Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, presta depoimento ao Congresso dos EUA

Mark Zuckerberg presta depoimento no Congresso dos EUA
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Mark Zuckerberg presta depoimento no Congresso dos EUA
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No dia 17 de março deste ano, jornais de grande circulação mundial como “The New York Times“, “The Observer “e “The Guardian” divulgaram que os dados de muitos milhões de usuários do Facebook haviam sido utilizados, sem consentimento, pela empresa de consultoria política britânica Cambridge Analytica, que trabalhou para a campanha presidencial de Donald Trump e para a campanha de saída do Reino Unido da União Europeia. Supostamente, os perfis psicológicos revelados nesses dados foram utilizados para afinamento das estratégias de atração de voto da corrida eleitoral de Trump, em 2016.

O Facebook, em um primeiro momento, divulgou que cerca de 50 milhões de contas haviam sido afetadas. Na semana passada, contudo, esse número aumentou para 87 milhões sendo, a maior parte, nos Estados Unidos. O Brasil é o oitavo país com mais usuários impactados, com aproximadamente 443 mil[1].

Resumidamente, a consultoria britânica teve acesso a expressivo volume de dados pessoais após realização, anos atrás, de teste de personalidade com os usuários do Facebook. Esse teste não foi desenvolvido por hackers; o desenvolvedor se valeu da política de privacidade do Facebook da época, que permitia que os seus usuários autorizassem o acesso de seus dados e de seus amigos na rede social. Assim, as informações que foram colhidas referiam-se não apenas às pessoas que aceitaram fazer tal teste, mas aos amigos desses usuários do Facebook.

De acordo com o jornal “El País”, em 2014, a Cambridge Analytica recolheu as informações por intermédio de um pesquisador da Universidade de Cambridge, o psicólogo russo-americano Alexandr Kogan, que havia sido autorizado pela rede social a consultar dados de seus usuários para fins acadêmicos, mas não políticos. O Facebook descobriu o desvio de dados há três anos, mas somente esse ano suspendeu as contas da Cambridge Analytica e de Kogan, comprometendo-se a não permitir que a empresa continuasse mantendo as informações pessoais que acumulou, como identidades, localizações e as curtidas dos usuários.[2]

Diante da forma como as informações foram obtidas pela Cambridge Analytica, o Facebook tem enfrentado uma crescente crise de confiança de anunciantes, funcionários, investidores e usuários e, desde então, sido alvo de muitos questionamentos – fator esse que colocou em xeque o próprio modelo de negócio da plataforma social. Em contrapartida, Mark Zuckerberg, que fundou o Facebook em 2004, em seu dormitório na Universidade de Harvard, luta para provar aos críticos que é a pessoa mais indicada para continuar liderando uma das maiores empresas do mundo.

Ontem, dia 10 de abril de 2018, após convocação da senadora democrata Amy Klobuchar, Zuckerberg compareceu, pela primeira vez, em audiência conjunta (formada pelos Comitês de Justiça e do Comércio, Ciência e Transporte) no Senado Federal dos EUA.

A pauta da audiência envolveu temas diversos: desde o tratamento de supostas tentativas russas de interferência eleitoral até questionamentos ligados à forma de armazenamento, proteção e compartilhamento de dados de usuários da rede social para desenvolvimento de ferramentas de “publicidade política” e “manipulação dos eleitores”.

Além disso, Zuckerberg teve que prestar esclarecimento a respeito da política de privacidade do Facebook e dos efeitos causados à democracia, em virtude do vazamento de dados pela plataforma. E hoje, quarta-feira, o presidente executivo fala também perante a Câmara dos Deputados americana.

Provavelmente Zuckerberg passou por rigorosos treinamentos com advogados, consultores e assessores dias antes da audiência. Ele demonstrou calma na maior parte do tempo, respeito aos questionamentos e, algumas vezes, arrependimento.

Em linhas gerais, a audiência conjunta (que durou cerca de 5 horas) retratou uma conversa tensa. Pressionado em alguns momentos, Mark Zuckerberg reconheceu os erros cometidos pela empresa, na medida em que não fez o suficiente para evitar que a rede social causasse danos aos usuários e afirmou que está comprometido com a mudança filosófica da empresa.

A senadora Kamala Harris, membro do Partido Democrata, pediu explicações acerca da extensão de rastreamento, pelo Facebook, das atividades de seus usuários e questionou o motivo pelo qual a empresa não informou os usuários, em 2015, que seus dados haviam sido compartilhados com a Cambridge Analytica. A resposta de Zuckerberg foi evasiva, afirmando “não ter certeza” se houve alguma ação, nesse sentido, à época.

Mark Zuckerberg foi astucioso; quando um senador apontava algo que o Facebook fizera de errado, o presidente executivo falava sobre o que a empresa estava fazendo para corrigir o problema. Sempre que não conseguia responder a uma pergunta, prometia retornar com a informação “mais tarde”.

É verdade, também, que o Congresso, em alguns momentos, deu a impressão de não compreender as funcionalidades do Facebook, tampouco a tecnologia do século XXI.  O senador John Kennedy, por exemplo, criticou severamente o acordo de usuários do Facebook e enumerou uma série de medidas que deveriam ser tomadas para aprimorar a privacidade de dados. Em resposta, Zuckerberg afirmou que tais medidas já estavam previstas na política de privacidade do Facebook.

Questionado a respeito de seu envolvimento com a regulamentação da plataforma, Zuckerberg declarou que apoiará a elaboração de legislação que obrigue a rede social a digulgar as identidades dos compradores de anúncios de campanhas políticas online.

Paralelamente ao escândalo deflagrado, Zuckerberg afirmou que não medirá esforços para garantir a integridade das eleições no Brasil e que quer garantir que as eleições presidenciais brasileiras não sejam afetadas por problemas como fake news. Em acréscimo, o CEO do Facebook informou que a plataforma possui recursos de Inteligência Artificial eficazes para a detecção automática de discurso de ódio.

[1] Fonte: Facebook

[2] Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/17/politica/1521302431_579678.html. Acesso em 11.04.2018.