O que se pode esperar da oposição?

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Recentes movimentações da oposição davam como certa que os que avaliavam o governo como regular o desaprovavam, apontando como provável o apeamento de Bolsonaro do poder.

Essas avaliações partem de pressupostos mágicos, como se num estalar de dedos houvesse ajustamento da realidade aos nossos desejos.

Paralelamente à expectativa mágica, duas hipóteses podem explicar a consolidação dos índices de aprovação de Bolsonaro em torno de 25% do eleitorado:

(1) programas do BNDES que injetam dinheiro subsidiado nas empresas, seja financiando a folha de pagamento seja o capital de giro; e
(2) os R$600,00 disponíveis à parcela considerável da população.

Subsidiariamente, há tendência por estabilidade por parte do cidadão comum, que pleiteia por planejar sua vida e de sua família, alheias aos sobressaltos provenientes da vida pública, que desautorizaria “confusões políticas”, que alternariam eleições e impedimentos do mandato presidencial.

A confluência dessas duas posições explica os índices de aprovação de Bolsonaro (25%) e de seu governo (41%).

A oposição, no entanto, falha muito.

Falha por associar suas posições à instabilidade, como no caso dos diversos pedidos de impeachment, ao invés de construir projeto político que transmita à população expectativa de melhoria de vida. Numa palavra, projeto político que denote esperança de dias melhores ao povo que está a sofrer tanto em tão pouco tempo.

Permito-me tomar como exemplo de descolamento da realidade a última entrevista da presidente do PT ao UOL, Deputada Gleisi Hoffmann, em que ela afirma que pretende impedir os mandatos do presidente e do vice-presidente e convocar novas eleições.

Reparem no seguinte: essa proposta sugere cassação da chapa eleita pelo Tribunal Superior Eleitoral, com as consequentes e previsíveis reações do bolsonarismo, com manifestações de rua, conflagrações favoráveis e contrárias, por óbvio.

Isso tudo em ambiente de colapso da atividade econômica e de desemprego, além do pânico causado com o número crescente de mortes causados pela COVID-19, estimados em algo como 130 mil óbitos no Brasil.

Então, não pode ser desconsiderada a opção legítima dos cidadãos pelo “ruim com ele, pior sem ele”, em que o governo Bolsonaro seria o “ele”.

Nesse contexto de colapso da atividade econômica, os Estados governados pela oposição (Ceará e Bahia, por exemplo) e por bolsonaristas (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) tomaram a mesma medida de reativação da atividade econômica, mitigando a orientação sanitária por isolamento social, validando, ainda que parcialmente, a posição de Bolsonaro e de seu governo quanto ao Covid-19, o que na prática significa que, no poder, não há diferenças entre governo e oposição.

Particularmente, tenho as seguintes expectativas:

(I) que o Presidente Lula compreenda que suas muitas dores, pessoais e políticas, não podem se projetar como sombra que circunscreve a atuação do Partido dos Trabalhadores;
(II) que o Partido dos Trabalhadores mude sua órbita de poder das regiões Sudeste e Sul para o Nordeste, fazendo coincidir poder no partido com soberania popular;
(III) que Ciro Gomes transponha sua enorme experiência para sua performance pública, evitando posturas que dificultem alianças políticas;
(IV) que todos compreendamos que o tamanho de nossa derrota política não se esgota com o fracasso pessoal de Bolsonaro e que os “valores” do bolsonarismo ainda se constituem como a maior força política brasileira;
(V) que não confundamos a vida e as aspirações das burocracias partidárias, das elites dos servidores públicos (do Congresso Nacional, do Judiciário e do Ministério Público etc.) e das classes A e B com as do povo pobre do Brasil;
(VI) que as oposições substituam o fazer política por afetos e por empatia por fazer política em torno de projetos; e que, enfim,
(VII) a oposição se constitua como força política capaz de conduzir os cidadãos com segurança para dias melhores.