O Estado versus o Novo Coronavírus

Soldados e médicos chineses cavalgando na neve em direção à região remota das montanhas Altai para levar tratamento e informações para prevenção contra o coronavírus.
Soldados e médicos chineses cavalgando na neve em direção à região remota das montanhas Altai para levar tratamento e informações para prevenção contra o coronavírus.
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Não adianta espernear, meus amigos liberais tupiniquins, será o Estado nacional quem vai enfrentar mais um grande problema global. O mercado, o Deus que tudo vê e tudo regula; a mão invisível da meritocracia está se dissolvendo com a mesma velocidade que um cubo de gelo no verão carioca. A olhos nus vemos todo e qualquer princípio e simbologia liberal – ou neoliberal, como queiram – serem violentamente destruídos, sem qualquer possibilidade de reação. Ademais, o pilar desse novo enfrentamento é a solidariedade, é a ideia de que cada indivíduo só existe na comunidade e não fora dela, o ideário individualista é inimigo da saúde pública.

No mundo, o governo dos Estados Unidos da América, o mais capitalista e global país da atualidade – para ninguém ter dúvidas -, já anunciou o cancelamento de voos e um investimento de 700 bilhões, com B de Bola, de dólares em títulos para garantir o mínimo de sobrevivência de sua economia. Sem pestanejar, Donald Trump, presidente norte-americano, comemorou essa decisão do FED (Federal Reserve) e a de cortar à ZERO os juros no país. Por último, o governo norte-americano anunciou nessa data que irá enviar cheques aos cidadãos para ajudar a aliviar danos econômicos. Enquanto isso, o Estado chinês, origem do Novo Coronavírus, já visualiza horizonte para além da crise e começa exportar materiais e profissionais para países em situação delicada, como, por exemplo, a Itália. Como que a China conseguiu enfrentar tão rapidamente? Com isolamento impositivo, soberania na produção de medicamentos – com muito investimento em ciência, tecnologia e inovação ao longo das últimas décadas -, construção de hospitais por todo o país e uma compreensão profunda dos profissionais de saúde do papel deles na defesa do próprio país. A Coréia do Sul, é também exemplo de reação à pandemia, quando eram apenas algumas centenas de casos, segundo a Organização Mundial de Saúde, a OMS, o prefeito de Daegu, cidade do primeiro foco, afirmou que vivíamos em uma “crise sem precedentes” e pediu a todos os moradores que ficassem em casa; ambientes de confraternização social foram fechados; e, em vez de esperar os pacientes procurarem o sistema de saúde, o Estado sul-coreano foi até os seus cidadãos e o país já realiza, há semanas, 15.000 exames diários para mapear o Novo Coronavírus

Na Europa, o novo epicentro da pandemia, além do fechamento das fronteiras, a França decidiu endurecer na circulação de pessoas em espaços públicos impondo pesada multa para quem desobedecer, anunciou a suspensão do segundo turno da eleição subnacional, suspendeu todas as reformas – incluindo a do sistema de pensões – e disponibilizou 300 bilhões de euros para as empresas reagendarem os seus pagamentos. Há pouco, anunciaram a anistia das contas de água, luz e aluguel. Para o Presidente francês, Emmanuel Macron, “estamos em guerra”.

Na Espanha, onde nesta terça, 17 de março, o número de mortos subiu para 491 e já são mais de 11 mil casos – eram 9 mil até está segunda-feira, 16 de março -, o Estado está intervindo nos hospitais privados para garantir o atendimento à população espanhola. Além de um forte isolamento, com a polícia na rua mandando os cidadãos voltarem para a casa, a Itália, que junto com o Irã são as nações que atualmente estão mais sofrendo com o Nova Coronavírus, irá nacionalizar a companhia área Alitalia que enfrenta dificuldade financeira há anos e está beirando o colapso por causa da pandemia. Com mais de 2 mil mortos em poucas semanas e seu sistema de saúde tendo que escolher quem salva e quem sacrifica, o Estado italiano anunciou o aumento do déficit orçamental em 2020 para investir 10 bilhões de euros na economia.

No Brasil, depois de passarmos semanas preciosas assistindo manifestações populares e discutindo a seriedade da pandemia, inclusive com ações que caracterizam crime de responsabilidade por parte do próprio Presidente da República, Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde e da Economia começaram a se mexer. O ministro da economia, Paulo Guedes, anunciou nesta segunda-feira, 16 de março, que irá injetar até R$ 147, 3 bilhões nos próximos três meses. Segundo o próprio ministro, a maior parte dos recursos vem de remanejamentos, linhas de crédito e antecipação de receita, assim não comprometendo “o espaço fiscal no Orçamento”. As principais medidas são baseadas no consumo, elas abordam a antecipação para aposentados e pensionistas do INSS no total de 46 bilhões de reais, divididos entre os meses de maio e abril; e os abonos, total de 12 bilhões de reais para junho. Por fim, o ministro reafirmou que a agenda de venda de patrimônio e desmonte do Estado brasileiro deve continuar como forma de enfrentar o Novo Coronavírus. Como podemos perceber, não há aumento no investimento público é mera reorganização orçamentária dos gastos já planejados e arrochados.

Perdão pela dureza, mas nesse momento de preocupação não podemos nos furtar de formular nossa opinião com a contundência necessária. Qual a lógica de desmontar o Estado brasileiro para enfrentar a pandemia? É nítido o oportunismo barato daqueles que nos governam. Querem aproveitar o desespero da nação, muito pela inércia e irresponsabilidade dos nossos governantes, para continuarem com a política de desconstruir a soberania nacional e todo o aparato estatal para que poucos continuem ganhando muito dinheiro. O Brasil, como mostra o texto, está indo completamente na contramão do mundo e das experiências exitosas no enfrentamento da pandemia, a crueldade e o descompromisso daqueles que defendem essa agenda de iniciativas, formulada um ano antes do problema global, são gritantes.

Soldados e médicos chineses cavalgando na neve em direção à região remota das montanhas Altai para levar tratamento e informações para prevenção contra o coronavírus.
Soldados e médicos chineses cavalgando na neve em direção à região remota das montanhas Altai para levar tratamento e informações para prevenção contra o coronavírus.