JONES MANOEL: Venezuela, Reino Unido, soberania e a geopolítica do mundo

Imagem de Boris Johnson com dedo em riste
Botão Siga o Disparada no Google News

O filósofo da política Carl Schmitt é autor de uma frase fantástica: “soberano é aquele que decide pelo Estado de exceção”. Essa reflexão é ótima para pensar a soberania e a geopolítica no mundo.

Hoje é notícia mundial que o primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, decidiu suspender o Parlamento por praticamente um mês para facilitar a articulação do seu projeto político. A decisão de Boris Johnson contou com apoio da Rainha. Aqui faço notar, inicialmente, três coisas:

– A Coreia Popular é acusada injustamente de ser uma “monarquista” ou “monarquista stalinista”. O Reino Unido, efetivamente, é uma monarquia e TÁ TUDO BEM!

– Na Revista Exame, Valor, Folha de São Paulo e Estadão, Boris Johnson não é chamado de ditador, autoritário ou totalitário. As matérias não tem juízo moral e muito menos adjetivação ao líder.

– Nenhum país vai propor uma “intervenção militar democrática em defesa dos direitos humanos” para salvar a democracia do Reino Unido. A premissa lógica aqui é que isso é um PROBLEMA INTERNO e deve ser resolvido internamente, com a “comunidade internacional” apenas fazendo pressão diplomática.

Agora vamos pular para a Venezuela.

Hoje a Venezuela também é centro nas notícias mundiais. A Suprema Corte do país acatou uma demanda histórica do movimento estudantil e trabalhadores/as da área da educação, mudando as regras para eleição de reitores.

Antes, assim como no Brasil, os professores tinham um peso desproporcional na votação escolhendo, na prática, quem são os reitores. Agora, pela mudança na legislação, o voto será igual e deverão participar cinco setores: docentes, alunos, formados, pessoal administrativo e de obras. O reitor eleito deve obter a maioria dos votos em três dos cinco setores.

Ou seja, o que aconteceu na Venezuela foi uma DEMOCRATIZAÇÃO DO PODER DECISÓRIO nas universidades. Retirando o status de casta privilegiada dos professores. Uma demanda que é histórica do movimento estudantil na América Latina desde a Reforma Universitária de Córdoba.

Porém, para o El Pais e a Folha de São Paulo, isso é mais uma prova de que a Venezuela é uma ditadura terrível que não respeita as instituições e que tem um judiciário chavista.

No Norte do Mundo, nos países centrais do capitalismo, não importa o que aconteça. A medida será sempre apenas “polêmica”, “controversa”, “impopular”. Nunca é ditatorial, autoritária, totalitária. Já no Sul do Mundo, na periferia do sistema, uma medida ABERTAMENTE DEMOCRATIZANTE é prova da existência de um regime ditatorial.

E, é claro, os assuntos da Venezuela nunca são problemas internos. Estados Unidos, União Europeia, Governo Espanhol, Inglês, Frances e afins querem dizer como o país deve resolver seus problemas.

Entendeu o que é soberania?

Percebeu como a ideologia dominante funciona?

Na visão dos donos do mundo, abaixo da Linha do Equador somos todos eternamente bárbaros!