GILBERTO MARINGONI: Braga Netto, Investimento e Teto – Estranho, mas bom

Botão Siga o Disparada no Google News

É muito positivo que Braga Netto, general-interventor no Rio à altura do assassinato de Marielle Franco, tenha apresentado o Programa Pró-Brasil. Trata-se de um amontoado de lampejos keynesianos contracíclicos num governo constituído por gente que tem como projeto estratégico reconstituir as dez pragas do Egito ao mesmo tempo. É um importante contraponto à atuação de Paulo Guedes e seus jagunços da alta finança.

Braga Netto – com a perspicácia de quem não conseguiu esclarecer o mais impactante crime de sangue da década, mesmo com plenos poderes à disposição – no dia seguinte alerta: “Mas não se toca no teto de gastos”.

Fico estupefacto, com encontro consonantal e tudo. Repito mentalmente “não se toca no teto, diz Netto”. “Toca teto, netto”. Uma aliteração, uma sonoridade de poesia concreta, uma onomatopéia verbal percutindo nos salões palacianos. Quase um hai-cai. Tocatetonetto. Braga Netto tem talentos a mim totalmente desconhecidos. Um bardo desperdiçado, alguém a quem sobra farda mas ainda falta fardão de Academia.

Braga Netto é neto com dois tês. Nunca entendi essas consoantes duplas em nomes reluzentes. “Netto toca teto, tê com tê”. Repito nettotocatetotecomtê. Sonoro, gruda na cabeça e repito nettotocatetotecomtê! Um achado, um Virgílio de nome exótico, com um plano fulgurante. Aumento exponencial de investimentos, destravamento obras paradas, geração de empregos sem toque no teto, sem aumento de investimentos.

É bom? É ótimo! Mais do que nada, a iniciativa de Braga Netto desloca importante personagem de sua zona de conforto. Braga Netto transforma Guedes em gado (mais poesia!). Guedesgado. O desenvolvimento farda mas não talha, diria Millôr. E a farda deixa de ser fardo (lirismo, lirismo…).

O incômodo de Braga Netto expõe o incômodo da roubada em que as FFAA se meteram ao se aliarem às milícias para voltar ao poder. Braga Netto quer ser o Geisel do II PND em aliança com a turma dos porões, para viabilizar um neoliberalismo com garantia da lei e da ordem. Mas é bom. Gelo quente, silêncio ensurdecedor, água seca e investimento sem gasto, tá valendo. Dane-se a lógica, pau no financismo.

O melhor de tudo é ver Guedes virar gado e Saschida ser chamado de salsicha.