Para onde vai o PT?

Diante desse cenário, não é de se estranhar o crescimento de uma extrema direita salvacionista. O estelionato eleitoral de 2014 tem - um século depois - efeito semelhante ao do tratado de Versalhes. Keynes o examinou de forma brilhante. Precisamos fazer o mesmo com o que ocorreu há meia década. Até porque a crise atinge não apenas o PT, mas toda a esquerda brasileira, com nefastas consequências para o nosso povo.

Por Gilberto Maringoni – Recomendo enfaticamente a leitura deste artigo de Rudá Ricci sobre o PT realmente existente. AVISO: ele nada tem de antipetista, pensamento em geral direitista.

Depois de vencer quatro eleições presidenciais seguidas e de comandar governos com alguns programas sociais que não tocaram na ordem neoliberal – Lula nunca quis constitucionalizá-los – a agremiação ganhou uma popularidade inédita na história brasileira.

Ao mesmo tempo, ao ser pressionado por parte de seus financiadores – o capital financeiro -, o PT decidiu produzir uma recessão brutal. O objetivo de iniciativas desse tipo sempre é – Kalecki nos ensina há 80 anos – aumentar o desemprego e reduzir o preço da força de trabalho.

O estelionato eleitoral de 2014-16 é algo que a agremiação não explica até hoje. Um partido desenvolvimentista jamais cometeria a loucura de aderir completamente aos pressupostos que dizia combater. Ainda mais se o custo é romper com uma base social, construída ao longo de três décadas de duro trabalho. Ali o PT decidiu serrar o galho da árvore sobre o qual estava assentado.

Ricci examina a legenda que sai dessa situação. Está sem rumo, deixou de ser portadora da novidade e vive resignada a propagar glórias de um passado idealizado e de sempre se colocar como vítima de uma situação que ajudou a construir. O desempenho pífio nas pesquisas eleitorais é expressão de opções tomadas em anos recentes.

Claro que muitos militantes e simpatizantes alegarão a ferocidade da direita. Sim, ela é determinante. Mas também é inexplicável o fato de a direção petista e seus governos terem fortalecido suas diversas ramificações ao ajudar a tirar a Globo de uma crise profunda em 2003-05, ao nomear a maioria dos ministros do STF, ao manter durante todo o tempo as mais altas taxas de juros do planeta, ao dar força à direita militar com a intervenção no Haiti e ao se negar a impulsionar mudanças na Lei de Anistia e na democratização das comunicações.

Diante desse cenário, não é de se estranhar o crescimento de uma extrema direita salvacionista. O estelionato eleitoral de 2014 tem – um século depois – efeito semelhante ao do tratado de Versalhes. Keynes o examinou de forma brilhante. Precisamos fazer o mesmo com o que ocorreu há meia década. Até porque a crise atinge não apenas o PT, mas toda a esquerda brasileira, com nefastas consequências para o nosso povo.

É preciso debater com a razão e a política no posto de comando, evitando sectarismos estéreis.

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