O negacionismo estrutural aplicado à pandemia

O comportamento do presidente Bolsonaro ao longo da pandemia pode ser compreendido pelo conceito de negacionismo estrutural. Base do trumpismo, ele funciona como uma estratégia informacional de enraizamento da cultura política autoritária e fidelização do eleitorado reacionário.
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O comportamento do presidente Bolsonaro ao longo da pandemia pode ser compreendido pelo conceito de negacionismo estrutural. Base do trumpismo, ele funciona como uma estratégia informacional de enraizamento da cultura política autoritária e fidelização do eleitorado reacionário.

As teorias conspiratórias que propagam a mentira, explorando medos e ódio aos “inimigos do povo”, objetivam encapsular o público reacionário em uma realidade paralela e imunizar o demagogo contra as más notícias produzidas pela imprensa, pela ciência e pela academia. Isolando o público reacionário do circuito informacional racional-legal, o negacionismo estrutural pretende blindar a popularidade do populista (“o bem”), eximindo-o da responsabilidade por seu péssimo desempenho e atribuí-los a outros agentes, identificados com “o mal”.

No campo específico da saúde pública, o negacionismo serve para negar que a pandemia seja algo de grave ou que tenha alguma coisa a ver com a morte de 250 mil pessoas. É “necropolítica”, porque para ele salvar vidas com medidas sanitárias responsáveis importa menos do que sua própria sobrevivência política à pandemia. Por isso Bolsonaro aposta no individualismo antissocial da população para que siga a vida como se nada acontecesse e se enfurece, sempre que prefeitos e governadores decretam medidas sanitárias restritivas. Porque essas decretações assinalam a gravidade do que está ocorrendo e põem a nu sua inação homicida.

Bolsonaro adota então uma estratégia dupla para deslocar o foco de seu comportamento culposo. Primeiro, ele se exime de qualquer responsabilidade sobre a coordenação do combate à pandemia, ou diz que está fazendo sua parte, ou que é vítima de um complô da mídia e de seus outros inimigos. Depois ele contra-ataca, acusando prefeitos e governadores de restringirem ilegalmente liberdades civis e incitando a desobediência civil. É nesse sentido que ele favorece a distribuição de armas, que é para alimentar a esperança de que o “povo” reacionário possa sempre, quando precisar, resistir à opressão.

É assim que funciona. Agora é preciso ver como deve ser combatido.

Por: Christian Edward Cyril Lynch.