O básico para não ser linha auxiliar do capitalismo

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O capital tem como uma das suas principais armas na luta contra a classe trabalhadora a mobilidade. O que significa isso? Imagine, por exemplo, que numa fábrica de automóveis o sindicalismo está bem articulado e cobrando melhores condições de trabalho e salário. Depois de meses de luta, a direção da fábrica não consegue destruir o protesto sindical – mesmo com uso da repressão, propaganda ideológica da mídia, demissões etc. O que resta à fábrica? Mudar a planta de lugar para se instalar numa região com o movimento sindical menos articulado.

Agora imagine isso a nível mundial. Quanto maior é a possibilidade do capital se mover, a nível nacional e mundial, mais força tem o capital contra o trabalho. Por isso, nos anos 70, uma das principais medidas do neoliberalismo foi reduzir a capacidade de regulação dos Estados sobre o capital e reduzir a regulação no sistema financeiro, propiciando uma hiper mobilidade capitalista.

Dito isso, a existência de regimes nacionalistas e de experiências socialistas, com todos os seus problemas, no quadro mundial, reduziam a mobilidade do capital e ofereciam, no plano da divisão social do trabalho, uma condição melhor de luta.

No “campo socialista”, em média, o nível de penetração do capital estrangeiro era de 12% do PIB. Na URSS isso era menos de 10%. Em regimes nacionalistas, tipo o Iraque de Saddam ou a Líbia de Kaddafi, mesmo com maior liberdade para o capital, o grosso da economia era centrada nacionalmente (a Monsanto, por exemplo, só passou a controlar a agricultura desses países depois da invasão neocolonial).

Por coisas assim que os Estados Unidos, em alguns países, consideravam o nacionalismo popular como um inimigo principal – até na frente dos comunistas. No começo dos anos 1960, por exemplo, os dois nomes mais temidos pelos EUA na América Latina eram Che Guevara e Leonel Brizola – um comunista e nacionalista revolucionário e um nacionalista popular.

Um exemplo prático disso é que quando o “campo socialista” entrou em crise, e depois acabou, o Estado de bem-estar social europeu virou lenda. E, quem conhece o básico da economia europeia, sabe que os trabalhadores do Leste Europeu formam uma massa permanente de força de trabalho reserva para o capital alemão e francês em particular.

É lógico também que o capital não vai apresentar sua demanda como “quero mais liberdade para explorar os trabalhadores de todo mundo”. O capital atua em nome da democracia, direitos humanos, liberdade e afins. Por trás dessas palavras, você encontra o interesse concreto de melhores condições para burguesia na luta de classes.

Por esse motivo, é uma besteira, uma falta do básico do básico de economia política, um grito como o “morreu, morreu, o stalinismo no Leste Europeu”.

Sim, morreu uma barreira relativa a mobilidade do capital em 1/7 do mundo, criando uma correlação de forças mais desfavorável no mundo para o protesto sindical, destruindo a base de apoio material para vários processos de libertação nacional no Terceiro Mundo e mandando para o inferno o bem-estar social Europeu.

Dentro da lógica de “construir um socialismo de verdade” ou “democrático”, o que aconteceu, na prática, foi melhorar o campo de luta do inimigo.

Tem quem ache correto comemorar a piora nas condições de luta para os trabalhadores do mundo. E claro, tem quem estuda economia política marxista!