JONES MANOEL: As lições da Grécia e a queda do Syriza

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A mesma história, o mesmo fim: as lições da Grécia e a queda do Syriza.

Em 2014, o filosofo Satafle disse “olhem para a Espanha do Podemos! e a Grécia do Syriza”; na mesma época, Luciana Genro disse “Eu sou Syriza! E não é de hoje”. Por todo Brasil, coletivos e organizações, especialmente do PSOL, fizeram atividades públicas de apologia da organização grega e buscaram se colocar como o Syriza brasileiro. Aléxis Tsípras passou de ilustre desconhecido para posição de celebridade política de projeção mundial. Como sempre, o grego adorava proferir discursos sobre a necessidade de renovação da esquerda, do novo, da novidade, novas formas, novos discursos – a síntese acabada ideologia do novismo.

A Grécia, por anos, foi o país com o movimento de massas anti-austeridade mais forte. Desse gigantesco movimento de massas surgiu a força eleitoral do Syriza e de Tsípras. O partido, embora seja um agrupamento político de diversas correntes (desde maoístas passando por trotskistas até ecologistas moderninhos), é hegemonizado por socialdemocratas. Pessoas com um discurso de esquerda, mas com um aspecto vago, uma espécie de humanismo difuso, aquele tipo de ideia: “primeiro as pessoas e depois o mercado” (se Althusser estivesse vivo, teria muito o que falar desse humanismo “socialista”).

O debate sobre economia política não é tão popular. O eurocentrismo, porém, é muito popular. A União Europeia é uma espécie de “cativeiro dos povos”: uma união de base neocolonial onde os pequenos países, como a Grécia, perdem sua soberania e são totalmente controlados pelo capital alemão e francês. A austeridade neocolonial é uma imposição da União Europeia. Querer democratizar essa estrutura é parecido com a ilusão dos Cadentes russos de um Czarismo constitucional-democrático. Bastava estudar um pouco a estrutura da UE para saber que não existe meio termo: ou a ruptura com a UE é colocada como central, ou todo programa político, por mais “radical” que seja nas propostas, será apenas um instrumento de engano dos trabalhadores.

O Syriza nunca apresentou qualquer inovação teórica, organizativa ou política. Nesses aspectos, é pouco diferente do PSOK (uma espécie de PT da Grécia). Mas a força eleitoral do Syriza foi uma droga suficiente para dopar várias consciências. Eu, nenhum especialista em Grécia, 40 dias antes da eleição escrevi no meu blog que o Syriza rapidamente se tornaria um partido da ordem e Tsípras uma espécie de Lula.

O resultado nós sabemos. O Syriza não só se curvou aos ditamos da UE, como foi um gestor da austeridade neoliberal mais eficiente que o PSOK. As dissidências democráticas, aqueles como o grupo de Yanis Varoufakis, nunca conseguiram prosperar. E a “esquerda” do país, assim como a direita, esteve contra os trabalhadores, destruindo seus direitos, atacando suas condições de vida (com exceção do Partido Comunista, o KKE, que inclusive, se não cresce muito, mantém sua força política e eleitoral estável).

O resultado? O de sempre. Depois de anos de ataques e desmobilização, a direita ganha a eleição conseguindo maioria absoluta no parlamento. A Nova Democracia, o vencedor da eleição, conquistou 158 assentos no Parlamento num total de 300. Vitória esmagadora.

É capaz de circular, nos próximos dias, muitos textos debatendo o que poderia ter sido feito de forma diferente se o Syriza não tivesse sido mais um mero gestor da ordem. Mas como diria o Francisco Martins Rodrigues no seu “Anti-Dimitrov”: isso é uma ilusão pequeno-burguesa, um delírio, afinal, em canto nenhum do mundo até hoje a socialdemocracia deixou de ser o que é: um partido da classe dominante, um bombeiro da luta de classe, um gestor da ordem pela esquerda. Quando foi diferente? Quando um partido socialdemocrata rompeu com sua essência e radicalizou contra o capital? Tsípras foi o que poderia ter sido.

Em 2016, em tom de brincadeira, mas expressando o que eu pensava, eu disse o seguinte: eu não troco um Hugo Chávez e seu bolivarianismo ou Kim Jong-Un e o Partido do Trabalho da Coreia por um Syriza. E isso por uma questão evidente – o Syriza era um sonho de uma noite de verão. E o mesmo serve para o Podemos. O bolivarismo, na Venezuela, mesmo com todos os seus problemas, é difícil de derrotar. É valente. O Podemos nunca chegou ao governo e agoniza. O Syriza morreu. Rápido, muito rápido.

Para os que sempre esperam as luzes da Europa, esse é o momento de admitir que só acharam ilusões. E sim, eu digo com tranquilidade: eu nunca fui Syriza!

A reconstrução de uma esquerda revolucionária, popular e verdadeiramente radical é um trabalho longo, duro, sem atalhos. E os que buscam atalhos vão sempre terminar no pântano abraçados com figuras medíocres como Tsípras.

Para concluir, o meu vídeo sobre o tema “Crise e falência da ‘Nova Esquerda’?” Se mostra cada dia mais correto:

Por Jones Manoel