O comício de Geraldo Alckmin no Roda Viva

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O ex-governador Geraldo Alckmin é o pré-candidato à presidência da república pelo PSDB e foi o convidado do Roda Viva desta semana. DISPARADA, neste espaço, cobrirá todas as entrevistas da série com os pré-candidatos.

O texto será mais curto que de costume. A entrevista com Geraldo Alckmin foi sem dúvida a pior da série. Os entrevistadores pareciam embebecidos de Rivotril. Calmos, serenos e amansados. Nem pareciam os rotweilers do “Estado Liberal”, lutando contra a comunista Manuela D’avila semanas atrás. Não houve réplicas, não houve interpelações. Alckmin estava em um comício.

Alckmin fala devagar, de forma professoral e cordial. Cita sua Pindamonhangaba a todo custo, provavelmente tentado vincular sua imagem ao homem interiorano, pensando assim conquistar os setores sertanejos, tão reticentes com sua fórmula paulista. É um político muito mais habilidoso do que o derrotado por Lula em 2006.

O governador parece ter vergonha de seu partido. Talvez porque em recentes pesquisas, internas e externas, o PSDB tenha aparecido como a agremiação mais rejeitada do Brasil. Obviamente não foi questionado sobre isso, mas a gancho de sua preocupação, ressaltou que “não acreditava na fulanização do voto” e complementou “o Brasileiro certamente votará em pessoas, não em partidos”.

Diferente disso, no bloco seguinte, quando questionado sobre a aliança com Valdemar Costa Neto, disse fazer acordos “com partidos e não pessoas”. Ninguém notou a ambiguidade. O remédio afeta a memória recente.

O ex-governador defendeu abertamente os presos de seu governo. Disse inclusive acreditar na inocência do diretor da DERSA, Laurence Casagrande, enrolado até as barbas com superfaturamentos no rodoanel. É digno defender os seus. Indigno é a bancada não apontar a contradição entre o que ele pregava enquanto opositor e o que ele faz enquanto político. Diferente disso, os entrevistadores deixaram o candidato transcorrer horas sobre seus feitos nos “rodoaneis” e a disposição das grandes rochas de São Paulo. Parece exagero de tão esdrúxulo.

Muito vagamente foi perguntado sobre Aécio Neves, onde repetiu a fórmula do “está sendo processado e não há condenação”. Ninguém perguntou da grana do Joesley, ninguém criticou o moralismo seletivo. O remédio parecia entorpecer os participantes. Até o apresentador Ricardo Lessa parecia meio sonolento. No futebol, seria um “juiz caseiro”

Diferentemente das entrevistas anteriores que andou dando, o ex-governador não amansou para os sindicatos e para os trabalhadores. Defendeu integralmente o desmonte da CLT, que chamou de “antiquada, da década de 40”. Além disso, defendeu a regulamentação dos sindicatos, numa postura que remonta exatamente os “anos 40”. Mais especificamente, os da Itália.

Geraldo Alckmin é um homem do governo. Há de se respeitar: um dos poucos que ainda defendem a pauta do governista sem ressalvas. Defenderia inclusive Parente, se alguém tivesse a brilhante ideia de perguntar ao candidato tucano sobre as lambanças do diretor da Petrobras historicamente ligado ao seu partido. Esqueceram.

O programa de hoje, se mostrado em sequencia com as sabatinas anteriores, é a síntese do servilismo de parte da mídia brasileira com o tucanato. Não é novidade e chega a ser clichê, mas assusta. É uma doença que deve ser tratada urgentemente. Se for pelo médico Alckmin, com muito rivotril.