Leandro Konder e a derrota da dialética

NILDO OURIQUES Leandro Konder e a derrota a dialética leandro konder dialética
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Leandro Konder era, de fato, muito agradável e simpático. Fala mansa, paciente, elegante e culto na história europeia e no marxismo, especialmente Lukács.

Assisti suas aulas como aluno ouvinte (História da dialética) na UFF em 1985.

Na tese de doutorado defendida na Alemanha, (A derrota da dialética) ele revelou até que ponto os fundadores do PCB nada sabiam de Marx ou marxismo. O marxismo no Brasil, segundo Konder, padecia desse mal de origem, esse fatal desconhecimento de Marx e Hegel. É claro que o “comunista sem inimigos” também dirigiu suas baterias contra o estalinismo que, obviamente, sempre foi hostil a dialética hegeliana e mais ainda a Marx.

Hegel – no ensaio chamado Princípios da Filosofia do Direito – anunciava seu esforço de “arrancar a filosofia à vergonhosa decadência” em que se encontrava em sua época (1820). Creio que, entre nós, o malabarismo que se pavoneia todos os dias no mundo político na defesa das causas que encontram abrigo dentro da ordem burguesa – e que por isso mesmo jamais serão superadas em seu interior – exibe a mesma “vergonhosa decadência” porque mantém a dialética hegeliana como inimigo público número 1 e, em consequência, reproduzem aquela miséria no “método” que tanta irritava o filósofo alemão.

Há, contudo, uma sutil diferença: como não podem mais justificar sua ignorância tal como os heroicos fundadores do PCB fizeram na década de 30 do século passado, os aprendizes o fazem flertando com expressões utilizadas por Hegel sem, contudo, adotar a dialética do alemão. Ao contrário: flertam com seus “movimentos” para esteriliza-la, para negá-la completamente.

Agora há também algo mais grosseiro embora não menos eficaz.

O marxismo é uma moda acadêmica que, segundo Edmundo Moniz, foi o espaço que restou na medida em que o estalinismo se apossou do outrora movimento comunista internacional, razão pela qual os partidos comunistas, socialistas, etc não produziam nem intelectuais potentes e menos ainda teoria revolucionária. Ora, nada mais estéril que o “marxismo acadêmico”; Marx zombou deles antecipadamente!!!

A tarefa será árdua na luta contra a impostura intelectual e o oportunismo político dominante no interior do liberalismo de esquerda. Mas não há razão para a angustia ou o desespero pois a teimosa realidade tem a virtude de atualizar amanhã cedo os problemas que ontem, no entardecer, foram considerados superados na cabeça alegre dos que ignoram a força da dialética da dupla Hegel/Marx. Os mesmos que julgam possível superar com malabarismos verbais as gritantes contradições e antagonismos de um país subdesenvolvido e dependente.

De minha parte, sigo com o otimismo inabalável pois a dialética ensina que a derrota nunca é definitiva.

Salud!