Olga Benário e Getúlio Vargas

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A não ser que você seja doente, a morte e a violência são algo para se lamentar. Quando defendemos a revolução armada – e o fazemos quando as condições assim impõe – o fazemos com o coração pesado, cientes da que nenhuma violência jamais poderá ser justificada. A guerra revolucionária é uma triste imposição da história e não algo para ser comemorado.

A guerra impõe sua lógica implacavelmente. O Príncipe não tem o luxo de poder salvar sua alma. Sua responsabilidade é inescapável. Quando erra, seus familiares, amigos e camaradas pagam com a própria vida.

Em toda conjuntura dos anos 20 e 30, o PCB e suas principais lideranças foram incapazes de entender o Brasil. Não conseguiram fazer a ruptura promovida pelo PC russo, que rompeu com o PC alemão para compreender o próprio país e assim abrir a possibilidade para as condições subjetivas da própria Revolução. Com a cabeça fora do país, o PCB julgou mal a correlação de forças e cometeu erro atrás de erro. O primeiro e talvez mais custoso tenha sido a recusa do comando das tropas revolucionárias por Prestes ainda em 1930. Até hoje amargamos o preço desse cisma.

A intentona de 1935 foi o erro derradeiro naquela conjuntura. Essa briga fratricida sepultou definitivamente qualquer possibilidade de uma aliança popular naquele período e ainda lançou as bases do ocidentalismo em nossas Forças Armadas, parte do golpe 1945.

Por que Getúlio não destruiu São Paulo em 1932? Por que não pegou o território do estado que é o verdadeiro cordão umbilical com o imperialismo e dividiu entre os demais estados, dando um pedaço para Minas, outro para o Paraná e um terceiro para RJ? Porque não tinha correlação de forças!

O Brasil é um país permanentemente tensionado pelo imperialismo, sempre a ponto de balcanizar-se. E é exatamente isso que o imperialismo quer: dividir-nos em pequenos países fracos e desindustrializados. Getúlio entendia o Brasil, sabia o que era a questão regional.

Se Getúlio não podia fazer isso com São Paulo, o que poderia ter feito contra os traidores que acabaram de tentar derrubá-lo? Deveria ter tentado barrar a extradição de uma espiã estrangeira, feita pelo STF? O erro de Prestes não custou somente a vida de muitos brasileiros e a também a vida de Olga. Custou nossa aproximação com os Estados Unidos e a ruptura com a URSS, custou uma aliança no campo popular que poderia ter mudado a história do Brasil para sempre.

Não se enganem. Olga é uma heroína do Brasil, de nossa luta popular, assim como Prestes. Suas falhas fazem parte do longo acúmulo de autoconhecimento do Brasil em sua luta anti-imperialista. Em um sentido semelhante, os foquistas dos anos 60-70 também fazem parte desse longo acúmulo. O PCB dos anos 50 e 60 entendeu isso e em diversas ocasiões apoiou os trabalhistas. Partilhamos figuras icônicas da esquerda brasileira, como Ignácio Rangel. Quadros tanto do PCB como da POLOP entraram no PDT depois da redemocratização.

Não estamos nos anos 30, nem em 40 e muito menos em 50. Estamos em 2019, o ano seguinte da sabotagem petista a Ciro Gomes, que sacrificou o país para manter a hegemonia sob a esquerda de um partido que, com muito elogio, pode ser classificado como “neoliberal de esquerda”. O PT teme a volta do trabalhismo, pois sabe que significaria o fim de sua liderança, o que ameaçaria até mesmo sua frágil coesão interna.

A recente ascensão do trabalhismo nas ruas e nas redes sociais atemoriza os petistas. Sabendo disso ou não, partidos que acabam em sua órbita de influência são terceirizados em um conflito para a manutenção da hegemonia desse liberalismo de esquerda. A celeuma na internet nos últimos dias a respeito da memória do sacrifício último de Getúlio Vargas pelos Trabalhadores do Brasil é parte disso.

Se queremos honrar a memória daqueles que lutaram pelo Brasil, precisamos aprender com seus acertos e erros. Precisamos pensar o Brasil a partir do Brasil estrategicamente. Do contrário, aqueles que deveriam ser aliados vão se ver mais uma vez nos lados opostos da trincheira.