muito relevante foi como Vice-Governador, ocupando também a pasta de Secretário Estadual de Desenvolvimento Econômico, o qual ele expandiu o orçamento, os pólos, e as vagas da UNIVESP – Universidade Virtual do Estado de São Paulo, uma universidade pública, a distância, composta de professores da USP, UNICAMP e UNESP. O salto foi de 3 mil para 55 mil vagas, oferecendo cursos gratuitos para 290 cidades.

Márcio França foi acusado de ser de direita, mas analisando objetivamente estes resultados, que são redução da criminalidade de forma radical, investimento em emprego e em educação publica, são resultados “de direita” e consequentemente confirma a tese que ele é “de direita”? Evidentemente que não. Márcio França é filiado ao Partido Socilista Brasileiro, e suas propostas para São Paulo vem dos seus resultados que deram certo, como por exemplo, ele quer dar emprego para 40.000 jovens em São Paulo usando o dinheiro dos cargos comissionados, até como uma forma de substituir o auxílio emergencial nesse momento de pandemia, inspirado em seu programa de sucesso em São Vicente.

Seria bom se o Guilherme Boulos tivesse produzido algum resultado enquanto administrador para a gente poder comparar, mas isso não aconteceu. Talvez se ele estudasse mais a China socialista ele reconheceria a experiência prévia necessária para governar uma cidade do porte de São Paulo, além de que, possivelmente não estaria querendo disputar quem é mais de esquerda estando em um partido que apoia protestos pró-imperialistas.

Por Caio Pimenta

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