JONES MANOEL: Existe austeridade sem extrema-direita? 

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Quando se fala da subida de Hitler ao poder, duas exclusões estratégicas são feitas: primeiro, é ocultado da história que a maioria dos partidos, líderes políticos, intelectuais, jornais e associações empresarias liberal-burguesa apoiaram o nazifascismo. Só quando se percebeu que os nazistas, bem mais que os fascistas na Itália, Polônia, Hungria, Áustria etc., queriam redesenhar a divisão imperialista do mundo, é que alguns liberais acordaram. A democracia liberal não foi uma vítima do nazismo. Ele criou as condições para seu nascimento e engorda – sem falar, é claro, que o nazifascismo é uma continuidade histórica do colonialismo europeu.

Segundo, e tão importante quanto o primeiro, a social-democracia defendia uma política de austeridade e cortes em aliança com os liberais. Mark Blyth no seu “Austeridade: a história de uma ideia perigosa” mostra como no final dos anos 20 do século passado, os nazistas e os comunistas, eram as únicas forças políticas anti-austeridade. Isso explica porque eram as que mais cresciam – os nazistas bem mais que os comunistas, como se sabe.

O nazismo durante toda década de 20 soube muito bem entender que a defesa da austeridade estava matando a base popular dos socialdemocratas e que um programa em defesa do emprego e retomada econômica (combinado com racismo, chauvinismo, antissemitismo etc.) iria atrair atenção popular.

Incrivelmente, Boaventura Sousa Santos não sabe disso. Escreveu um texto falando que a União Europeia e a democracia liberal são uma defesa contra a extrema-direita. O intelectual português, ao que parece, não consegue ver ligação entre a austeridade antipopular imposta pela UE e a democracia liberal-burguesa e o crescimento da extrema-direita. Na visão dele, como a de todo liberal, extrema-direita e liberalismo são antagônicos.

Ele, basicamente, repete um dos mitos fundamentais do século XX: o liberalismo não tem responsabilidade pelo fascismo.

A consequência é uma defesa em abstrato da democracia burguesa. Defesa que só isola intelectuais e partidos das grandes massas.

Em resumo, como diria o ditado: é a economia, estúpido!