Bomba! Urgente! Jesus Cristo não vai tirar o Brasil do fundo do poço

Agora, Jesus à parte, o autor deste texto diz o seguinte: a imaginação tem força de visão e ação. Precisamos da imaginação para fazer escolhas. Imaginamos o que queremos dentro das possibilidades, e não do impossível ou do inverossímil. Não posso imaginar ser capaz e desejar voar até a Lua usando meus braços como asas. Uma das principais diferenças em relação aos animais e plantas é que nós podemos imaginar alternativas e fazer escolhas para possíveis futuros. É o chamado “por teleológico” – o que queremos, podemos e fazemos funcionar para o presente e o futuro de nossas vidas.
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Atenção! Parem as máquinas e as redes sociais. Notícia de última hora vinda do além e do aqui agora: Jesus Cristo não vai resolver os problemas sociais e econômicos do Brasil. Seja de qualquer forma, crucificado, de corpo inteiro, ou em santinhos guardados nas surradas carteiras dos cidadãos de bem, ou ainda em inusitados tipos de símbolos e imagens. Muito menos em discursos imbecis de políticos. Esse texto não é uma metáfora. Estou falando dele mesmo, Jesus, de carne e osso, que viveu há dois mil anos e vive hoje nos corações e mentes de milhões de pessoas mundo afora.

Ele, que não veio ao mundo para fundar religião alguma e ficaria perplexo se visse hoje a profusão de igrejas com pastores tirando dinheiro de seus fiéis para se elegerem políticos na base da mentira e da manipulação das crenças. Na base da exploração da fé, principalmente, dos mais pobres, mas também de alguns ricos e pessoas bem situadas de diferentes extratos das classes médias.

Jesus Cristo sempre vivo, como metáfora ou não, tanto faz, pois o real e o virtual convivem em suas pragmáticas. Na mistura do concreto com o abstrato, caso Jesus fosse convidado a sentar à mesa dos brasileiros para tentar resolver nossos problemas, ele simplesmente diria: desculpem, mas isso é com vocês, sem falar que o Estado é laico, e jamais vocês deveriam misturar religião com política e nem ficar usando o meu nome ou o do meu pai para resolver coisas que só vocês têm que resolver através da política. Vocês é que estão acima de tudo – mais ninguém.

Diria também para pararem com esse negócio de que algum messias vai resolver os problemas – e que ninguém, aqui e agora, foi ou é enviado de Deus – que, aliás, em políticas públicas, esse troço de enviado de Deus é uma baita mentira descarada. Lembraria que a parúsia não aconteceu e não vai acontecer nunca.

Jesus perguntaria ainda perplexo: como eu posso ajudar na criação de empregos? Rezando? Ou na retomada do crescimento, levantando as mãos para o céu? Como incentivar a industrialização? Ajoelhando-se em missas dominicais? Como eu posso impedir que vocês entreguem de graça o pré-sal às petrolíferas estrangeiras? Fazendo-os confessar? Como eu posso sugerir que vocês defendam sua soberania, dizendo que Trump não é Deus?

Como eu posso explicar para o povo que o atual governo está desmantelando o estado para atender a interesses privatistas e rentistas? Soprando em seus ouvidos com uma voz sibilina e misteriosa? Toda essa encrenca vocês têm que resolver. Políticas públicas é com os seres humanos – e só na base do esforço em conjunto, mesmo enfrentando conflitos, inevitavelmente. Mas isso requer clareza e concertação política, e não fé.

Viram os estudantes? Reclamando de algo concreto, sem alternativas, foram para as ruas e não precisaram usar o meu nome ou o nome de Deus. Diria ainda Jesus: do jeito que as coisas estão indo, daqui a pouco vão dizer que sou comunista ou “esquerdista” se eu ficar insistindo que não se deve misturar religião com política. Não basta acreditar em Deus ou ser otimista se as circunstâncias e a materialidade do dia a dia exigem ação concreta das pessoas. Peraí, gente, argumentaria Jesus, que todos tenhamos fé, mas usar da má-fé para enganar o povo, aí é demais! Estou fora. Por favor, não usem meu nome nunca!

E se vocês pensam, continuaria Jesus, que podem resolver alguma coisa colocando um evangélico no Supremo Tribunal Federal então é porque vocês realmente chegaram ao fundo do poço em todos os níveis – inclusive no que diz respeito ao mínimo discernimento exigido para resolver os diversos problemas da coletividade. Nada contra os evangélicos, obviamente, mas contra a falácia de frases vazias de altas autoridades do país. Contra o fundamentalismo obscurantista. Até quando vocês querem ficar sendo tratados como débeis mentais?

Agora, Jesus à parte, o autor deste texto diz o seguinte: a imaginação tem força de visão e ação. Precisamos da imaginação para fazer escolhas. Imaginamos o que queremos dentro das possibilidades, e não do impossível ou do inverossímil. Não posso imaginar ser capaz e desejar voar até a Lua usando meus braços como asas. Uma das principais diferenças em relação aos animais e plantas é que nós podemos imaginar alternativas e fazer escolhas para possíveis futuros. É o chamado “por teleológico” – o que queremos, podemos e fazemos funcionar para o presente e o futuro de nossas vidas.

O exercício da hipótese nesta singela reflexão é feito tanto em homenagem a Jesus como a todos homens de bem com suas respectivas crenças e religiões. Esse texto não deixa de ser, portanto, uma declaração de respeito às mensagens de Jesus e a todas as religiões do Brasil e do mundo – mas não à profusão de igrejinhas mequetrefes de esquina e outras gigantescas que se transformaram em caça-níqueis de falsos pastores, salafrários, que exploram a fé alheia para se transformarem em políticos hipócritas. E que, de forma descarada, ainda se aliam a bandidos com um crucifixo no peito e uma pistola na cintura.

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