JONES MANOEL: Moro, o COAF e o pensamento abstrato do “isentão”

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Acho curioso a ideia de que tanto faz o Coaf nas mãos de Sergio Moro, e por consequência do lajavatismo, ou de Paulo Guedes. Os que dizem isso não entenderam, até agora, o que é a Lava-jato.

A Lava-jato é parte de uma estratégia de dominação do imperialismo estadunidense para destruir e balcanizar a economia nacional e regredir ainda mais a quase morta soberania nacional brasileira. De início, foi usada como uma forma de destruir os monopólios de capital “nacional”, como a Odebrecht, que disputavam mercados com os monopólios dos EUA pela América Latina e África. Logo, porém, foi percebido seu alcance maior. No Brasil, ao contrário da Líbia ou Iraque, foi possível roubar, saquear o nosso petróleo, sem uma intervenção militar direta. Não se entende o desmonte da economia nacional e a entrega da Embraer, Pré-sal, Petrobras, Braskem e afins são dimensionar o papel do lavajatismo.

Não tenho nenhuma proximidade com o petismo que a partir disso afirma que o gigantesco esquema de corrução não existia. Sim, existia, e o PT, como todo partido da ordem, foi gestor desse sistema e se lambuçou na corrupção. A questão é que com base em um sistema de corrupção real, criou-se uma força política dentro do aparato estatal brasileiro que responde diretamente aos interesses do Departamento de estado dos EUA.

Sergio Moro e sua turma tem um claro projeto de poder. Bolsonaro e Paulo Guedes, muito provavelmente, vão ter uma vida política bem mais curta que o lavajatismo. Deltan tentou criar um partido político – “Fundação da sociedade civil” – com 2,5 bilhões roubados da Petrobras; Bretas, provavelmente, vai sair candidato a prefeito do Rio de Janeiro; Moro já controla o Ministério da Justiça, a PF e tem uma base sólida entre procuradores, juízes e afins; ainda busca controlar a PGR e garantir uma vaga no STF.

Antes de assumir o ministério da justiça, exigiu o Coaf. Por qual motivo ele quer esse órgão? Busca ter um mecanismo de pressão e chantagem sobre os políticos e partidos da ordem. Pode queimar todo adversário que aparecer ao seu projeto de poder e sua candidatura em 2022.

Nas condições atuais, caso Bolsonaro caia ou não seja reeleito, o lavajatismo continua existindo e operando como um braço direto do imperialismo. Tirar o Coaf de Moro não significa uma grande conquista popular, mas uma vitória tática importante sobre o lavajatismo. E, na conjuntural atual, isso é uma questão central. Enfraquecer o lavajatismo é uma forma de brecar, ainda que minimante, um dos principais vetores do endurecimento penal do bolsonarismo.

Portanto, eu achei ótimo Moro perder o Coaf. Espero que não controle a PGR e não ganhe um espaço no STF. Mas Jones, mesmo se Moro não controlar esses espaços, algum reacionário vai!

Eu sei, meu querido. Mas esse tipo de pensamento é uma abstração. Nesse governo e, em última instância no Estado burguês, todos os centros estratégicos do poder vão ser controlados por canalhas da burguesia. A questão é identificar os principais sujeitos políticos a longo prazo e na conjuntura imediata. E na conjuntura imediata, todo enfraquecimento do lavajatismo é positivo. Quem não entendeu isso ainda, recomendo observar com atenção quem vai defender Sergio Moro e criticar o “enfraquecimento no combate à corrupção”.

Por Jones Manoel