O dilema de Bolsonaro na política de preços da Petrobras

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O ”dilema” que Jair Bozó enfrenta na Petrobras é um que só existe mesmo no mundinho liberal em que os brasileiros estão presos por causa de uma política nefasta que foi implementada em toda a Nova República.

Chegamos ao ponto de a principal estatal estratégica do país, símbolo do nosso projeto nacional, não poder definir mais o preço do diesel na bomba sem levantar grita generalizada.

De um lado, Bozó sabe que se deixar o reajuste dos combustíveis correr ao sabor dos preços internacionais, a economia brasileira colapsa, e também sua popularidade. Mas se intervir no preço estabelecido pela Petrobras, o ”mercado” chia, e os acionistas da empresa se unem aos jornalistas liberais encastelados na grande mídia pra pedirem a privatização da gigante.

Existem muitos erros nessa questão, e um deles o fato óbvio que exportarmos óleo cru pra comprarmos combustíveis: é não só uma burrice pra nossas contas externas, que compromete por vez todo o restante da economia e de nossas expectativas de crescimento a médio prazo, é não apenas uma subordinação do país ao ”mercado internacional” e a preços que não controlamos, mas também a expressão de uma falta completa de política industrial que mire num plano autônomo e soberano de desenvolvimento.

O que passa batido, no entanto, é o fato da Petrobras hoje ter apenas 40% de seu capital nas mãos do Estado. Fernando Henrique Cardoso pulverizou as ações da empresa na Bolsa, e hoje esses acionistas dobram a empresa a uma perspectiva privada, que visa lucro a curto prazo.

A Petrobrás deixa, inclusive, de realizar a diversificação de investimentos necessária à sua sobrevivência e crescimento em um mundo em que combustíveis fósseis vão representar um proporção cada vez menor na geração de energia.

Pra resolver a questão, um governo verdadeiramente nacionalista tem de fugir da camisa de força de opções liberais que a mídia e os agentes do ”mercado” querem impor ao Estado. Claro que o Reino não será capaz de fazer nada parecido, já que sua visão de Brasil é submissa aos interesses financeiros. O incômodo de Jair Bozó com o reajuste da economia tem razões na política-partidária mais imediata e prática possível, o cuidado com sua base eleitoral e com as possíveis crises de um governo já claudicante.

Mas a questão deve ser enfrentada com as medidas mais duras possíveis, dentre as quais se impõe a reestatização da Petrobrás. A situação atual é emblema exato da subordinação do país ao privatismo, ao rentismo, ao capitalismo internacional, e da sabotagem de nosso projeto nacional a partir de forças internas, verdadeiras quinta-colunas que devem ser fragilizadas e, se possível, reduzidas ao silêncio no debate político pátrio.

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A questão da Petrobras mostra de que lado está realmente a grade mídia nesses dias de enfrentamento e de encruzilhada por quais o país passa. São liberais [tanto nos costumes quando na economia] acordando para o fato de que elegeram não só um incompetente como também um picareta.

O veto de Jair Bozó ao aumento do diesel não está, em princípio, equivocado. A grande mídia é que tem de fazê-lo parecer assim, em seu afinco ideológico contra a empresa e contra o Brasil.

O veto do governo é, pelo contrário, insuficiente. Ele, por si só, não resolve a questão, só a empurra com a barriga. Abrir a boca para proclamar um ”não” pontual passa longe de enfrentar o verdadeiro dilema. O governo deveria revogar a política de preços que vigora na Petrobrás desde o fim do governo Dilma. Tem de reestatizar a empresa. E tem de empreender uma política industrial que nos torne produtores de combustíveis, em vez de importadores.

Nada disso será feito por Bozó. Ele não está interessado em resolver problema algum do país, porque sequer os enxerga de maneira correta. Se é que ele vê qualquer coisa que seja a partir daquela bolha ianque-sionista em que está preso.

Por André Luiz Dos Reis