Maria Antonieta Bolsonaro

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Em meio à miséria e a fome do povo, na França pré-Revolucionária Maria Antonieta declarou que se o povo não teria pão para se alimentar naquele momento, que “comessem brioches”. A frase simbolizou o grau em que as aristocracias podem chegar com seu escárnio e falta de noção com relação ao sofrimento das maiorias populares, ou por desconhecimento ou por pura simpatia pelo caos. Não se sabe se Antonieta proferiu a famosa frase, citada por Rousseau em seus trabalhos e na vasta literatura sobre a Revolução Francesa. O fato é que a moda pegou.

O ano é 2020. Estamos mais de duzentos anos adiante na história. Reclusos em casa por recomendação médica, a população Ocidental enfrenta uma pandemia desconhecida, um vírus ainda em estudo pelos renomados institutos de pesquisa do mundo e que prometem demorar, pelo menos, um ano e meio para produzirem uma vacina.

O país é o Brasil. Enquanto a população “dá as maõs, mesmo distante uns dos outros” no combate à doença e não estimula grandes conglomerações para evitar uma reprodução em larga escala do coronavirus, o atual presidente da República aperta as mãos de inconsequentes, radicalizados e minoritários manifestantes nas ruas. Até aí as coisas já assumiram graus de indignação tão grandes que nem os defensores de seu governo, como a própria Janaína Paschoal, conseguiram se conter diante do ego irresponsável do presidente.

Ao que parece, Bolsonaro, envolto pelo espírito de Maria Antonieta, profere uma declaração que o coloca no universo daqueles que vivem a bolha dos mais ricos. Enquanto muitos evitam praias e eventos de entretenimento para não reproduzirem a doença, o atual presidente da república chama o espírito de solidariedade e conscientização do povo brasileiro em não desejar uma morte em massa do coronavírus uma “histeria” e que “planeja até dar uma festinha de aniversário em sua casa”.

Diferentemente da Maria Antonieta original, a frase é atribuída a Bolsonaro.

Aos favelados e à classe média, o Ministério da Saúde solicita a paciência, sugerindo para todos os compatriotas que permaneçam em suas casas e não se aglomerem. Para Maria Antonieta Bolsonaro, a festinha é permitida.

Aos favelados e à classe média, o Ministério da Saúde e os governadores cancelam eventos de entretenimento, sejam eles culturais ou esportivos. Para Maria Antonieta Bolsonaro, a festinha é permitida.

Aos favelados e a classe média brasileira, sofrida e desgastada com a profunda crise econômica que tal governo promove, extinguindo os empregos de qualidade no setor industrial e de carteira assinada, o Ministério da Saúde recomenda o fechamento consciente e correto de estabelecimentos de pequeno porte – pobre do pequeno empresário, também à procura do seu ganha-pão. Para Maria Antonieta Bolsonaro, a festinha é permitida.

O que estarrece, independente da ideologia política que você, caro leitor, se identifica, é que ninguém internamente é capaz de enfrenta-lo nesse governo. Nem mesmo os generais deram um pio sequer até o momento, para o espanto de quem vos escreve, um nacionalista e patriota, amante da ala constitucionalista das forças armadas e admirador dos militares que se rebelaram contra o golpe de 1964[1].Não possuem o espírito do Brigadeiro Rui Moreira Lima, que jamais aceitaria a proposta malfadada de conspiração ou de aliança a um governo bolsonarista.

À Maria Antonieta original, a guilhotina e a violência das ruas foram o recado dado para tanta soberba.

O ano é 2020, os tempos são outros. Votamos e elegemos democraticamente nossos representantes. O que o povo planeja de resposta ao escárnio chamado Maria Antonieta Bolsonaro? Obviamente, a guilhotina e a morte literal estimulada pela violência punitivo-estatal estão descartadas. No entanto, qual seria, metaforicamente dizendo, a “guilhotina democrática” a ser oferecida como resposta? Um Impeachment? Forçaríamos sua renúncia por meio da desobediência civil e pelas manifestações de massa? O que os setores ao centro e à esquerda de Maria Antonieta Bolsonaro irão fazer?

O que você, leitor, quer fazer com relação a isso? Deixe seus comentários.

Referências

Referências
1 Assistam o documentário de Silvio Tendler, os Militares pela Democracia. Ver em https://www.youtube.com/watch?v=HDyqJOLHVHY