E meu nome será a vossa bandeira de luta

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24 de Agosto de 1954 e/ou 2020: “Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa.”

Mesmo que sejamos enfiados goela abaixo que estamos inseridos numa realidade do intangível em que nada é invariável e tudo se transforma, é bastante evidente que algumas coisas pouco mudam, principalmente nesse histórico e agridoce dia. É especialmente por meio do 24 de agosto que o trabalhista encara uma dinâmica inerente da sociedade de classes: a luta pela hegemonia moral e intelectual. Essa também se desdobra na história do nosso país, a questão da história na antropologia filosófica incita a reflexão “a quem ou o que serve a história?”. As discussões sobre Getúlio, principalmente nas redes sociais, onde a arena do debate público e do embate político tem se limitado a acontecer por motivos de pandemia, nos últimos dias evidenciam isso.

“Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.”

O trabalhismo sofre muito com a forma hegemônica como contamos a nós mesmos a história do Brasil. As forças liberais, aliadas do PTucanismo – convergência “teórica” entre os partidos políticos PT e PSDB – tiveram centralidade na destruição da figura de Vargas com o protagonismo de figuras como Marilena Chauí e Francisco Weffort, entre outros que tiveram de produzir toda uma historiografia pra retirar o trabalhismo da hegemonia da sociedade brasileira. A mesma hegemonia que fez a Revolução de 1930, que ordenou o Estado nacional para ser indutor do desenvolvimento, combateu as contrarrevoluções paulistas e integralistas, resistiu às sanhas golpistas de 1961 junto a Brizola e Jango, assim como estabeleceu a dignificação do trabalho no Brasil via CLT. O PTucanismo envenenou a história do país na tentativa de uma superação, de um marco político, que resultasse no “fim da Era Vargas”, palavras de FHC.

“Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue.”

Porém, falharam. A CLT permanece um valor importante ao brasileiro, mesmo em meio a tantos ataques e “inovações” jurídicas que estabelecem novas relações de trabalho calcadas na superexploração e indignidade, perpetuando inseguranças jurídicas. Mais do que os instrumentos legais e institucionais para um regime social trabalhista, vive no coração do brasileiro a afirmação nacional, tanto como norte ideológico de uma sociedade que da sua diversidade possa produzir uma identidade cultural, tanto do aparato objetivo e estratégico, vive em amplos setores da sociedade o entendimento do Estado nacional como indutor do desenvolvimento e de esperança pra emancipação do nosso povo. Apesar da manutenção da dita “vitória” de Getúlio, o maior líder da história do nosso país tem hoje um repúdio assentado na ideologia e no instrumento político que São Paulo produziu, odiado pelo que nunca fez, por quem nunca foi. Esse é o poder da ideologia.

“Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência.”

A ideologia liberal antigetulista manipulou como contamos a nós mesmos a história do país e tem ganhado a disputa pela sociedade há décadas. Mas o tempo histórico, numa leitura pretensiosa de um militante da causa política, envolvido diretamente com a luta do povo, da história do tempo presente, urge pela volta do trabalhismo, que hoje se rebela contra a ordem neoliberal através de Ciro Gomes e do PDT para a construção do Brasil Nação emancipado e livre das amarras imperialistas. É nosso momento de questionar a quem e/ou o que serve o ódio a Getúlio? Não hesitaremos em entrar de corpo e alma na disputa pela nossa história. É questão de luta de classes, é questão de vida ou morte para a classe trabalhadora. Os liberais tremem de medo e espumam de ódio, isso mostra o quão necessária nossa disputa é. Que a gente possa ser inundado pelo sentimento de defesa da afirmação nacional na luta contra a espoliação do povo, de peito aberto, com a cara do povo. Avante! Viva, Getúlio!

Por Luiz Medeiros
Acadêmico de Filosofia pela UFES e Presidente Estadual da Juventude Socialista Capixaba.