Não repetir velhos erros para novos desafios

IGOR GRABOIS Não repetir velhos erros para novos desafios redes sociais
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A operação digital mais bem sucedida da extrema-direita na eleição passada foi o fechamento da bolha da esquerda. Não estou falando do fechamento dos eleitores do capitão tresloucado em uma bolha. Estou falando do isolamento do campo da esquerda em si próprio nas redes sociais e com isso cortar qualquer possibilidade de ação sobre o eleitorado flutuante do Bozo.

Houve um meme, com a imagem de um rapaz com jeitão de boxeur, que dizia “se você for eleitor do Bolsonaro, me exclua”. Vi muita gente experiente compartilhando o tal meme. Depois veio a onda do pobre de direita – essa onda ainda não passou, meus sais – recitando a infeliz frase atribuída ao Tim Maia. E outras armadilhas digitais em que o pessoal entrava com convicção.

Provavelmente, tais memes e chistes foram plantados pela máquina que apoiou a candidatura do inominável. Houve contribuição do nosso campo também. Na greve dos caminhoneiros, a esquerda entrou em um debate cacofônico se a greve dos caminhoneiros era lockout ou greve, enquanto a polícia rodoviária recolhia números para grupos de WhatsApp. Jogou-se um importante segmento social no colo do Bolsonaro.

O fechamento foi tão bem feito que muitas pessoas acreditaram na sua bolha do Facebook, enxergando vitória da esquerda até no primeiro turno.

A desarticulação nas redes é reflexo de uma desarticulação em geral. Partidos e sindicatos têm tido muitas dificuldades de traçar uma linha política clara e de mobilizar em torno de bandeiras unificadas. Não cabe aprofundar as razões dessa situação nesse texto. Mas a desorientação política contribui para a terra de ninguém, as intermináveis tretas, as lacrações, as discussões que resvalam em um bizantinismo absurdo nas redes.

Apesar de todas as possibilidades de comunicação e de ação humana que a internet possibilita, ela se apresenta como um terreno minado para as forças progressistas. O mando de campo é dos monopólios, que andam de mãos dadas com o governo estadunidense.

Essa é a arena real, apesar de todas as dificuldades. E temos que fazer nessa arena o que sempre fizemos de melhor: política. Não é boa política decretar que 30% dos brasileiros são bolsonaristas, fascistas ou coisa que o valha, quando não sabemos sequer se atingimos 70% com as nossas inquietações.

O que vai fazer a gente avançar na luta contra o fascismo não é saber o CPF da Damares. É ter bandeiras de luta claras, mobilizadoras, tratar os nossos veículos na rede como organizadores coletivos. Às claras, com nome, programa, organização, que não precisam ser um só, pois unidade se constrói na luta. Em 2013, muitos seguiram orientações vindas de um site fantasmagórico. Que isso não se repita.

Depois de muito tempo, a rede de ódio da extrema-direita brasileira foi pra defensiva. Na rede e na rua. A política de Bolsonaro-Guedes foi desmascarada para grande parte do povo brasileiro. É real a possibilidade de surgir um grande movimento de massas, com mais parentesco com as Diretas já do que com as jornadas de junho. Não podemos deixar o bonde passar.