De novo – O que é ‘identitarismo’?

A palavra 'identitarismo' ficou muito imprestável para ser usada. Em parte por causa de identitários que, propositalmente, tratam qualquer crítica ao identitarismo como uma crítica a movimentos por direitos de minorias. Mas movimentos de minorias podem ser identitários ou não, assim como movimentos de maiorias.
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A palavra ‘identitarismo’ ficou muito imprestável para ser usada. Em parte por causa de identitários que, propositalmente, tratam qualquer crítica ao identitarismo como uma crítica a movimentos por direitos de minorias. Mas movimentos de minorias podem ser identitários ou não, assim como movimentos de maiorias.

Não é difícil entender o que é identitarismo, basta ver onde o nome surgiu, na Europa. Lá ele é aplicado a movimentos de extrema-direita de identidade europeia. Eles defendem a cultura e direitos hegemônicos de “povos originários” da região, como o nórdico que matou dezenas de jovens na reunião da juventude do partido trabalhista norueguês. O caso clássico de movimento identitário europeu é o nazismo, que defendia a superioridade e direitos de uma “raça” mítica supostamente origem do povo alemão, a “raça ariana”.

O que caracteriza um movimento identitário, portanto, é a negação do princípio de direitos universais de qualquer membro da espécie humana e do princípio de natureza humana, e a afirmação de um grupo de identidade como essencialmente diferente de outros seres humanos com direitos únicos e exclusivos.

Fica fácil ver porque Luther King por exemplo lutava pelos direitos dos negros e não era identitário, muito pelo contrário, lutava por eles na base da universalidade, por terem todos, negros e brancos e miscigenados, a mesma essência que garantia os mesmos direitos.

O bolsonarismo e o trumpismo são a paródia de movimentos identitários de maiorias, como a finada KKK, mas temos que admitir que o trumpismo tem essas características muito mais afloradas, pela natureza mais claramente racial das divisões culturais e econômicas na sociedade norte-americana.

Por isso não tem choro nem vela: pós-moderno, relativista, que denuncia o próprio conceito de natureza humana e defende uma pureza reacionária de culturas originárias de “raças” que são na verdade construções sociais, vendo nas outras identidades inimigas e opressoras que precisam ser derrotadas, é identitário. I-DEN-TI-TÁ-RIO.

Isso aí, no Brasil, sempre vai ter voto para eleger uns três vereadores em grandes capitais, mas, por definição, nunca, nunca elegerá ninguém em eleição majoritária, a não ser que, como Bolsonaro, seja um identitário de maiorias.